Paulo Zifum
O jejum é uma forma intensa de oração e também um modo de lembrar que “nem só de pão viverá o homem” (Mt.4.4) e que “a vida é mais que o alimento” (Lc.12.23). O jejum fortalece a vida espiritual e os que praticam se mostram mais resistentes nas adversidades, pois, quem não é capaz de suportar uma breve abstinência voluntária, como resistirá à privações impostas pela vida? E, além de todo benefício espiritual, o jejum, feito corretamente, também traz benefícios para a saúde.
Para os cristãos, a prática do jejum está relacionada ao quebrantamento, súplica diante das aflições, fortalecimento espiritual ou luta pela libertação de pessoas presas física, espiritual ou emocionalmente. A tristeza pelo pecado pode levar ao jejum e o sofrimento pessoal ou de outros. Deve-se jejuar frequentemente, afastando-se por um tempo das distrações e prazeres legítimos, com o fim de dedicar-se mais à oração. E é o jejum um dos recursos mencionados na Bíblia para os que desejam que o Senhor opere livramento na vida das pessoas que sofrem algum tipo de opressão.
Podemos jejuar por questões pessoais como passar em algum exame, conquistar uma colocação profissional ou pedir quaisquer favores divinos. Associar o jejum a algo que se busca em oração demonstra perseverança maior e, os que desenvolvem essa prática, aprendem a jejuar com esses pequenos interesses. Entretanto, o jejum é uma disciplina que está mais relacionada ao Reino de Deus e a sua justiça, de forma que os interesses terrenos se tornam apenas meio e não um fim em si mesmos. Ou seja, a busca por espiritualidade, prosperidade, realização pessoal, posição social, livramento do mal ou algum tipo de triunfo, devem visar o benefício do próximo para a glória de Deus.
Porém, o pecado pode desfocar o jejum, assim como distorce as demais disciplinas espirituais. Esse desvio vai desde jejuar por vaidade em busca de superioridade até para receber bênçãos com o fim de viver regaladamente, que resume uma religiosidade egoísta. Por essa razão o Senhor nos alerta por meio do profeta Isaías:
Clama a plenos pulmões, não te detenhas, ergue a voz como a trombeta e anuncia ao meu povo a sua transgressão e à casa de Jacó, os seus pecados. Mesmo neste estado, ainda me procuram dia a dia, têm prazer em saber os meus caminhos; como povo que pratica a justiça e não deixa o direito do seu Deus, perguntam-me pelos direitos da justiça, têm prazer em se chegar a Deus, dizendo: Por que jejuamos nós, e tu não atentas para isso? Por que afligimos a nossa alma, e tu não o levas em conta? Eis que, no dia em que jejuais, cuidais dos vossos próprios interesses e exigis que se faça todo o vosso trabalho. Eis que jejuais para contendas e rixas e para ferirdes com punho iníquo; jejuando assim como hoje, não se fará ouvir a vossa voz no alto. Seria este o jejum que escolhi, que o homem um dia aflija a sua alma, incline a sua cabeça como o junco e estenda debaixo de si pano de saco e cinza? Chamarias tu a isto jejum e dia aceitável ao Senhor ? Porventura, não é este o jejum que escolhi: que soltes as ligaduras da impiedade, desfaças as ataduras da servidão, deixes livres os oprimidos e despedaces todo jugo? Porventura, não é também que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres desabrigados, e, se vires o nu, o cubras, e não te escondas do teu semelhante? Então, romperá a tua luz como a alva, a tua cura brotará sem detença, a tua justiça irá adiante de ti, e a glória do Senhor será a tua retaguarda; então, clamarás, e o Senhor te responderá; gritarás por socorro, e ele dirá: Eis-me aqui. Se tirares do meio de ti o jugo, o dedo que ameaça, o falar injurioso; se abrires a tua alma ao faminto e fartares a alma aflita, então, a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão será como o meio-dia. O Senhor te guiará continuamente, fartará a tua alma até em lugares áridos e fortificará os teus ossos; serás como um jardim regado e como um manancial cujas águas jamais faltam. Os teus filhos edificarão as antigas ruínas; levantarás os fundamentos de muitas gerações e serás chamado reparador de brechas e restaurador de veredas para que o país se torne habitável. Se desviares o pé de profanar o sábado e de cuidar dos teus próprios interesses no meu santo dia; se chamares ao sábado deleitoso e santo dia do Senhor , digno de honra, e o honrares não seguindo os teus caminhos, não pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falando palavras vãs, então, te deleitarás no Senhor . Eu te farei cavalgar sobre os altos da terra e te sustentarei com a herança de Jacó, teu pai, porque a boca do Senhor o disse.
