O DESPREZO DOS JOVENS

Paulo Zifum

Ninguém o despreze pelo fato de você ser jovem,
mas seja um exemplo para os fiéis na palavra,
no procedimento, no amor, na fé e na pureza. 
1 Timóteo 4:12.

O apóstolo Paulo foi o mentor de um jovem chamado Timóteo (At.16.1-3). Timóteo, que auxiliou Paulo em suas viagens missionárias, tornou-se um proeminente líder da Igreja. Timóteo, sendo jovem, com um temperamento tímido (2Tm.1.6-8) e a saúde um pouco fraca (1Tm.5.23), precisava de ser encorajado pelo apóstolo Paulo. Por isso, Paulo escreveu cartas para esse valoroso jovem.

Nessa cartas de instruções e encorajamento, destacamos o texto selecionado acima para tratar duas lições: a importância de valorizar os jovens e o esforço que todo jovem deve fazer para mostrar valor.

VALORIZE OS JOVENS (adultos positivos estimulam)
Paulo reconhece que o preconceito era uma realidade e que algumas pessoas tinham dificuldade de aceitar e respeitar a liderança de um bispo jovem. Portanto, orienta Timóteo a posicionar-se de modo que nao tenha “do que se envergonhar” (2Tm.2.15). E quando Paulo diz “ninguém o despreze”, está dando ao jovem seu apoio, pois Paulo mostrava constante admiração e confiança no jovem Timóteo. Os adultos, muitas vezes, são induzidos a desprezar os jovens por sua aparência e falta de experiência. Um exemplo clássico se deu com Jessé que, não fez questão de chamar Davi, o filho mais moço para apresentar-se ao profeta Samuel, e é muito provável que, mesmo que fosse chamado, Samuel o desprezasse devido a aparência dos irmãos mais velhos (1Sm.16.6). Davi foi desprezado por seu irmão Eliabe (1Sm.17.28-29). Mas “o Senhor não vê como vê o homem” (1Sm.1.7), e Paulo atentou para testemunho daquele jovem e viu “como vê o Senhor” e acreditou que aquele rapaz se tornaria um grande líder da Igreja. Não desprezar é ver o potencial daquilo que um jovem pode se tornar.

MOSTRE VALOR (jovens ativos se esforçam)
Ao tratar sobre posturas corretas com Timóteo, para insiste que esse se esforce para que “seu progresso seja evidente a todos” (1Tm.4.15). A preocupação de Paulo era que Timóteo se retraísse que parasse de crescer como muitos jovens que caíam na mediocridade. A vontade de Deus é que os postos de responsabilidade, conselho e liderança sejam assumidos pelos jovens. Mas, alguns sofrem com a timidez e falta-lhes coragem para enfrentar os desafios gigantes impostos pela vida social. Por isso, Paulo insiste em dizer que “Deus não nos deu espírito de covardia, mas de poder” (2Tm.1.7). Esse encorajamento para os jovens nos lembra quando Davi, sendo tão jovem incapaz de usar uma armadura, decidiu enfrentar Golias.

Os jovens podem desprezar a si mesmos com timidez e baixa autoestima. O “ninguém despreze” inclui o próprio jovem que pode se esquivar e fugir de seu papel social. Embora um jovem não deva ser sobrecarregado, esse pode apresentar-se, alistando-se como fez Davi (1Sm.17.32-17), não deixando ser considerado um “café com leite”. Infelizmente, alguns jovens atraem desprezo pela vida indolente, indiferente e egoísta que vivem, mas os jovens cristãos seguem a direção dada pela Palavra de Deus.

