Paulo Zifum
*A crítica cristã não deve condenar o folclore como manifestação da cultura, mesmo com sua sensualidade, pois um baile à fantasia pode ser uma diversão saudável. Porém, as festas carnavalescas são marcadas por excessos de muitas ordens, não porque incitam diretamente a isso, mas a malícia humana aliada à luxúria vê na ocasião uma oportunidade. Isso posto, o texto abaixo refere-se ao Carnaval em seus ambientes mais baixos que lembram a festa da Grécia Antiga em homenagem ao deus Baco¹.
Portanto, a ira de Deus é revelada do céu contra toda impiedade e injustiça dos homens que suprimem a verdade pela injustiça,
pois o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Pois desde a criação do mundo os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua natureza divina, têm sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisas criadas, de forma que tais homens são indesculpáveis; porque, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe renderam graças, mas os seus pensamentos tornaram-se fúteis e os seus corações insensatos se obscureceram. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos e trocaram a glória do Deus imortal por imagens feitas segundo a semelhança do homem mortal, bem como de pássaros, quadrúpedes e répteis. Por isso Deus os entregou à impureza sexual, segundo os desejos pecaminosos dos seus corações, para a degradação dos seus corpos entre si. Trocaram a verdade de Deus pela mentira, e adoraram e serviram a coisas e seres criados, em lugar do Criador, que é bendito para sempre. Amém. Por causa disso Deus os entregou a paixões vergonhosas. Até suas mulheres trocaram suas relações sexuais naturais por outras, contrárias à natureza. Da mesma forma, os homens também abandonaram as relações naturais com as mulheres e se inflamaram de paixão uns pelos outros. Começaram a cometer atos indecentes, homens com homens, e receberam em si mesmos o castigo merecido pela sua perversão. Além do mais, visto que desprezaram o conhecimento de Deus, ele os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem o que não deviam.
Tornaram-se cheios de toda sorte de injustiça, maldade, ganância e depravação. Estão cheios de inveja, homicídio, rivalidades, engano e malícia. São bisbilhoteiros, caluniadores, inimigos de Deus, insolentes, arrogantes e presunçosos; inventam maneiras de praticar o mal; desobedecem a seus pais; são insensatos, desleais, sem amor pela família, implacáveis. Embora conheçam o justo decreto de Deus, de que as pessoas que praticam tais coisas merecem a morte, não somente continuam a praticá-las, mas também aprovam aqueles que as praticam. Romanos 1:18-32
CONTEXTO
A República de Roma ofereceu aos povos o Direito Romano com sua visão Ética e Moral. O ordenamento jurídico brasileiro foi tecido com os fios do código civil romano. Por isso, se diz: “Somos romanos até quando falamos, nossa língua é filha do latim, somos romanos na nossa noção urbana, somos romanos em nossa literatura, somos romanos mesmo quando temos uma noção de patriotismo. Somos romanos política e administrativamente. Mas, principalmente, somos romanos quando falamos em Direito, quando falamos de nossa sociedade em um Estado de Direito. Direito este sistematizado pelos romanos antigos” (Flávia Lages Castro. História do direito geral e Brasil, p. 77).
Paulo conhecia a grandeza do passado de Roma como sociedade e sabia da importância de seu legado, mas muito antes do apóstolo escrever a Carta aos Romanos, o filósofo Salustio (séc.1 a.C.) denunciou:
Roma se consumia, depauperada de energias,
mas inebriada de luxo e de prazeres, nas rixas estéreis das facções.
Não havia mais ordem no Fórum, nem concórdia no Senado,
nem regra nos julgamentos, nem respeito aos superiores,
nem limites à jurisdição dos magistrados.
A depravação de Roma era tanta que já cheirava mal. O império estava em queda moral e ética, muito antes de cair militarmente pelas invasões das legiões bárbaras. Paulo escreve para essa Roma, o que nos esclarece a razão de iniciar sua carta com um discurso severo contra a imoralidade.
A IRA
Paulo define que a ira de Deus se revela quando Ele “entrega o homem a si mesmo” (Rm.1.24, 26 e 28). E a razão dessa ira está fundamentada na quebra do primeiro e segundo mandamento que é a idolatria, e não somente por isso, mas por rejeitarem a busca do aviso divino, mostrando rebeldia . Adão e Eva quebraram o primeiro mandamento, mas só foram expulsos depois de não reconhecerem o erro. A ira de Deus se revela diante da obstinação, da rebeldia humana. Como? Quando Deus tira da humanidade seus freios morais. Com a perda do juízo, a humanidade se perverte em curso natural e crescente.
