FIZEMOS TUDO

Pai Zifum

Fizemos tudo? Eu e sua mãe temos dúvida se conseguimos ensinar vocês tudo que precisam para serem cristãos. Nos sentimos insuficientes e, por vezes, fracos diante dos desafios da paternidade. Mas, Deus sabe que nos esforçarmos tentando de tudo para ganhar o coração de vocês para Cristo, o que cremos ter conseguido. Entretanto, não podemos negar que, por vezes, sentimos medo de perder vocês para o mundo. Travamos muitas aflições com nossas ansiedades.

Pedimos ao Senhor que os atraísse para si e que vocês aprendessem orar, de modo que experimentassem sozinhos uma devoção própria que não fosse artificial causada por nós. Desejamos que, além da expressão “o Deus de nossos pais”, vocês pudessem dizer “o Senhor, nosso Deus” com intimidade para com o Eterno.

Porém, embora toda a dedicação, às vezes não sentimos ter alcançado nosso alvo. Será que o Senhor nos reprovou por sermos pais carnais? Será que faltou maior fervor no ambiente de nosso lar? Concluímos que não fizemos tudo.

Ainda que tenhamos falhado, mesmo assim, cremos que o Senhor é suficiente e poderoso para salvar a vida de vocês. Essa doce esperança que nos move a crer que nossa fé se manifestará mais forte e madura na vida de vocês. Pedimos ao Senhor que se revele a vocês de modo que, tudo que não viram em nós, vejam diretamente com Ele. E nossa mais profunda alegria é imaginar vocês ajoelhados adorando aquele que, de fato, conhecem. Entregamos nosso pobre “tudo” que fizemos a Deus, na confiança de que ele fará em vocês “infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos”.

O BURACO

Paulo Zifum

Passei com o pneu de meu carro em um buraco que pude ouvir o soco da suspensão no asfalto. Parei adiante, instintivamente. Como era numa curva fechada, esqueci os possíveis danos de meu carro e fui buscar alguma sinalização para livrar outros motoristas. Enquanto pegava galhos de árvore, ouvi outro estampido. A próxima vítima foi desacelerando o veículo que parecia estar mancando depois de uma topada no dedo. -Que pena! -Eu ia te avisar, mas não deu tempo! disse, lamentando. O motorista seguiu viagem e eu continuei minha boa ação. Além dos galhos, peguei pedras para suavizar o impacto caso não vissem o sinal. Para minha surpresa, vejo do outro lado da pista um homem com uma pá cavando uma encosta de saibro. Ele enchia o carrinho de mão, visivelmente bravo. Falou comigo sem me olhar: -Pedi ontem a meu ajudante que tapasse esse buraco e ele, mexendo no celular, disse que fecharia”. Agradeci, sabendo que a ação dele seria mais eficaz. Segui viagem pensando que a vida é assim, repleta de buracos que surgem dos serviços de má qualidade, e esses buracos permanecem porque gente negligente não faz ideia dos desastres que podem ocorrer. Sai dali meditando nos serviços que presto e em minhas negligências.

EGOÍSTA OU CRISTÃO

Paulo Zifum

Egoísmo e cristianismo são termos autoexcludentes. Não é possível uma pessoa seguir a Jesus e, ao mesmo tempo, viver para si mesma. A pregação de Cristo é a cura para todo tipo de egoísmo, pois ele disse: “se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome diariamente a sua cruz e siga-me” (Lc.9.23). A pregação da Cruz nos diz que “o amor de Cristo nos constrange, porque estamos convencidos de que um morreu por todos; logo, todos morreram. E ele morreu por todos para que aqueles que vivem já não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou” (2Co.5.14-15).