Para que ninguém despreze a juventude, Paulo orienta que os jovens tornem typos para os fiéis. Essa expressão grega usada por Paulo em 1Tm.4.12 significa padrão a ser seguido, um modelo para todos, de modo que o jovem obtenha respeito pelo comportamento exemplar. E para ser mais prático possível, Paulo elenca as áreas essenciais onde a sociedade precisa de typos: na palavra, no procedimento, no amor, na fé e na pureza. Jovens com linguagem sábia e sadia, são elogiados. O comportamento ético com pessoas, horários e dinheiro confere autoridade. Uma postura diaconal mostra amor ao servir e respeitar. Jovens que sabem orar invocando o socorro divino ou confiando na intervenção de Deus são notórios. E, Paulo termina sua lista dizendo que os jovens que vivem com boa consciência moral, sem nada a esconder, oferecem testemunho exemplar num mundo cheio de imoralidade.

Concluímos que a vontade de Deus é que os adultos sejam encorajadores, entendendo as deficiências dos jovens. E que os jovens aceitem os desafios de crescer em “estatura e graça diante de Deus e dos homens” (Lc.2.52).

COMO DAR UM BREVE TESTEMUNHO

Use o Salmo 23 como guia. Em seu testemunho, fale do Senhor, definindo sua relação com Ele. Declare sua segurança e conte os benefícios que Deus tem te concedido. Fale na dependência de Deus e não sobre feitos pessoais. Cuidado:é muito fácil se autopromover no testemunho.

O testemunho normalmente trata o passado e o presente, mas pode falar sobre o futuro também, como uma confissão pública de fé. Quando os perigos da vida nos cercam, podemos testemunhar as promessas de Deus. Ainda que tudo diga “não”, temos nele o “sim e o amém”. E afirmar que Deus está preparando, no final, uma festa de celebração, é uma declaração de fé.

O Salmo 23 desafia o cristão a ousar descrever na expressão “bondade e misericórdia” como será o curso da vida. E não apenas está vida, mas a expectativa de eternidade.

Para seus 15 anos

– Aslam, como você está grande! – É porque você está mais crescida, meu bem. – E você, não? – Eu, não. Mas, à medida que você for crescendo, eu parecerei maior ... Frase de As Crônicas de Nárnia.

Paulo Zifum

Querida sobrinha,
dedico à você um pensamento
das Crônicas de Nárnia de C. S. Lewis.

Você lembra quando Lúcia viu o Leão no lado oposto do caminho que seguiam e ela sentiu que ele queria que o seguissem? Ela disse ao grupo, mas ninguém além dela havia visto Aslam. Lúcia sentiu-se insegura de propor uma mudança de rota. Ao seguirem adiante, depois de dias de caminhada, parecia que estavam saindo das trevas e dos perigos, porém, descobriram estavam sem saída e tinham de voltar. Retornar era como um golpe desorientador, mas não tinham outra opção. Certa noite, no lugar em que estavam acampados, Lúcia foi despertada de um sono profundo com uma voz que em seu íntimo era conhecida. Conduzida por essa voz, Lúcia caminhou por entre as árvores sobrenaturais de Nárnia e, finalmente, encontra Aslam, o querido Leão. No diálogo que se segue entre os dois, Aslam mostra pacientemente que não apenas os companheiros de Lúcia erraram naquela manhã por não acreditarem nela, mas que a responsabilidade pela perda de tempo era dela também. Lúcia se admira muito disso que, diga-se de passagem, Aslam lhe mostrara apenas com o olhar, sem nem mesmo usar palavras.

Oh, Aslam, você acha que eu errei? Como é que eu… podia deixar os outros e vir sozinha encontrar-me com você? Não olhe para mim desse jeito… bem… de fato… talvez eu pudesse. Sei que com você eu não estaria sozinha. Mas ia adiantar alguma coisa?