Isaías 58:1-14
O texto acima é uma pequena parte do livro de Isaías que carrega as mais duras exortações contra a hipocrisia do grupo religioso “que honra com os lábios, mas seu coração está longe” de Deus (Is.29.13, Mt.15.8). E a incoerência que o profeta muito denunciou foi a injustiça (Is.1.18) alertando que o culto a Deus só pode ser aceito se o ofertante ama seu próximo. Jesus deixou isso claro em seu ensino (Lc.10.25-37; Lc.18.9-17), confirmando que o jejum sem piedade é inútil aos olhos de Deus. Isaías confrontou o pecado da religiosidade de aparência, ao dizer: “Pois dia a dia me procuram; parecem desejosos de conhecer os meus caminhos, como se fossem uma nação que faz o que é direito e que não abandonou os mandamentos do seu Deus. Pedem-me decisões justas e parecem desejosos de que Deus se aproxime deles” (Is.58.2). E o profeta explica porque o jejum não era atendido: “Por que jejuamos’, dizem, ‘e não o viste? Por que nos humilhamos, e não reparaste? ’ Contudo, no dia do seu jejum vocês fazem o que é do agrado de vocês, e exploram os seus empregados. Seu jejum termina em discussão e rixa, e em brigas de socos brutais. Vocês não podem jejuar como fazem hoje e esperar que a sua voz seja ouvida no alto” (Is.58.3-4).
Agora, o uso do capítulo 58 de Isaías não pode ser usado apenas para exortar sobre como não jejuar, mas deve ser utilizado para encorajar o jejum, jamais desprezá-lo como se as boas obras o tornasse desnecessário. O texto orienta os crentes piedosos a seguirem as razões corretas para se jejuar para experimentarem a segurança de que receberão o favor divino em sua busca.
O QUE VERIFICAR ANTES DE JEJUAR
Jesus Cristo na Cruz tornou possível que nossas orações, jejuns e sacrifícios sejam aceitos, mas isso não significa que esses nunca seriam rejeitados. E, uma vez que jejum é uma forma de buscar a Deus, Jesus ensinou que a oferta do Jejum deve estar em harmonia com os relacionamentos pessoais, tanto no que tange aos sentimentos quanto ao comportamento (Mt.5.23-25). Dessa forma, o fracasso da oferta está relacionado à negligência do ofertante. E, assim como nossas orações podem ser sujas, o jejum também pode ser um sacrifício misturado com maldade, mágoa, ira ou soberba. Deus não aceitará nada nessas condições.
AS BOAS OBRAS DEVEM PRECEDER O JEJUM
O ofertante é lembrado que Deus não é como os deuses pagãos cujo capricho apenas exige penitências para atender pedidos. O Deus Eterno em seu caráter moral revela que o amor ao próximo é o que mais lhe agrada. E quando ele nos vê sendo humildes e bondosos, seu favor de inclina em nossa direção. E para evitar que o tema prenda-se ao contemplativo, Isaías prescreve as obras que devem preceder o jejum: “O jejum que desejo não é este: soltar as correntes da injustiça, desatar as cordas do jugo, pôr em liberdade os oprimidos e romper todo jugo? Não é partilhar sua comida com o faminto, abrigar o pobre desamparado, vestir o nu que você encontrou, e não recusar ajuda ao próximo?” (Is.58.6-7) e “se você eliminar do seu meio o jugo opressor, o dedo acusador e a falsidade do falar; se com renúncia própria você beneficiar os famintos e satisfizer o anseio dos aflitos” (Is.58.9-10) e “se você vigiar seus pés para não profanar o sábado e para não fazer o que bem quiser em meu santo dia; se você chamar delícia o sábado e honroso o santo dia do Senhor, e se honrá-lo, deixando de seguir seu próprio caminho, de fazer o que bem quiser e de falar futilidades” (Is.58.13).
A PROMESSA DE RESPOSTA
Uma vez que o ofertante agradou o Senhor com sua vida altruísta, o Senhor promete as seguintes bênçãos:
Presença divina: “como a alvorada, e prontamente surgirá a sua cura; a sua retidão irá adiante de você, e a glória do Senhor estará na sua retaguarda. Aí sim, você clamará ao Senhor, e ele responderá; você gritará por socorro, e ele dirá: Aqui estou” (Is.58.8-9).
Satisfação de Alma: “então a sua luz despontará nas trevas, e a sua noite será como o meio-dia. O Senhor o guiará constantemente; satisfará os seus desejos numa terra ressequida pelo sol e fortalecerá os seus ossos. Você será como um jardim bem regado, como uma fonte cujas águas nunca faltam” ((Is.58.10-11).
Vida com Propósito Elevado: “O Senhor o guiará constantemente; satisfará os seus desejos numa terra ressequida pelo sol e fortalecerá os seus ossos. Você será como um jardim bem regado, como uma fonte cujas águas nunca faltam. Seus filhos reconstruirão as velhas ruínas e restaurará os alicerces antigos; você será chamado reparador de muros, restaurador de ruas e moradias… então você terá no Senhor a sua alegria, e eu farei com que você cavalgue nos altos da terra e se banqueteie com a herança de Jacó, seu pai. ” Pois é o Senhor quem fala. (Is.58.11-14).
Jejuar corretamente é necessário e reserva experiências exclusivas.