Por isso Jesus disse que seus seguidores são sal e luz do mundo, ou seja, são em essência uma benção para doação. Não há sentido no sal confinado no saleiro ou uma luz acesa para ser escondida. Assim a Igreja não pode existir apenas para conservar “um estilo de vida edificante num clima emocionante e cerimonioso… que apenas se auto-satisfaz e não trabalha nem se multiplica”.¹

Passei em frente de uma sinagoga chamada Shalom. Sempre quis entrar para conhecer e, quem sabe, ouvir uma aula sobre a Tōrāh. Mas, como o prédio estava sempre fechado e sem informações sobre os horários de suas reuniões, fui pesquisar na internet. Infelizmente, só encontrei um vídeo antigo de uma apresentação de violino numa tarde de Shabat. Com esperança de que alguém tenha postado algo útil nos comentários, abri para ler. Para minha decepção, haviam apenas as notas seguintes:

O que ocorre em sinagogas também acontece com diversas Igrejas que se fecham entre seus pares. O propósito de Israel existir como nação foi determinado desde Abraão (Gn.12) para abençoar as nações com a pregação que revela a glória de Deus (Sl.96). Da mesma forma, a Igreja não pode se tornar um lugar elitizado ou tribalista como as religiões de mistério, antes deve ser acessível e, principalmente, simples com sal e luz, como o mundo tanto precisa.

¹Fritz Rienecker, Comentário de Mateus, pág.80-81.

SAL E LUZ DO MUNDO

Paulo Zifum

Vocês são o sal da terra. Mas se o sal perder o seu sabor, como restaurá-lo? Não servirá para nada, exceto para ser jogado fora e pisado pelos homens. Vocês são a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte. E, também, ninguém acende uma candeia e a coloca debaixo de uma vasilha. Pelo contrário, coloca-a no lugar apropriado, e assim ilumina a todos os que estão na casa. Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus“. Mateus 5:13-16

Jesus usava figuras de linguagem poderosas em seus discursos, pois eram precisas e memoráveis. Ao dirigir-se a um mundo sem sentido e escurecido pelo pecado, Jesus envia seus discípulos para cumprirem uma missão altamente relevante: levar aos perdidos o sentido da existência e luz aos espiritualmente cegos. E essas duas figuras confirmam que, uma vez que os discípulos receberam poder para serem sal e luz, eles se tornam uma dádiva para o mundo. São eles que oferecem sabor e clareza para o mundo. Não precisam ser salgados ou iluminados, pois carregam consigo essa benção que age de modo invisível como o sal e de modo evidente como a luz. Os cristãos, tanto fazem diferença de modo discreto como assumem papéis de destaque (Dn.2.-5).

Parece que a escolha das figuras sal e luz forma um ponto essencial de equilíbrio do ser. Como o sal, o seguidor de Jesus deve primeiro se dissolver, negar-se a si mesmo, sacrificar-se pelos outros e estar disposto a dizer: “convém que ele cresça e que eu diminua” (Jo.3.30). Assim como o sal destaca a realidade sem aparecer, o cristão deve fazer diferença sem desejar ser visto pelos homens (Mt.6.1-6), na motivação de servir para depois de desaparecer. Essa humildade equilibra o coração do discípulo que, ao as realizar curas, restauração e libertação em nome de Jesus, nada retém dessa glória para si (At. 14.11-18). O sal não pretende ter protagonismo assim como o refletor nunca aponta para si, da mesma forma os cristãos desejam realçar a Cristo e iluminar o palco onde está aquele que é o centro de todas as coisas (Cl.1.17).

Diante dessa interpretação, podemos concordar que as figuras de linguagem, metáforas, símiles e parábolas de Jesus são poderosos métodos de comunicação.

BAIXAR O SARRAFO

Paulo Zifum

No esporte, o salto em altura exige que o atleta pule sobre uma barra horizontal chamada sarrafo. Após todos os concorrentes tentarem o salto, pede-se para subir o sarrafo, ou seja, elevar o nível da competição. Daí surge a metáfora do “subir ou baixar o sarrafo”, para mensurar o nível das coisas.