Minha, amável sobrinha,
ao completar 15 anos, você está entrando num período empolgante onde precisará descobrir sozinha quem, de fato, você é. Deus vai sussurrar em seu coração o caminho, mas o desafio do convívio social será intenso quando você perceber que todos estão na direção errada. Suas convicções do que é ser uma mulher cristã, talvez, só cheguem depois de alguns anos perdendo tempo com a cultura secular. Qual menina de 15 anos não deseja identificar-se com seu tempo? Você vai sentir-se insegura num mundo que tensiona com o coletivismo. Hoje, em seu aniversário, desejo chamar sua atenção para a pergunta de Lúcia: “Mas, ia adiantar alguma coisa?”. Ela não acreditou que seguir sozinha na direção dada por Aslam seria o melhor para o grupo. Lúcia, embora tão jovem, havia entendido melhor que todos o mapa e o caminho a seguir. Como seu tio, acredito em sua comunhão com Deus e com sua Palavra e muitas vezes você me contou lindas experiências de “ouvir” essa voz quando criança. Mas agora, meu amorzinho, as coisas ficarão um pouco diferentes. Algumas decisões irão te afastar da maioria das meninas de sua idade e isso será desafiador. Seja firme, e acredite na vocação que Deus está te dando ao revelar-se a você somente. Sua fé de que encontrar com Cristo é o único meio de achar a saída das trevas, guiará muitos jovens que estão perdidos.

Com carinho,
Tio Zifum

UMA PAUSA

Paulo Zifum

Eu não sou o que eu devia ser.
Eu não sou o que eu quero ser.
Eu não sou o que eu espero ser.
Contudo,
Eu não sou o que eu costumava ser.
E, pela graça de Deus,
eu sou o que eu sou.
John Newton

Os cristãos recebem, de modo sobrenatural, um conforto essencial: a paz do ser. A canção de John Newton retrata a inquietação humana que, por mais realizada que possa ser uma pessoa, sempre haverá uma área malograda ou que nunca deveria ser desejada. “Há uma rachadura em tudo”, disse Leonardo Cohen, mas também, “por ela entrará a luz”. Essa luz é a graça de Cristo da qual John Newton cantou. Em Jesus somos “transformados de glória em glória” e podemos suspirar esse alento ao dizer: “não sou o que comstumava ser”. E ao perceber o bom trabalho que Deus está realizando em nós, entre uma forja e outra, podemos dar pausa nos ideiais de perfeição e somente agradecer.

O BRASIL ESPIRITUALMENTE

Lista das estruturas mais altas do mundo – Wikipédia, a enciclopédia livre

Paulo Zifum

Como entender o Brasil atual do ponto de vista espiritual? Alguns podem afirmar que o cenário político-social não tem nenhuma relação com o divino como acreditavam os povos da antiguidade, mas os cristãos insistem que a Bíblia, ao oferecer a perspectiva espiritual, mostra o que está por trás dos conflitos das nações e como Deus intervém na História. Um dos primeiros relatos bíblicos de uma divina intervenção nacional, encontramos em Babel:

Depois disseram: “Vamos construir uma cidade, com uma torre que alcance os céus. Assim nosso nome será famoso e não seremos espalhados pela face da terra”. O Senhor desceu para ver a cidade e a torre que os homens estavam construindo. E disse o Senhor: “Eles são um só povo e falam uma só língua, e começaram a construir isso. Em breve nada poderá impedir o que planejam fazer. Venham, desçamos e confundamos a língua que falam, para que não entendam mais uns aos outros”. Assim o Senhor os dispersou dali por toda a terra, e pararam de construir a cidade. Por isso foi chamada Babel, porque ali o Senhor confundiu a língua de todo o mundo. Dali o Senhor os espalhou por toda a terra. Gênesis 11:4-9

Note que Deus mantém o respeito pela autonomia e permite que as nações comecem suas cidades com suas leis, , tradições, símbolos, religiões, ideologias, políticas e culturas. E, não há nada de errado em edificar cidades distintas, O problema é que, por trás do desejo de “não ser espalhados”, havia o plano de concentrar poder e noteriedade. havia em Babel uma vaidade tribalista carregada de um sinergismo perigoso.¹ De certo que, tentar explicar as motivações da sociedade de Babel demandaria argumentos muito extensos, mas podemos fazer o principais destaques com o fim de obter discernimento espiritual do mundo a nosso redor.

