PORQUE CONGREGAR (parte2)

Paulo Zifum

E consideremo-nos uns aos outros para incentivar-nos ao amor e às boas obras. Não deixemos de reunir-nos como igreja, segundo o costume de alguns, mas παρακαλοῦντες uns aos outros, ainda mais quando vocês vêem que se aproxima o Dia. Hb.10.24-25

A expressão grega usada no verso acima vem da raiz παρακαλέω (parakaléō) que significa exortar, solicitar, encorajar, fortalecer, instruir. Quando congregamos numa Igreja saudável, experimentamos o cuidado mútuo por meio das exortações em amor. A vida em comunidade não é fácil para quem precisa conviver com nossos defeitos sob o desafio de nos chamar atenção sobre nossos pecados (Mt.18.15), mas é a correção mútua que faz as pessoas progredirem. Portanto, congregar exige que gastemos energia emocional na tarefa de exortarmos e sermos exortados, o que nos mantém longes de uma vida egoísta. Na Igreja, o Senhor nos ordena: “vá até seu irmão porque você é responsável por ele”, o que muitas vezes, não é desejável, mas aqueles que amam o próximo preferem o desconforto pessoal que deixar pessoas preciosas se perderem.

E o autor ordena que esse parakaléō não seja uma ação impaciente ou severa, mas um estimulante cuidado mútuo dentro da Igreja, formando uma rede de proteção na qual todos são beneficiados. Pois, todos, em algum momento, podemos descuidar e nos vermos envolvidos por tentações, vaidade ou sugestões malignas sutis.

Podemos observar essa dinâmica em três incidentes com o apóstolo Pedro. Em seu convívio com o grupo, ele precisou ser exortado por sua ignorância dos assuntos espirituais (Mt.16.21-23), por vaidade de projetar-se acima dos outros (Lc.22.31-34) e por covardia de não defender irmãos rejeitados (Gl.2.11-14). E como não somos melhores que Pedro, precisamos de ajuda. Portanto, deixar de congregar é abrir mão desse auxílio e também uma perigosa declaração de autossuficiência.

2-Devemos congregar porque necessitamos de exortação
O fato de sermos pecadores nos faz necessitados de exortação. Precisamos de auxílio externo porque nossa natureza sofre a tendência ao erro e desvio. E é na Igreja que encontramos o tratamento para nosso pecado, pois por meio de seu ministério Deus nos exorta (2Co.5.18). Nela encontramos aqueles cujo dom é exercer o confronto (Rm.12.8) e somos corrigidos e salvos de nos corromper (Pv.29.18).

Em vários momentos do convívio com a Igreja somos exortados, tanto pelo bom testemunho que nos encoraja quanto nas conversas em que somos ensinados. Somos confrontados por meio das pregações e e por meio da Ceia do Senhor. E, especificamente na Ceia, podemos resolver de modo reverente o problema do pecado que nos assedia, seja com o Senhor em particular ou seja com algum irmão. A Ceia apela para nossa consciência e exige que nos preparemos para o encontro com o Senhor. Portanto, os que não congregam não se preparam devidamente para a volta do Senhor.

Crendo que as Escrituras são inspiradas por Deus, cremos que o Senhor é quem alerta aqueles que se acostumaram a não estar em comunhão como se pudessem viver a verdadeira vida cristã sem a Igreja. A salvação, para os filhos de Deus, não é imaginada como um gozo individual, mas uma celebração de todos os santos. Embora seja verdade que congregar não garanta a salvação, é certo que os que são salvos consideram essencial a vida em comunhão com os crentes.

PORQUE CONGREGAR (parte1)

Paulo Zifum

Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou pelo véu, isto é, pela sua carne, e tendo grande sacerdote sobre a casa de Deus, aproximemo-nos, com sincero coração, em plena certeza de fé, tendo o coração purificado de má consciência e lavado o corpo com água pura.” Hb.10.19-22

Guardemos firme a confissão da esperança, sem vacilar, pois quem fez a promessa é fiel. Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras. Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima.” Hb.10.23-25

A Carta aos Hebreus, citada acima, defende que os cristãos judeus não dependiam mais do Templo nem dos sacrifícios nele realizados para terem comunhão com Deus. Agora, todos em Cristo, tinham o acesso direto a Deus, sem mediações humanas. Porém, o autor insiste que a comunhão pessoal não substitui a necessidade do culto coletivo.