Autoridades, por vezes, precisam “baixar o sarrafo” de exames e provas quando nenhum dos concorrentes alcançam o padrão estabelecido. Também podem “subir o sarrafo” caso o nível dos participantes se mostre alto. Nos ambientes de disputa, é comum a busca por melhora do desempenho, que é favorável para o desenvolvimento humano.

Em geral, a beleza ou feiura da arquitetura urbana é medida no padrão das casas, o nível do trato das relações sociais reflete o que cada pessoa aprende no seio de suas famílias, a nobreza de um povo no padrão de suas leis que, por sua vez, dependem do caráter ético e moral de suas autoridades. E são as autoridades responsáveis pelas leis de postura que elevam ou reduzem o padrão de uma sociedade. Nesse caso, podemos observar o quanto políticas públicas podem subir ou baixar o “sarrafo” com movimentos mecânicos de intervenção.

Por trás dessas ações, notamos a tendência pós-moderna de “baixar o sarrafo” moral de muitas coisas, confinando a sociedade a um padrão muito inferior daquele oferecido pelo cristianismo. Ora, os conceitos morais da Bíblia são desconfortáveis para uma minoria majoritária domina as esferas jurídicas, educacionais e midiáticas. E para livrar-se desse legado indesejado é preciso relativizar os padrões do que é certo e errado. E o “sarrafo” é baixado ao chão quando ideias de igualdade são disseminadas como se diferenças entre as pessoas não existissem. Essa ação tende a premiar a todos de igual modo, criando uma ideia falsa de justiça onde os mais dedicados são nivelados com insolentes e o mínimo esforço é suficiente. Os efeitos colaterais são diversos e podemos destacar a atual flacidez dos pais na educação dos filhos, o nível de desrespeito da relação professor-aluno nas escolas e a constante impunidade de criminosos.

Uma sociedade liderada por homens relativizam a moral, não pode esperar um futuro mais nobre e virtuoso. Portanto, é preciso que Cristo seja apresentado como padrão da humanidade, de modo que, ao olharmos para ele sejamos desafiados a “saltar” mais alto que esse mundo. Ele mesmo disse: “se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus” (Mt.5.20), ou seja, nunca vamos crescer se aceitarmos a hipocrisia ou a superficialidade desse mundo. Mas, se ouvirmos o Sermão do Monte, vamos perseguir o alto padrão de Cristo e, por sua “graça que educa” (Tt.2.11), seremos elevados.

*foto: a evolução do salto em altura começou com atletas pulando 1.97m e hoje o recorde mundial é de 2.45m. Seria maravilhoso se nossa sociedade seguisse esse padrão em vez de involuir.

BRILHE SUA LUZ

Paulo Zifum

Vocês são o sal da terra. Mas se o sal perder o seu sabor, como restaurá-lo? Não servirá para nada, exceto para ser jogado fora e pisado pelos homens. Vocês são a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte. E, também, ninguém acende uma candeia e a coloca debaixo de uma vasilha. Pelo contrário, coloca-a no lugar apropriado, e assim ilumina a todos os que estão na casa. Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus“. Mateus 5:13-16

Jesus, escolheu discípulos para treiná-los e depois enviá-los ao mundo. O mestre, didaticamente, sintetizou todo seu ensino em um único discurso conhecido como Sermão do Monte, tratando primeiro as questões de identidade para, depois, abordar questões da ética. Essa ordem é lógica porque para se desenvolver, uma pessoa precisa saber quem ela é e qual é o propósito de sua vida. Por isso, o Senhor inicia sua pregação com as “bem-aventuranças” contrariando as noções de sucesso deste mundo, pois não são os abastados, violentos, durões e espertos que vencerão. Segundo o Senhor, são as pessoas conscientes de seu estado perante Deus, as pessoas sensíveis e humildes, que estão determinadas a fazer o bem ao próximo, mostrando misericórdia e não justiçamento para com os que falham, mantendo seus pensamentos e sentimentos limpos, que abraçam o ministério sublime da reconciliação em busca da paz (Mt.5.3-9), são essas que, por fim, herdarão o Reino dos Céus, que está além deste mundo.