Deus permite que reinos humanos sejam erguidos, mas intervém quando “a torre” rebelde e idólatra está para ser consolidada. Impérios hegemônicos caem ou são interrompidos ao demonstrarem obstinada vontade de colocar Deus fora da equação. Babel revela que Deus corrige nações, primeiro permitindo que executem seus planos autônomos, e se não forem capazes de perceber, por si mesmas, o erro de curso, Ele intervém. Talvez, alguém imagine Deus como um temperamental deus grego que não suporta ser preterido, mas o Deus da Bíblia, demonstra misericórdia ao impedir que os homens egoístas se tornem poderosos. A ainda que Deus permita quem um poder assombre outros como disciplina, não permitirá que tal poder se torne sem limites. Portanto, essa “sabotagem” divina, é um meio bondoso de devolver a sobriedade para as nações.

O Brasil tem suas “torres” rebeldes e a atual discórdia nacional, não é apenas uma luta do bem contra o mal. Deus está presente para tratar e mostrar o quanto os homens preferem a perfídia para vencerem a qualquer preço. Quem não vê os homens escondidos atrás de falsas virtudes para destruir o próximo sem justa causa. Não há justo, nem sequer um. Não há concórdia nem ideal comum. Somos um país dividido, incapazes de nos unir em torno da Constituição, que é nosso acordo de polis. Leis não ignoradas pelos construtores de uma torre muito rebelde. Esses construtores são autoridades de todas as ordens que foram impedidos de concluir seu projeto de nação, mas eles estão dispostos a fazer de tudo para retomar a obra incabada.

E, segundo a visão espiritual, há um impecilho que não é humano. Deus é o agente de desconstrução de torres de esquerda ou de direita. O que estamos assistindo é um desastre capaz de nos destruir como nação. E não há instância terrena que possa nos livrar da disciplina divina. A situação espiritual do Brasil só encontrará socorro em uma única instituição: a Igreja. Segundo a Bíblia (Mt.18.18-19), a Igreja pode entrar em audiência com o Soberano para confessar os pecados intencionais do Brasil. E essa “coluna e baluarte da verdade” (1Tm.3.15) não pode estar envolvida com os “negócios desta vida” (2Tm.24), contruindo torres também. A Igreja deve manter-se em seu papel profético exortando igualmente os lados que erigem suas torres. A Igreja, que representa o irromper de um reino dentro de reinos e invoca o único e verdadeiro governo de paz e justiça fundamentado em Jesus Cristo, não deve ser confundida com um partido humano.

Se a Igreja brasileira compreender claramente o estado espiritual do Brasil, irá contrapor-se aos “construtores de torres” sejam quais for e interceder cabalmente pela nação. O Brasil está espiritualmente sob disciplina. Repetir Babel parece um curso inevitável. Então, a intercessão, dever dos espirituais, deve ser feita com orações como convém e petições segundo as leis de Deus, para que os brasileiros abandonem as torres e se voltem a Cristo como o único salvador da nação.

¹ Essa união idealista foi replicada por várias nações no curso da História, como notamos claramente na República Romana ou na República Alemã do Terceiro Reich.

PREGADORES DO EVANGELHO

Opera Mundi: Hoje na História: 1851 - Morre pintor britânico William  Turner, precursor do Impressionismo

Paulo Zifum

“Agora, que farei eu aqui, diz o Senhor, visto ter sido o meu povo levado sem preço? Os seus tiranos sobre ele dão uivos, diz o Senhor; e o meu nome é blasfemado incessantemente todo o dia. Por isso, o meu povo saberá o meu nome; portanto, naquele dia, saberá que sou eu quem fala: Eis-me aqui. Que formosos são sobre os montes os pés do que anuncia as boas-novas, que faz ouvir a paz, que anuncia coisas boas, que faz ouvir a salvação, que diz a Sião: O teu Deus reina!” Isaías 52:5-7

Isaías profetizou que Jerusalém seria invadida pela Babilônia (Is.39), mas também revelou a libertação do cativeiro. O texto acima, parte de um bloco de profecias sobre a restauração da nação de Israel, traz a informação de que a nação de Israel havia sido entregue “por nada”, “sem preço”, o que indica que os caldeus não tinham direito ou legitimidade sobre o povo de “propriedade particular” de Deus (Ex.19.5-6). O cativeiro seria uma disciplina que viria sobre a nação que Deus prometia resgatar.