Os cristãos hebreus estavam passando pelo “fogo ardente” destinado a prová-los (1Pe.4.12) e, diante das aflições, estavam tentados a vacilar na fé pela falta de ânimo. O autor destaca a necessidade da comunhão para encorajamento mútuo com o fim de manter a chama do amor e das boas obras. E além dos estímulos, os cristãos precisam de admoestações como a que foi dita: desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta, olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus”‘ (Hb.12.1-2). Toda a carta de Hebreus é repleta de encorajamento e exortações porque as perseguições contra a Igreja estavam intensas, sinalizando que o fim está próximo.

Nesses tempos dificíceis, os cristãos “da fraqueza tiraram forças” (Hb.11.34), sobrevivendo, mas não sozinhos. É sobre o ajuntamento dos discípulos que recai a promessa de que “as portas do inferno” não prevaleceriam (Mt.16.18), portanto, é com a Igreja que os cristãos resistiram por séculos. Reunidos em nome de Jesus, a congregação recebeu autoridade tanto para o enfrentamento do pecado (Mt.18.17-18; 1Co.5.1-5) como para responder às ameaças espirituais (At.4.23-32). Essa compreensão é notada em todo livro de Atos que mostra a comunhão da Igreja na intercessão em favor uns dos outros (At.1.14, 2.42, 12.12), na busca pelo aprendizado (At.2.42, 15.1-33) e no envio para as missões (At.13.1-3, 20.36-38). Paulo, ao demonstrar todo afeto pela Igreja em suas cartas, insiste em reconhecê-la como “coluna e baluarte da verdade” (1Tm3.15). Portanto, não há como sermos “mais que vencedores” isolados da Igreja.

Os cristãos reconhecem a necessidade da comunhão, seja no contexto de dificuldade ou de tranquilidade. E, segundo o autor de Hebreus, precisamos congregar para receber estímulo e exortação. Sendo a Igreja um lugar saudável, os fiéis são encorajados por palavras de afirmação seguidas de atos de amor e, também com palavras de exortação.

NECESSIDADE DE ESTÍMULO

Assim como o corpo após um trauma ou longa inatividade perde os movimentos precisando de estímulos para sensibilizar o sistema nervoso, da mesma forma os cristãos precisam do encorajamento da Igreja. O autor destaca o amor e as boas obras como áreas que precisam ser constantemente estimuladas, porque num mundo duro “por se multiplicar a iniquidade, o amor se esfriará de quase todos” (Mt.24.12), e não havendo amor, o egoísmo faz cessar as boas obras.

É na Igreja que somos estimulados a continuar a peregrinação sem desistir, a lutar, a orar, a jejuar, a ofertar, a louvar e lembrar do mundo vindouro. É na comunidade que conhecemos e somos conhecidos, aceitamos e somos aceitos, perdoamos e somos perdoados, abençoamos e somos abençoados. Nesse “considerar uns aos outros” prestamos atenção tanto para honrar como para amparar, nos associando aos irmãos no dar e receber (Fp.4.15).

Estimulados a Dar
Jesus disse que “mais bem-aventurado é dar do que receber” (At.20.35) e a Igreja nos oferece ricas oportunidades de “enriquecermos a muitos” (2Co.6.10) com amor e boas obras. Aqueles que estão motivados e felizes podem falar palavras de ânimo para os tristes e fracos, aqueles que estão cheios de fé e seguros podem encorajar os que tem medo. Deus nos levanta na Igreja a sermos amáveis para ouvir uma confissão de pecado e fracasso, e sem julgamento, reafirmar o perdão divino garantindo que é possível vencer pecados e vícios. Na Igreja encontramos o pleno sentido de nossas vidas que é sermos benção para as pessoas, portanto, ao encorajarmos somos duplamente estimulados.