E é com essa perspectiva no mundo porvir que Cristo convida seus discípulos à uma vida existencialmente plena, cuja identidade é consolidada nas bem-aventuranças. Essa vida humilde de amor firme que conduz à felicidade verdadeira, é o “ser feliz” que antecede o “fazer feliz”, é o “ter paz” que possibilita o “levar a paz”.

Então, após introduzir princípios sólidos de identidade, Jesus declara que o propósito da vida cristã é glorificar a Deus por meio das boas obras. E para elucidar, o Senhor usa as figuras do sal e da luz para ensinar sobre a relevância de uma vida útil que não pode ser ignorada. Portanto, assim como o sal e a luz alteram a percepção das coisas, da mesma forma o testemunho dos cristãos melhora, confronta e redime o mundo.

Esse testemunho acontece por meio da qualidade de seu casamento, da educação dos filhos, da harmonia da família como um todo. O comércio deve distinguir bem o prazer do que é atender ou ser atendido por cristãos e também a segurança que é negociar com eles. E na defesa dos pobres e oprimidos, a vida do cristão deve brilhar ainda mais. Porém, segundo Jesus, é possível que discípulos “percam seu sabor” ou “escondam sua luz”, e venham a desviar do propósito para o qual foram criados. Quando esse desvio ocorre, o ministério é censurado (2Co.6.3), porque os χριστιανους – kristianus (literalmente: pequenos cristos- At.11.26) não estão apresentando uma cópia fiel daquele que declarou “eu sou a luz do mundo” (Jo.8.12).

Mas, graças ao Espírito Santo, a Igreja como um saleiro cheio de sal ou como uma candeia de azeite, salga e ilumina por meio das boas obras de seus membros. Por meio dessas obras, a Igreja tem modificado, confrontado e redimido a sociedade na qual está inserida, mostrando no dia-dia, pela vida exemplar de suas famílias, pelas formas de tratamento e serviços prestados ao próximo.

A Luz do Modelo de Família
Vivemos num mundo onde as famílias parecem se desintegrar. Há uma sombra escura sobre os lares, conflitos insolúveis entre marido e esposa, pais e filhos e entre parentes. Nesse contexto, os cristãos surgem com bom testemunho, como luz em meio às trevas.

A Luz das Formas de Tratamento
Vivemos num mundo onde é preciso fazer propaganda para estimular a gentileza, porque está escrito: “por se multiplicar a iniquidade, o amor se esfriará de quase todos” (Mt.24.12). Essa frieza cria uma grande escuridão de incertezas e solidão nos relacionamentos. A falta de calor humano e a ausência de cumprimentos cordiais, são sinais de falta de luz. Os preconceitos e estimagtizações separam as pessoas em tribos e isolam uns aos outros sem dar change para diálogos amigáveis. Nesse contexto, os cristãos se levantam para mostrar como todas as pessoas são preciosas.

A Luz dos Serviços Prestados
Vivemos num mundo da “farinha pouca, meu pirão primeiro” ou “quem parte e reparte e não fica com a melhor parte”, pois está escrito: “nos últimos dias sobrevirão tempos difíceis e os homens serão egoístas, avarentos” (2Tm.3.1-2). Nesse contexto de trevas, os cristãos iluminam o caminho com a sensibilidade e sacrifício de suas boas obras.

Conclusão:
Espera-se que o cristianismo se destaque entre religiões comparadas e na sociedade, por causa da singularidade de Jesus Cristo. Nenhum líder religioso viveu como Jesus, ensinou o que ele ensinou e se sacrificou como ele. Portanto, quando declaramos que seguimos a Cristo, assumimos a identidade dele como luz do mundo. E, assim como “a vida estava nele e a vida era a luz dos homens” e “a luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela”, da mesma forma a Igreja deve resplandecer.