Porém, essa libertação cativeiro é uma profecia que, segundo Ridderbos, transcende “o retono de Judá da Babilônia; o que aconteceu foi apenas uma revelação provisória daquele reinado de Deus que atinge a sua perfeição apenas através de Cristo”.¹ Essa interpretação é confirmada pelo apóstolo Paulo que usa parte da profecia para o anúncio do Evangelho como a verdadeira libertação, não apenas de um povo, mas de todos os eleitos cativos de todas as nações (Rm.10.14-15).

Os “pés formosos” são os pregadores do Evangelho para Paulo, são os que anunciam libertação aos cativos pelo poder do nome de Jesus. A boa notícia sobre a vitória do Senhor sobre a morte e sua oferta de perdoar os pecados de todos que se renderem a Ele. Os mensageiros falam de uma paz superior, não provisória (Jo.14.27), mas a que “excede o entendimento” (Fp.4.7) e põe fim ao grande conflito entre o homem e Deus. O Evangelho traz a boa nova do cessar de uma guerra interna causada pelo poder do pecado e pela opressão das mentiras de Satanás.

A história abaixo ilustra essa sublime missão.

Era uma vez um pequeno condado chamado Maiork, construído nas colinas e protegido pelo impetuoso rio Enfron. O acesso para a cidade só podia ser feito pela ponte que os moradores batizaram de Elpis. Todas as casas, construídas nas encostas, ficavam de frente para a ponte, permitindo que a cidade fosse vigiada por todos. E sempre que um arauto do rei ou comitiva real surgia ao longe, do outro lado do rio, facilmente o condado se preparava adequadamente. Maiork era ordeira e pacífica, mas, com a morte dos sábios conselheiros de Maiork, a cidade passou a ser liderada por homens com pouca virtude que, além de não se importarem em fazer deferência para autoridades, também eram murmuradores. Depois de alguns anos, cheia de orgias e violência, os moradores já não respeitavam as leis do reino, manchando assim, a fama reverente apreciada em todo país. Até que, um dos coletores de impostos do rei foi assaltado e assassinado na entrada da ponte. Esse incidente causou a chegada furiosa da guarda real que, após investigar, sentenciou a cidade. O rei clemente, em vez de mandar queimar a cidade, ordenou que num prazo de cem dias, todos os moradores de Maiork deixassem as terras do reino, e avisou que, se qualquer maiorkino fosse visto, seria morto sem piedade. Essa sentença trouxe grande impacto sobre crianças, jovens e velhos. E, para a alegria da cidade, os homens maus e covardes foram os primeiros a fugir, permitindo que as famílias se reunissem em conselho às margens do rio, como seus antepassados faziam. Ali, os sábios que ainda restavam, sugeriram que fosse enviado ao rei um mensageiro para pedir clemência e uma chance para voltarem a ser a cidade que um dia honrou o reino. Sabendo da sentença real, ninguém queria correr o risco de comparecer diante do rei. Mas, um jovem, filho do carpinteiro, disse que estava disposto a ir. Saudado por todos, partiu para sua missão. Nessa tempo, Maiork enfrentou o pessimismo de muitos que diziam que o rei cortaria a cabeça do arauto. Um grupo que desejava ir embora tardiamente, espalhava boatos de terror para formar uma caravana de fuga. Mas, o cartpinteiro de Maiork acendeu, de madrugada, uma fogueira próximo à ponte Elpis, que significa esperança”. Fingindo que iria queimar a ponte construída por seus antepassados, o homem gritava com uma tocha. Todos afluiram para lá, que por fim, ouviram, não um desesperado, mas alguém cheio de esperança, dizendo que todo o povo deveria se preparar para uma boa notícia, pois seu filho chegaria em breve. Esse dia recobrou o ânimo dos moradores que passaram a organizar a cidade. Todos os dias, o povo olhava pela janela, alguns suspiravam de esperança. Não foram poucos os alarmes falsos que causou uma momentânea alegria na cidade. E os dias foram se passando e a ansiedade foi tomando conta de todos. Alguns já se mostravam abatidos e outros disfarçavam com palavras fracas de encorajamento, até que, num fim de tarde, ouviu-se um grito: “Maiork reviverá!”. Era o filho do carpinteiro correndo e gritando pel ponte. A cidade inteira reuniu-se junto ao rio. Todos estavam num misto de euforia com temor. Pediu-se silêncio e o arauto disse: “O rei nos deu anistia!”. Houve uma explosão de festa, abraços e danças. E a primeira providência do povo foi juntar os impostos atrasados, ordenar que as escolas ensinassem novamente as tradições de Maiork e a cidade voltou preparar-se como antes para as visitas dos representantes do Rei. Um dos artistas do condado pintou uma memorável tela e a batizou de “pés formosos”. Nela, o arauto atravessava a ponte Elpis sob o efeito do arrebol.