Recebendo Estímulo
Bonhoeffer disse que “quando estou fraco, meu irmão está forte e Cristo é mais poderoso na boca de meu irmão”. Precisamos de congregar porque não somos suficientes sozinhos. Quando me uno a meus irmãos no Culto, recebo deles amor e testemunho para minha vida, meu casamento, meus filhos e minha vida profissional. De tempos em tempos precisamos de um avivamento em nossas vidas, e diante das lutas podemos desanimar, esmorecer. Ao congregar, consigo olhar a meu redor, ver além de meu mundo e meus problemas, e recebo encorajamento com os cãnticos e orações. Deus sempre levanta alguém para nos dar uma palavra que nos ergue. pois nosso coração pode se esfriar. educação de filhosPor isso, está escrito: “melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho. Porque se caírem, um levanta o companheiro; ai, porém, do que estiver só; pois, caindo, não haverá quem o levante.Também, se dois dormirem juntos, eles se aquentarão; mas um só como se aquentará? Se alguém quiser prevalecer contra um, os dois lhe resistirão; o cordão de três dobras não se rebenta com facilidade” (Ec.4.9-12).

Portanto, aquele que não congrega, assume para si o risco, não apenas de andar só, mas de viver apenas para si. Mas, aqueles que praticam essa palavra encontram mil motivos para congregar, pois conseguem celebrar o bom testemunho dos fiéis, o crescimento dos convertidos e as vitórias de cada irmão. E, somente no contexto da Igreja que podemos juntamente com o Pai, receber os desviados e, na Ceia, celebrar o arrependimento sob confiança de que o Cordeiro foi imolado (Lc.15.20-30).

Peregrinos precisam lembrar
que o mundo não é seu lar
Entre ímpios não há consolo
e uma voz nos chama a entrar
e com os santos congregar

3 PERGUNTAS DIVINAS

Paulo Zifum

Mas o Senhor Deus chamou o homem,
perguntando: “Onde está você? “
E ele respondeu: “Ouvi teus passos no jardim
e fiquei com medo, porque estava nu;
por isso me escondi”.
E Deus perguntou:
“Quem lhe disse que você estava nu? “
Gn.3.9-11

Todas as perguntas de Deus destilam o amor cuja preocupação é com sua criatura em apuros. A abordagem respeitável indaga visando dar tempo para a outra parte de organizar. Depois, por considerar a possibilidade da pessoa ter sofrido alguma ação externa, sonda-se qual foi para que a pessoa possa explicar. Por fim, pergunta-se sobre a participação da pessoa no ato em questão. Esse inquérito é cuidadoso porque Deus sabe que o erro transtorna o juízo, podendo criar pânico. O amor mostra ênfase na pessoa e não no problema. O conteúdo das perguntas não carregavam juízo prévio, antes abria oportunidade de explicação e, se possível, de defesa. Porém, não havia necessidade de defesa porque Deus não estava acusando. O bondoso Criador não representava uma ameaça até Satanás sugerir o receio. O pecado nasceu embaixo de uma sombra de dúvida artificial e maligna.

Onde você está?
Essa pergunta divina é uma garantia de que Deus, mesmo sabendo onde estamos, manterá distância por respeito para não nos pressionar. A quebra do sigilo nunca é a primeira opção de Deus e, se a humanidade percebesse esse benefício, não insistiria em sua postura rebelde. Embora Deus tenha nas mãos todos os documentos, gravações e acessos a todos os nossos segredos (Sl.139.1-10), mesmo assim, nos chama com amor para sairmos a seu encontro. Essa primeira pergunta poderia ser “qual é sua verdadeira posição?” ou “onde você se escondeu?”, para tratar a vida humana marcada pela fuga da realidade. A verdade pode parecer insuportável e a “nudez”, desconcertante em qualquer assunto, por isso, Deus descarta um encontro surpresa e mantém sua postura longânima, enviando mensagens com perguntas gentis.