DOIS TIPOS DE MEMBROS

Paulo Zifum

Uma amável diretora de escola me contou que existem dois tipos de alunos que precisam ser chamados na diretoria: aquele que, com frequência, maltrata o amiguinho e o que é infrequente. O primeiro caso, segundo ela, é o mais desgastante porque os alunos que tiram a paz dos outros, normalmente não faltam na escola e, um ou dois são suficientes para desestabilizar todos os alunos do período. Já o caso dos alunos faltosos, a dúvida deixa tensa a equipe de direção, porque a criança pode estar correndo algum tipo de risco como estar entregue a si mesma (caso das rebeldes que não querem estudar), também pode desejar ir à escola mas foi privada por abandono ou pode estar sofrendo maus tratos. As duas situações são difíceis.

Assim também, esses dois tipos precisam de tratamento na Igreja. Assim como na escola todos são alunos, na Igreja todos são pecadores. Mas, os pecadores que maltratam a outros dentro da Igreja, precisam urgente de um certo confronto, porque está escrito: “se vocês se mordem e se devoram uns aos outros, cuidado para não se destruírem mutuamente” (Gl.5.15). E assim como a evasão dos alunos sinaliza importante problema a ser investigado, os membros infrequentes de uma Igreja merecem devida atenção. Algo anormal pode estar acontecendo. Os cristãos desejam estar juntos porque Cristo se manifesta de modo especial nas reuniões, pois ele prometeu que “onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estarei” (Mt.18.20).

Os crentes cujo temperamento ainda não foi moldado no amor, tendem a tratar as pessoas com uma certa dureza e até com muita hostilidade. Embora seja muito raro algum tipo de violência física na Igreja, é comum pessoas serem machucadas com palavras maldosas de julgamento. E aqueles que se acham melhores e mais justos que os outros, normalmente não tem nobreza para tratar com amabilidade e são esses que difamam a própria comunidade da qual fazem parte. E quando se sentem ofendidos, reagem quase imediatamente. Essas pessoas precisam ser abordadas e conduzidas ao amor que, infelizmente, já deviam conhecer estando na Igreja. E a esses cabe o seguinte texto: “Você, que se orgulha na lei, desonra a Deus, desobedecendo à lei? Como está escrito: “O nome de Deus é blasfemado entre os gentios por causa de vocês” (Rm.2.23-24) e ainda: “o amor não pratica o mal contra o próximo. Portanto, o amor é o cumprimento da lei” (Rm.13.10).

E o que dizer daqueles que tem o costume de faltar nas reuniões da Igreja (Hb.10.25)? Talvez não saibam que a ausência frequente inviabiliza o cuidado espiritual gerando dúvidas que fazem com que o trabalho pastoral deixe de ser uma alegria e se torne um peso (Hb.13.17). E é importante ressaltar que os faltosos aqui não são os doentes ou fracos na fé que foram impedidos de congregar, mas aqueles que negligenciam a comunhão cristã e a trocam por ocupações carnais e egoístas. Esses, precisam ser visitados ou chamados para uma conversa sincera. Não para serem julgados ou constrangidos, mas para esclarecerem se, de fato, não precisam de cuidados espirituais. Pois a falta frequente nos cultos sinaliza o seguinte: “Estou rico, adquiri riquezas e não preciso de nada” (Ap.3.17). Se o desprezo à comunhão dos santos é fruto de uma declaração de autonomia, os pastores podem ser dispensados por Deus da tarefa de cuidado. Mas, enquanto isso não se define, definha a alma dos zeladores do rebanho.

Cada um examine-se a si mesmo.

