Paulo Zifum
–Muito obrigada. Você tem sido muito gentil –disse a cliente para sua costureira
–Eu? Você é que tem sido muito amorosa –respondeu Lia, completando –Lembra quando fiquei doente e você me trouxe uma sopa? Nunca esquecerei. Quando olhei para os legumes cortados e cubinhos pequenos, fiquei emocionada. Minha vida agitada com casa, trabalho e filhos, não permitia fazer uma sopa assim. Sempre joguei cenouras e batatas quase inteiras, sempre correndo. Muito obrigado pelo carinho.
O costume de levar um prato de comida, de modo voluntário, é um gesto lindo. Diversos momentos, pessoas pobres ou ricas, precisam desse gesto. Comer algo preparado ou comprado por alguém que pensou em você é especial. Seja um panetone, uma fruta, um pedaço de torta, uma sopa ou um resto de bolo, é precioso. A pessoa aparece com aquela carinha de anjo e diz: lembrei-me de você! Não tem preço!
Você pode comprar, mandar fazer e buscar, porém, nada pode ser comparado com a beleza de receber um pedaço de amor. Depois que comemos, ficamos ali, pensando no momento em que alguém lembrou de nós, imaginamos o processo de fazer, embrulhar e trazer um pouco de comida. E fica mais cativante quando é uma coisa simples, como guardar um pedaço de pizza ou um bombom. A humanidade ainda tem lampejos de seu estado original. Como diria Calvino: “é a graça comum”. A prática dessa bondade quebra o mundo duro e surpreende nossos corações carentes de valores que não sejam materiais.