Quem te disse que vocês estava nu?
A indagação pode ser comparada a um pai que ao saber que o filho bateu seu carro, pergunta: O que ou quem te atingiu? O interesse deixa implícito que o inquisidor é imparcial. No caso de Adão, Deus sabia que sua criatura não poderia ter se metido sozinha naquele problema. A pergunta, em si, dá oportunidade para se contar o ocorrido sem se sentir condenado. E Deus, sendo justo, difere aquele que faz o laço daquele nele cai. Aquele que alicia e patrocina o mal não ficará impune, mas será tratado separadamente. Essa ordem no inquérito mostra a intenção redentora.

Você comeu do fruto da árvore
da qual lhe proibi comer?

A derradeira pergunta é a mais importante, pois dá a chance de confissão simples. A Palavra de Deus é sempre específica na qualificação do pecado, de modo que o ser humano jamais poderá acusar a Lei Divina de ser obtusa ou subjetiva. As ordens divinas são claras e sua inquisição assertiva. Para cada caso, há uma pergunta exata. A Adão pergunta se ele comeu do fruto proibido, para Caim pergunta onde estava seu irmão, para Jacó indaga qual era seu nome. Nessa linha, está escrito que “todos nós deveremos comparecer diante do tribunal de Cristo, a fim de que cada um receba o que merece em retribuição pelas obras praticadas por meio do corpo, quer seja o bem, quer seja o mal” (2Co.5.10). O inquérito preciso para os pródigos com o tempo, será: “gastas-te o tempo da forma que te disse para não gastar?”, e para os egoístas, caberá a pergunta: “foste feliz com aquilo que me entristecia?”. Será inescapável.

Os filhos de Deus podem se esquivar da primeira e segunda pergunta, mas jamais da última. Diferentes de Adão, aqueles que foram convencidos pelo Espírito Santo, confessam como Davi: “pequei contra o Senhor”. O melhor seria que nunca fugíssemos, mas a saga adâmica não terá fim nesta vida e a pergunta “o que está fazendo aqui?” será repetida tanto para Elias como para Jonas.

Quanto às primeiras pergunta, não somos melhores que nenhum personagem bíblico. mas, graças a Jesus Cristo que no enviou seu Santo Espírito, nos rendemos na derradeira barreira de proteção fazendo a confissão qualificada do pecado.

No Éden, Adão se calou.
Mas, a mim Deus perguntou:
Você tem prazer no pecado?
Entristecido, disse que sim.
Ele questionou:
Te me amas?
Inseguro, assenti.
Acima de tudo, amas a mim?
Pus-me a chorar.
Ai de mim.
Jesus respondeu;
Morri por ti!
Fiz silêncio.
O céu se fez festa.
Voltei para o jardim.



ACEITAR O AMOR COMO VEM

Paulo Zifum

Uma das marcas do amor é a humildade. O amor abre mão da excelência para celebrar os esforços dos que não alcançaram o padrão. Não é um estímulo à mediocridade, mas uma sensibilidade para perceber que o outro tem limitações. O amor, cuja fonte jorra sem esperar receber, tem seu segredo em Deus que nunca esgota. Agora, o tipo de amor que é como um reservatório esgotável, se não receber, nada poderá oferecer. Essa é uma das diferenças entre o amor humano e o divino.

Sendo Deus, o Criador, a única fonte inesgotável, se o colocarmos fora da equação, e direcionarmos nossas demandas altas demais para as pessoas, o convívio entrará em conflito com expectativas impossíveis e fixações muito peculiares. Mas, se a maior parte de nossa carência for suprida em Deus, nos tornaremos pessoas simples, bondosas e pacientes, ou seja, fáceis de amar e contentes com pouca oferta de amor humano. Com Deus, e somente com Ele, somos capazes de sofrer, crer, suportar e esperar (1Co.13.9) por amor. Nada pode dar mais significado à vida.

