Pr. Jucimar Leite
A notícia do suicídio de mais um pastor cria discussões sobre os perigos da tarefa e até a vitimização do sujeito que é pastor. Eu sou pastor e sei o que é ser uma pessoa pública envolvida por expectativas muito altas. Sei como é a pressão social do resultado semelhante a do técnico e do jogador: você é tão bom quanto o seu último resultado. O pastor deve estar presente, ser respeitado pela maioria, manter boa relação com autoridades e pessoas de fora da igreja, fazer subir o número da congregação e da arrecadação, deve estudar e ter uma espécie de fogo interior para fazer orações fervorosas, e, além de tudo, ter uma família exemplar. Poucas profissões exigem tanto.
Mas… como ser pastor não é profissão e sim, vocação, precisamos achar um viés diferente para analisar esse “ser”.
Eu não aprecio que as pessoas defendam o trabalho pastoral com o discurso que vitimiza o pastor. Valorizar o pastor, dependendo da intenção, pode ser algo perigoso. Eugene Peterson defende que o adjetivo “pastor” deve ser forte, deve “rugir”, porém, o termo está enfraquecido e confuso em nossos dias.
Quando a tarefa pastoral é cooptada pelo corporativismo econômico impenitente, os pastores, como dizia Henry Nowen, passam a conspirar com o mundo escuro. E as doenças que atingem milhares de executivos na corrida pelo ouro, atingem o pastor de ovelhas que deveria estar lá no campo, afastado e protegido por um estilo de vida totalmente diverso dos workholics da cidade.
Não digo que pastores da cidade devam ficar debruçados em cima de uma cerca com um pedaço de capim na boca, mas que seu estilo de vida deve manter-se próximo da tarefa que lhe empresta a figura, isso deve. O pastor do campo, o original que cuida de ovelhas, é cheio de habilidades com forte senso de proteção e, por isso, corajoso. Por causa da tarefa torna-se metódico e ao mesmo tempo criativo. Mas, acima de tudo tranquilo. Isso mesmo, tranquilo, com adrenalina só de vez em quando numa ocorrência ou outra.
E por falar em ocorrência, é muito útil pensar no pastor como paramédico (no Brasil não temos essa profissão). O paramédico é aquele que presta socorro pré-hospitalar. É o primeiro a aparecer e a intervir, mas sua função é levar o paciente para o médico. O pastor é um tipo de paramédico, pois sua tarefa é levar suas ovelhas para Jesus, o Supremo Pastor. Já é um estresse muito grande a corrida pastoral de socorrer pessoas expostas ao pecado todos os dias, mas o pastor sabe para onde correr com as vítimas.
Eu sou pastor, mas não sou O Pastor. A Igreja tem pastores, mas apenas um é o grande Pastor. Quando o apóstolo Pedro diz que devemos “aguardar o Supremo Pastor se manifestar” (1Pe.5.2-3) ele lembra que quem cuida da Igreja de fato é Jesus, que está sempre fazendo algo que não podemos ver. Ele é quem “efetua tanto o querer como realizar” em sua Igreja (Fp.2.13).
Acho que para o bem da saúde dos pastores, todos devem lembrar disso: Você é e sempre será um pastor auxiliar, um paramédico. Jesus é quem sustenta, financia e gerencia sua obra na terra.
O pastor passa “lutas por fora” e “temores por dentro” (2Co 7.5). Sua tarefa é árdua e perigosa, mas não é sobre-humana, porém, passa a ser quando se deseja dar cabo do caos que é a vida social. Torna-se insano quando o sucesso terreno passa a ser o sentido do trabalho pastoral. O Senhor não obteve sucesso aparente em seus 3 anos de ministério pastoral e o seu fim não foi glorioso (leia o relato da perspectiva dos membros desanimados de Emáus -Lc.24).
Como todo equilíbrio pede: devemos aceitar os limites sábios de nossa vocação: pastor auxiliar. Não sou O Pastor. Apenas, honradamente, pastor.
Deus ajude as famílias de pastores que adoecem, que morrem por estresse e que até tiram a própria vida. Jesus, o Supremo Pastor, conforte as esposas que assistem seus maridos serem dilapidados num trabalho que não é deles. Deus ajude os pastores a voltarem ao campo onde o Senhor do Salmo os ensinará novamente a confiarem mais nele que em seus métodos.
“Quem, porém, é suficiente para estas coisas?” (2Co.2.16)