VOCÊ MUDA QUANDO SE CONVERTE

Paulo Zifum

Paulo se divorciou de sua esposa quando sua filha ainda tinha 5 anos de idade. Foi uma separação litigiosa com longas disputas da judiciais pela guarda da menina. A mãe era usuária de drogas e tinha se juntado com um cara nada virtuoso. Paulo, por anos tentou tirar a filha de sua ex-esposa, depois de muitos anos, a menina já era adolescente, ele obteve a guarda. Mas, a menina estava rebelde e passou a dar muito trabalho e, foi nesse contexto, que Paulo descobriu o quanto sua filha amava o padrasto, apesar de todos os seus erros. Com ciúme, passou a disputar a atenção de sua filha tentando ser legal com ela o tempo todo, mas parecia que menina ao perceber uma certa artificialidade, demonstrava ainda mais seu afeto pelo padrasto. Certo dia, por causa da situação, o pobre pai começou a ficar tão angustiado que foi parar no hospital. Ali na recepção, um homem percebendo sua aflição, sentou a seu lado e lhe disse: -Amigo, Cristo pode te dar vitória, o que você deseja vencer em sua vida. Paulo, sem pensar disse: -Quero que minha filha goste de mim e não goste mais do padrasto dela que é uma má influência. Com olhar terno, o desconhecido lhe falou do amor de Cristo explicando o Evangelho de modo simples. Por fim, explicou o endereço da Igreja e o convidou a fazer uma visita. Paulo se converteu naquela semana e tudo em sua vida mudou. Ele passou a sentir um amor e uma paz que nunca havia experimentado, e percebeu o quanto sua vida tinha sido vazia e como não tinha o que oferecer para as pessoas a seu redor. Ele estava sempre brigando com tudo e com todos porque estava sempre frustrado e amargo. Porém, tudo estava diferente e sua relação com sua filha mudou radicalmente, inclusive passou a tratar bem sua ex-mulher. Depois de alguns anos, sua filha ficou noiva de um bom rapaz e Paulo cuidou de toda a festa do casamento. Chegando o dia da cerimônia, com tudo pronto e diante dos convidados, Paulo fez algo extraordinário. Ele interrompeu a entrada da noiva. Sim. Ele deixou a filha no meio da nave, e todos, inclusive a filha, ficaram sem entender. Paulo foi em direção do padrasto, o puxou pela e disse: -Você trabalhou tão duro quanto eu para cuidar dessa menina, e ele merece que seus dois pais a levem para o altar. O rosto do padrasto, visivelmente constrangido, soltou lágrimas. A filha estava aos prantos e os convidados também. Assim pois, o mundo, vez em quando, é surpreendido pelo amor.

*Foto: A ficção acima foi baseada numa história real. Leia no link https://boletimnews.com/2021/04/29/pai-interrompe-casamento-da-filha-para-levar-padrasto-ao-altar/10282/

CARTA PARA UM AMIGO CASADO

Amigo, quanto ao que você me escreveu, agradeço a confiança em partilhar suas lutas pessoais. Lamento que seu casamento esteja numa crise afetiva tão complexa. E, embora você me considere um conselheiro, não sei por onde começar. Amo você e sua esposa e sempre os encorajei a permanecerem juntos, mas temo que o problema conjugal esteja profundo demais. Por isso, eu insiste que você volte a frequentar os cultos na Igreja. O homem em pé não consegue resolver problemas do coração, mas se ajoelhar-se poderá achar solução. Quando vamos ao culto temos oportunidade de dobrar nosso orgulho e entender que somente Deus pode consertar determinadas situações, e um casamento enfermo é o caso.

Fico feliz que você dois conseguiram conversar sobre as últimas ofensas e que houve o pronunciamento da palavra “perdão”. Achei incrível a ilustração que você usou da travessia de uma fronteira aduaneira. Você disse que a parte ofendida pode ser como um policial desconfiado e hostil que nega a entrada. O ofensor que pede perdão é como aquele que encosta o carro, apresenta os documentos e o passaporte pedindo para entrar. Se não houver perdão, o coração duro exige mais provas e ordena que o outro faça meia volta e se afaste com o risco até de desistir. Admirei essa explicação, principalmente a parte que disse que o verdadeiro perdão, após deixar o outro entrar, não segue atrás com o viatura para vigiar o outro no próximo delito, antes o deixa ir livre para recomeçar com o direito de errar, como Deus faz. Estou feliz que vocês decidiram perdoar, mesmo que a situação afetiva ainda esteja muito “aguada”.

