Paulo Zifum
Era uma vez um lar em apuros. Todos andavam tensos devido à escassez financeira. Não havia brigas feias, mas constantes rusgas. A filha adolescente chorava por causa de acnes em seu rosto. A esposa estava muito abatida por causa da casa faltando móveis e precisando urgente de reforma. O marido estava com saúde muito debilitada e a fábrica estava quase o mandando embora. Todos pareciam frustrados.
Certo dia foram surpreendidos. A campainha tocou e Pedro de 6 anos foi atender. Abriu e porta, olhou para os três visitantes e disparou correndo para dentro numa euforia inexplicável:
-Mãe, pai, corram aqui! Temos visitas!
-Quem é Pedro?
-Não sei, mas são muito elegantes!
Com o alarde do que pequeno, todos foram até a porta da sala. Ficaram também admirados com a beleza dos visitantes, e tanto, que sem perguntarem do que se tratava pediram que entrassem em meio às desculpas da casa humilde.
Um dos visitantes, o que estava de terno e sapatos brilhantes, estendeu a mão pedindo pausa:
-Prazer Sr. Pedro, Sra. Vanda, Srta. Helena e você pequeno Pedro. Deixe-me nos apresentar. Eu sou o Amor e essas são minhas amigas Fortuna e Saúde. Viemos aqui para lhes oferecer nossos presentes.
A mãe juntou as mãos, com os olhos brilhando e cheia de fé, disse:
-Por favor! Insisto que entrem e lhes servirei um chá à altura da dignidade de vocês.
O marido arregalou os olhos admirado com o tom e nível de fineza da esposa. A menina ainda estava desconfiada, mas Pedro já segurava a mão do distinto visitante que, interrompeu o convite:
-Não podemos nós três. Vocês precisam escolher um de nós para entrar e assim receber a benção escolhida.
-Isso não é justo! -resmungou baixinho Helena, já acreditando naquele ambiente mágico.
O pai, prudentemente, pediu aos visitantes que esperassem um pouco, e reuniu a família na cozinha. E nem perceberam o tanto de tempo que ficaram lá a discutir o assunto.
-Vamos pedir que a Fortuna entre -Disse o pai.
-Não! Vamos pedir que Saúde entre! -retrucou a mãe.
-Papai está certo, mãe! Com dinheiro a gente cuida até da saúde. -disse timidamente a adolescente.
– Mas, e o Amor? -perguntou a mãe.
-Querida. O que ele poderia nos dar agora?
Enquanto discutiam, não perceberam que Pedrinho já tinha se antecipado. Foi tão rápido que não deu tempo de correr e raptar o menino.
-Amor! Já decidimos! Queremos você! -disse a criança com ternura.
O pai tentou disfarçar o gesto de impedir o danado do menino, mas, já era tarde. O Amor entrava pela sala aos tropicões, arrastado pelo determinado anfitrião.
Sentados todos na pequena sala, a família em silêncio, esperando sabem lá o quê, olhavam para o Amor que se recompunha alinhando seu terno. Após isso, disse:
-Obrigado por me escolherem! -falou em tom sereno, e, logo em seguido bateu palmas.
Para surpresa da família, entraram na sala a Fortuna e a Saúde.
-Mas, mas, mas… você não disse que só poderiam entrar apenas um? -perguntou o pai.
A Fortuna bela e perfumada riu. Mas, foi a Saúde que explicou:
-Eu e a Fortuna estamos sempre entrando sozinhas, mas o Amor… ah! o Amor! Esse nobre cavalheiro só anda acompanhado! Fizeram a melhor escolha!