¹Isaías: Introdução e Comentário de J. Ridderbos, pág. 418.

QUANDO FALO DE CRISTO

Paulo Zifum

O que sinto quando prego o Evangelho?
Glória!
Sendo nada, revisto-me de fulgor.
Proclamo a notícia do Amor:
Ele veio ao mundo e salva o pecador.

Que glória!
Em cada esforço de anunciar a boa nova,
o Espírito revela mais e mais mistérios,
como recompensa aos pregadores.

Quando falo o nome de Cristo
e sua obra explico, mais maravilhado fico.
Quanto mais repito a salvação,
mais meu coração se eleva ao Céu.

E, se uma alma for resgatada,
se um pecador se arrepender,
então, maior será a glória
de poder ter visto em outro
o que Cristo fez em mim.

REDUCIONISMO RELIGIOSO

Nuvem sobre as montanhas impressiona em concurso de fotos

Paulo Zifum

As religiões cristãs, com auxílio de seus poetas e artistas, podem tocar sinos sagrados e favorecer almas sedentas por transcendência, mas também podem estragar tudo ao tentar representar visualmente o mistério de Deus e a beleza revelada em Jesus Cristo. Por isso o segundo mandamento, ao proibir que os homens façam imagens de escultura como retrato do divino, livra a religião de reduzir a visão de Deus numa única perspectiva. Mas, a desobediência e o desejo de controle levam à insensatez de cristalizar os borrões de visões particulares e até suspeitas sobre Deus. E, com isso, milhares de fiéis são impedidos de ver além do que é material.

Por isso, a religião judaico-cristã defende que o que sabemos de Deus é suficiente e seguro por meio de sua revelação que é a Bíblia. Dessa forma a religião não fica refém das ousadas, criativas imaginações humanas e até das sugestões malignas de demônios.

E é de se esperar questionamentos sobre a Bíblia que foi escrito por homens. Quem pode garantir que não seja a Bíblia uma visão reducionista de Deus? Bem, até podemos admitir que a Bíblia é uma perspectiva sobre Deus, considerando que o que foi revelado não pode ser o todo, pois Deus jamais poderia ser definido ou explicado por um único livro. Mas, a Bíblia está acima de todos os outros oráculos por sua singularidade em tratar Deus como um ser pessoal, criador todo poderosos e todo amoroso cujas ordens fazem pleno sentido nos termos da justiça.

Esse Deus, proibiu a idolatria não porque seja como os deuses gregos caprichosos, mas porque Ele sabe que suas criaturas podem ser enaltecidas pelo que adoram ou reduzidas por seus ícones de afeto (Sl.115.8). E eleger ídolos como representação do divino é como se uma formiga diante de uma montanha dissesse ser capaz de vê-la plenamente. Ora, não é possível descrever algo sem nunca ter saído fora dele. Portanto, a proibição de se fazer imagens de escultura é medida amorosa da lei para que as criaturas não particularizassem os mistérios, os reduzindo a nada.