Você percebe o amor das pessoas a seu redor como elas podem dar? Ou vive na frustração de esperar uma forma específica de amor? Se a tristeza que sente é fruto de carência e de amor não correspondido, então converta seu coração para Cristo, pois aqueles que nEle esperam são saciados, pois está escrito: “o amor de Deus foi derramado em nossos corações” (Rm.5.5) e “aquele que não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não nos concederá juntamente com Ele, gratuitamente, todas as demais coisas?” (Rm.8.32). Se assim for, nosso amor apontará para aquele que é suficiente e as pessoas, com muito pouco, nos agradarão.

De: Jonatas – Para: Davi

J.R. Leite

O amor por Davi
Dessa vez que encontrei meu irmão Luiz, senti aquela mesma admiração de Jonatas, aquela vontade de entregar “o manto… a túnica, e até a espada, o arco e o cinturão” (1Sm.18.4) de intensa admiração. Passei dias observando silenciosamente seus gestos e palavras, como que atraído por uma sarça extraordinária. Que maravilha, revisitar o lugar primeiro de meu chamado! Pensava comigo: Como pode uma pessoa ser tão amorosa? Como pode ser tão estável ao longo dos anos? Como pode uma fonte destilar tanto bem? Árvore majestosa de Deus! E meu benefício foi ver, sentir e absorver. Sim! Ver meu irmão é como ver a face de Cristo, belo de olhos e voz. Há muito, desde 1984, os males fugiam de nós quando estávamos com Luiz. Até hoje é assim. Doce presença! E como Stênio falou sobre Jesus, eu disse sobre Luiz quando se foi: “saiu, fica paz em mim, fica a sala com cheiro de jasmim”. E se o amor necessita de confissão, agora estou satisfeito.

O PURÊ

Paulo Zifum

União é um saco de batatas.
Unidade é um purê

O casamento é uma união que pretende realizar uma unidade. A declaração monogâmica e heterossexual “os dois se tornarão uma só carne” dada por Deus (Gn.2.24) define que a relação conjugal é, por si, uma entrega mútua que causa mudança no estado original. O que não significa que o casamento ameace dissolver a individualidade, mas indica que a vontade pessoal não é mais uma prioridade. E a grande benção, segundo o plano divino, é que, ao abrirem mão da individualidade, os casais experimentam de diversas formas o que significa a expressão “melhor serem dois que um” (Ec.4.9).

ALVO COMUM

O casamento de um homem com uma mulher tem a finalidade de alcançar um bem. Para os cristãos, esse consórcio não se limita à busca da felicidade encontrada no afeto e na prole, mas em como, juntos, o casal pode glorificar a Deus.

Quando o alvo comum é agradar a Deus, as vontades egoístas são controladas e os esforços de promover um ao outro se tornam evidentes. E o desejo de amar a Deus acende o fogo santo que funde os opostos. O casal que busca felicidade como prioridade, logo descobrirá que a individualidade cria demandas impossíveis de suprir. As divergências tendem a se multiplicar e o consórcio parecerá uma desvantagem.

O alvo comum dos cônjuges não pode ser a união em si como fim. O casamento deve ser um meio para adorar a Deus. E somente Deus pode tornar um casal uma unidade de submissão mútua para Ele mesmo.

PESSOAS “SENSÍVEIS”

Paulo Zifum

Parece que as pessoas desistiram de serem fortes num mundo hipersensível. O cristianismo, por sua vez, nos encoraja a enfrentar a nós mesmos e a resistir o mal. Por essa razão, os cristãos não podem cair no atraente discurso moderno de empatia que sugere a sensação de que progredimos como civilização (pelos resultados sociais, é evidente que não). Esse discurso oferece uma indulgência total, o que é um perigo para nossa natureza inclinada à vitimização. Contra esse mal, C. S. Lewis nos alerta da seguinte forma:

“Já não fingimos que nossos sentimentos sensíveis e tenros foram “machucados” (naturezas tão delicadas como a nossa são muito vulneráveis), sendo que nosso verdadeiro problema era inveja, vaidade insatisfeita ou obstinação frustrada? Táticas como essa costumam funcionar, e a outra pessoa desiste. Ela desiste não porque desconhece o que realmente há de errado conosco, mas porque o conhece bem há muito tempo; aquele cão adormecido pode ser desperto, aquele esqueleto pode ser tirado do armário somente à custa da ameaça de seu relacionamento conosco. Isso precisa de uma cirurgia a que eles sabem que nunca nos submeteremos. E, assim, ganhamos; trapaceando. Contudo, a injustiça é sentida muito profundamente. Sem dúvida, aquilo a que se costuma chamar de “sensibilidade” é o instrumento mais poderoso da tirania doméstica, por vezes uma tirania vitalícia. Não sei ao certo como devemos lidar com isso nos outros, mas precisamos ser implacáveis diante de suas primeiras aparições em nós mesmos”. (O Assunto do Céu, pág. 177).

Portanto, é impossível ser discípulo de Jesus e ser “sensível”. O desafio do Senhor foi: “negue-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me”, deixando claro que o cristianismo fortalece as pessoas e as ajuda a escapar dessa geração desonesta e manipuladora, de modo que, o convívio com os cristãos seja uma experiência positiva e atraente.

NECESSIDADE BÁSICA

Paulo Zifum

Abraham Maslow em sua proposta da Hierarquia das Necessidades, acertou. Sua análise do comportamento humano é assertiva criando uma pirâmide cuja estrutura é lógica. Porém, Maslow não abordou a mais básica das necessidades humanas: a transcendência. A psicologia humanista nas asas do positivismo foi construída com o capital intelectual cristão, mas os herdeiros em sua sanha por autonomia e soberba, negam a fé dos predecessores. As antigas universidades americanas foram fundadas por cristãos, hoje, porém, negam a existência de Deus. E se Maslow em sua Teoria da Motivação Humana lançada em 1954, mencionasse alguma necessidade espiritual, seria rejeitado pela academia predominantemente ateísta.

O ser humano não é um corpo que tem uma alma, ele é nefesh que habita num corpo. Segundo a Bíblia, somos seres “desejantes” cuja fome não se limita às coisas dessa vida. Temos fome de Deus! Nele buscamos resolver o mistério de nossa psique: nossa vida imaterial que transcende.

Para os cristãos, sem a comunhão com Deus ocorre uma ruptura na pirâmide de Maslow. Uma pessoa pode ter suas necessidades fisiológicas e sociais supridas e, mesmo assim, se ver incapaz de desfrutar do que tem. Vivemos na era da maior prosperidade no mundo, porém, as pessoas estão ansiosas e insatisfeitas. Não é incomum ver pessoas bem-sucedidas em todos os níveis da pirâmide em angústia com questões emocionais, porque a maior necessidade não está sendo suprida. Entretanto, aqueles que sabem fazer uma oração a Deus e confiam que Ele existe, podem ter sido privados de muitas coisas até básicas e, mesmo assim, se mostram bem-aventuradas.

A oração é uma das necessidades básicas do ser humano, porque quando o mundo material ou social não podem oferecer segurança, compreensão ou estima, é possível encontrar paz em Deus. A oração é um exercício de fé na Palavras de Deus, que é a rocha embaixo da pirâmide. Aqueles que conversam com Deus recebem dele orientação espiritual e com esse direcionamento constroem a vida. E é Deus que patrocina tanto as conquistas como a simplicidade para delas desfrutar, mesmo que venham decepções, sofrimentos e privações. Esse “tudo posso naquele que me fortalece” é o recurso da fé que os cristãos acreditam ser a maior necessidade. O mundo, porém, ao ignorar ou rejeitar, tenta a sorte com uma pirâmide levantada sobre a areia. Os noticiários confirmam que as sociedades não possuem lastro para equilibrar as coisas quando o mal surge, sejam guerras físicas ou ideológicas. A pirâmide cai, de tempos em tempos e o ser humano se vê na linha do desespero.

Maslow estava certo, só incompleto.