Em nossa experiência social, podemos perceber que, quando pais ou autoridades não estão presentes para fazer oposição ao erro, acelera-se a depravação, como está escrito: “não havendo profecia, o povo se corrompe” (Pv.29.18). Podemos também ilustrar a ação punitiva de Deus com o caso de um rei que, informado sobre a rebeldia de uma de suas cidades, em vez de marchar contra ela, apenas deixa de proteger suas fronteiras. Paulo declara que Deus entrega os rebeldes à “impureza sexual” (Rm.1.24) e à “uma disposição mental reprovável” (Rm.1.28). Ou seja, a degradação da perda da ética e da moral é, em si, uma sentença.
A INDESCULPABILIDADE
Paulo fundamenta que as ações de Deus são perfeitas e justas. Em determinado tempo “Deus não levou em conta os tempos da ignorância” (At.17.30), mas o pecado da rebelião recebe um tratamento diferente. Aos romanos, Paulo explica que toda sociedade, de alguma forma, recebe de Deus algum tipo de revelação, umas mais outras menos, mas recebem. A rejeição aos mensageiros divinos, seja o mundo criado ou a presença da Igreja, pode acarretar numa sentença sem volta. Deus enviou Jonas à Nínive porque era uma cidade cujo povo não sabia discernir a mão esquerda da direita (Jn.4.11), mas Sodoma e Gomorrra eram cidades que estavam num estado muito pior que Roma (Gn.19). Quando Paulo diz que os rebeldes são indesculpáveis (Rm.1.20), alerta sobre o estado mais perigoso que um ser humano pode se encontrar.
A IDOLATRIA
Paulo trata especificamente da idolatria romana dirigida aos deuses gregos e um misto de outra crendices. A quebra do primeiro e segundo mandamento, como dissemos, não é o problema porque uma pessoa pode estar na ignorância, mas havendo conhecimento mínimo de que Deus é quem deve ser adorado e mesmo assim é rejeitado, torna o pecado maior. O pecado da idolatria é perigoso porque destrói a referência daquilo que é eterno para reduzir a vida ao efêmero, esvaziando o sentido da vida. E esse pecado tem fases semelhantes ao pecado do adultério: primeiro o home olha para outra mulher, depois começa a venerá-la, até que se entrega á traição, sabendo que está quebrando a aliança com a esposa. Outra ilustração que mostra a feiura da idolatria seria uma pessoa tomar uma obra de arte de um artista e atribuir a outro, propositalmente, porque não gosta do autor verdadeiro. Por isso, a idolatria é odiosa.
O HOMOSSEXUALISMO
Paulo escolhe uma das depravações praticadas em Roma e destaca que elas não eram apenas praticadas, eram estimuladas e validas pela sociedade. Ela não cita os incestos, pedofilia, bestialidades, orgias e bacanais conhecidos daquela capital romana, porque bastava mencionar o homossexualismo para provar a depravação.
DEGRADAÇÃO SOCIAL
Paulo, finaliza esse trecho de sua carta com uma mostra do estado que uma sociedade pode chegar em seu afastamento de Deus: “injustiça, maldade, ganância e depravação. Estão cheios de inveja, homicídio, rivalidades, engano e malícia. São bisbilhoteiros, caluniadores, inimigos de Deus, insolentes, arrogantes e presunçosos; inventam maneiras de praticar o mal; desobedecem a seus pais; são insensatos, desleais, sem amor pela família, implacáveis” (Rm.1.29-31). Essa lista de vícios e maldades, hoje, está em desfile nas páginas da Internet confirmando que as pessoas “não somente continuam a praticá-las, mas também aprovam aqueles que as praticam” (Rm.1.32).
CONCLUSÃO
Quando sentimos nossa sociedade em declínio ético e moral, corremos o maior perigo que um povo pode viver, a saber: a ira divina. Podemos sobreviver a pandemias e terremotos, a governos tiranos e corruptos, mas se formoS rebeldes contra Deus, jamais podemos sobreviver. Roma que o diga.
¹Baco, o deus do vinho e dos excessos, principalmente sexuais; representava os prazeres mundanos e segundo a mitologia greco-romana. Dessa festa surgiu o conceito “bacanal” para referir-se à orgia sexual. Nas festas de Baco, somente as mulheres poderiam sair às ruas nuas e realizavam sexo à luz do dia. Tempos depois, o Senado romano permitiu a participação de homens e alguns relatos do evento foram descritos pelo historiador Tito Lívio que, registrou vulgaridades com crianças e animais. E na Bacanália, o casamento era desconsiderado e as relações relações extraconjugais eram consensualmente estimuladas pelos próprio casal. Sendo a imoralidade desenfreada, as festas saíram do controle com a escalada da violência, o que pressionou o Senado romano proibir as festas, permitindo somente em ocasiões específicas.