E se a visão sobre Deus não for que Ele mesmo oferece, a criatura ficará tateando às cegas. Por esse motivo, o apóstolo Paulo fez o seguinte discurso:

Então Paulo levantou-se na reunião do Areópago e disse: “Atenienses! Vejo que em todos os aspectos vocês são muito religiosos, pois, andando pela cidade, observei cuidadosamente seus objetos de culto e encontrei até um altar com esta inscrição: AO DEUS DESCONHECIDO. Ora, o que vocês adoram, apesar de não conhecerem, eu lhes anuncio. “O Deus que fez o mundo e tudo o que nele há é o Senhor do céu e da terra, e não habita em santuários feitos por mãos humanas. Ele não é servido por mãos de homens, como se necessitasse de algo, porque ele mesmo dá a todos a vida, o fôlego e as demais coisas. De um só fez ele todos os povos, para que povoassem toda a terra, tendo determinado os tempos anteriormente estabelecidos e os lugares exatos em que deveriam habitar. Deus fez isso para que os homens o buscassem e talvez, tateando, pudessem encontrá-lo, embora não esteja longe de cada um de nós. ‘Pois nele vivemos, nos movemos e existimos’, como disseram alguns dos poetas de vocês: ‘Também somos descendência dele’. “Assim, visto que somos descendência de Deus, não devemos pensar que a Divindade é semelhante a uma escultura de ouro, prata ou pedra, feita pela arte e imaginação do homem. No passado Deus não levou em conta essa ignorância, mas agora ordena que todos, em todo lugar, se arrependam. Pois estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio do homem que designou. E deu provas disso a todos, ressuscitando-o dentre os mortos” (At.17.22-31)

Concluímos que as imagens em nada ajudam os homens a conhecerem a Deus, pelo contrário, os afasta cada vez mais porque o próprio ato de fazer imagens é claro sinal de estar de costas para ele.

O PECADO DO MAU GOSTO

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Paulo Zifum

Nossos gostos são moldados desde a infância e nossas experiências compõem nosso campo de comparação. E não há como discordar que exista o bom gosto e o mau gosto. Embora muitos gostos sejam relativos, há um conceito de beleza estética universal que permite um juízo comum. Roger Scruton conta em seu livro Beleza que um morador de um bairro de casas americanas resolveu colocar a escultura de um tubarão sobre o telhado frontal da casa. Os moradores tentaram judicialmente, sem sucesso, que ele removesse o adereço, mas a liberdade pelo mau gosto, ganhou.

Nem tudo é relativo, existem obras humanas que não se harmonizam jamais com o senso comum de beleza. E aqui não estamos falando de sofisticação e ostentação, até porque o excesso de riqueza tem produzido muita exuberância brega e sem beleza alguma, provando que não é a falta de recurso que impõe o mau gosto. E o esteticismo Pois, é possível encontrar a ordem, o bom, o belo e o verdadeiro entre pessoas e lugares que respiram simplicidade e sobriedade. Porque, para ter bom gosto, basta ter uma boa referência. E é sobre isso que gostaria de tratar.

Segundo John Gruchy em seu ensaio sobre a “estética dentro de um mundo de feiura”, nossa referência de beleza é afetada pela expeirência externa. E, tanto ele como Frank Burch Brown em Cristianismo, Arte e Transformação, concordam que a experiência do profeta Isaías revela o quanto nossa visão estética pode ser redimida. Note abaixo:

No ano em que o rei Uzias morreu, eu vi o Senhor assentado num trono alto e exaltado, e a aba de sua veste enchia o templo. Acima dele estavam serafins; cada um deles tinha seis asas: com duas cobriam o rosto, com duas cobriam os pés, e com duas voavam. E proclamavam uns aos outros: “Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos, a terra inteira está cheia da sua glória”. Ao som das suas vozes os batentes das portas tremeram, e o templo ficou cheio de fumaça.
Então gritei: Ai de mim! Estou perdido! Pois sou um homem de lábios impuros e vivo no meio de um povo de lábios impuros; e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos! “
Isaías 6:1-5

Gruchy comenta que ver a Deus, ou a glória dele, causa transformação. Isaías descreveu a beleza e depois procurou adequar-se a ela, colocar-se em seu lugar. A beleza carrega mensagens de ordem, verdade e bondade com as quais o ser humano pode criar analogias. Burch ressalta a importância que a experiência com o sagrado causa sobre noção estética. E nesse ponto, Burch chama atenção para o fato de que o mau gosto é um efeito do pecado e a conversão redime o senso de gosto. Essa perspectiva cristã é explicada por C. S. Lewis, quando disse: “a coisa mais doce em toda minha vida tem sido o anseio de encontrar o lugar de onde toda a beleza veio.” 

Isaías notou que o pecado não é apenas errado, ele é profundamente feio, assim como a virtude não é apenas direita, ela é profundamente bela. E como o pecado afeta o parecer moral, é possível que uma sociedade imoral considere bela a arte que promove o pecado. Qual a beleza de uma obra de arte que exalta o mau em personagens imorais, sem lhes fazer nenhuma crítica? É uma distorção encantar-se pelo mau gosto e desprezar o que é, de fato, belo (Is.5.20). Logo, Burch discerne que moral e estética andam de mãos dadas. Isaías percebeu que o mundo de Deus é belo porque harmoniza a verdade e a moralidade. E quando falamos sobre moral, não devemos confundir com a prática do moralismo religioso que censura artistas pelo fato de não enquadrarem os temas nos moldes religiosos, pois o preconceito é umas feiuras do pecado. A moral verdadeira reconhece o dom de Deus e graça comum encontrada nos lugares mais improváveis.

A beleza percebida por Isaías foi a santidade de Deus. Essa santidade e pureza é associada no livro de Isaías à justiça social o que mostra que a beleza deve melhorar o lugar onde se manifesta. Ver a beleza causou em Isaías a vergonha com o pecado, o que lhe provocou o desejo de emular essa santidade.

Concluímos que o mau gosto, o afeto, admiração ou aceitação pelo que é feio, é fruto do pecado. E a redenção só pode ocorrer pela experiência do encontro com a luz, conforme disse o apóstolo João:

“O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e as nossas mãos apalparam — isto proclamamos a respeito da Palavra da vida. A vida se manifestou; nós a vimos e dela testemunhamos, e proclamamos a vocês a vida eterna, que estava com o Pai e nos foi manifestada. Nós lhes proclamamos o que vimos e ouvimos para que vocês também tenham comunhão conosco. Nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo. Escrevemos estas coisas para que a nossa alegria seja completa. Esta é a mensagem que dele ouvimos e transmitimos a vocês: Deus é luz; nele não há treva alguma. Se afirmarmos que temos comunhão com ele, mas andamos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade. Se, porém, andamos na luz, como ele está na luz, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado. Se afirmarmos que estamos sem pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça” 1 João 1:1-10

Essa luz que Isaías viu é a mesma da qual fala João. É no Filho de Deus que toda beleza converge. No Messias crucificado estava escondida toda a beleza de Deus, e foi na Cruz que Ele se fez feiura pelos eleitos (Is.53.1-3), para restaurar neles o sensus divinitatis danificado, conformando-os na sua própria imagem. Grande é esse mistério.

NOTA: Obras de arte perturbadoras (esculturas, literaturas, peças de teatro ou filmes), podem ser belas. O artista pode retratar profundamente a dor humana ou enquadrar o mau de forma visceral sem, com isso, cair no mau gosto do desnecessário. É uma linha tênue, mas possível. Os cristãos, de posse de uma perspectiva sóbria, não são inconoclastas legalistas, mas críticos com correto juízo de valor, capazes de rejeitar o mau gosto sem confundir preferências de gostos.