E por falar em água, lembrei do milagre de Caná da Galileia onde Jesus transformou água em vinho numa festa de casamento. Creio que a situação de você é parecida, pois um casal não pode brindar a vida com água. E eu que pedi a Jesus que fizesse uma mudança em seus corações, já estendo meu copo para provar desse vinho novo que só ele pode fazer. Tenho fé, por isso gostaria de sugerir pequenas atitudes que, feitas com amor e perseverança, podem resgatar o bem-estar conjugal.

Caro amigo, casais podem desenvolver uma rotina que tolera algum tipo de má qualidade de vida. Os homens tendem a ser os mais distraídos e pouco sensíveis quanto à esse problema porque se entregam ao trabalho que parece justificar tudo. Mas, negligenciar a busca por uma vida conjugal mais feliz e significativa é um grande desperdício. Por isso, sugiro que você mexa em sua rotina, não necessariamente que a mude, mas que modifique posturas aplicando intencionalidade em algumas áreas.

Primeiro, verifique como está o trato das palavras entre vocês. É possível dar “bom-dia” de uma forma mais grata e contagiante, mas alguns casais parecem que acordam para suportar um ao outro. A falta do sorriso nos cumprimentos, tornam o “oi” e o “tchau” como uma placa velha sem vida e sem calor. O “por favor” e “muito obrigado”, que são formas de dizer “eu te amo”, podem se tornar formas mecânicas sem significado. Por isso, seja intencional de deseja acender o chama do amor, mesmo que sua esposa esteja como lenha molhada, não desista de aquecê-la. Lembra do filme “Prova de Fogo”? Então, seja intencional e perseverante.

Segundo, valorize mais as refeições, pois é ao redor da mesa que conversas do coração podem acontecer. Talvez, seu casamento foi dispensando convites amáveis e especiais para sentar-se à mesa, mas você pode e deve fazer isso. Convide, marque dia e hora, compre ou prepare algo que ela gosta, peça se ela pode preparar a mesa ou até te ajudar a preparar. Havendo intencionalidade, o amor pode surgir renovado.

Incrível como que com o passar do tempo, os casais começam a desprezar coisas simples como dar uma volta no quarteirão, fazer uma brincadeira juntos como jogo da velha ou deitar-se apenas para abraçar e falar da vida. E, uma vez que perdemos esses bons costumes, precisamos de ser intencionais, já que as coisas podem não estar fluindo naturalmente.

Algumas mulheres quando estão entediadas ou frustradas, vão ao salão beleza mudar seu visual. O homem sente pouca necessidade de mudança nesse sentido estético, mas há uma coisa que alguns precisam cuidar urgente: a forma como se veste em casa. Seja intencional ao vestir-se bem após o banho e use perfume. Talvez, isso seja uma quebra de rotina que cause boa impressão.

Um passeio, já demanda maior planejamento, mas surpreende bastante. Sua esposa gosta muito de sair para lugares agradáveis, mas não faz questão de nada caro. Admiro a simplicidade dela. Você é que é pão duro e evita sair para não gastar dinheiro. Eu sei que você tem pouca habilidade com saídas de casa e sempre prefere o conforto de sua sala, mas não acredito que vá conseguir revitalizar seu casamento sem esforços.

Por fim, seja intencional em suas orações. Converse com Deus pedindo que Ele restaure a amor e que te ensine a ser o marido que ele quer que você seja. Quando falamos com Deus, percebemos que deixamos as coisas mais importantes escapar diante de nós, e notamos que Ele é a fonte do amor que tanto buscamos demonstrar. Deus é capaz de encher nossos coração de amor.

Deus te ajude!
Diga à sua esposa que pretendemos visitar vocês nas férias das crianças.
Com carinho
Seu amigo.

GÊNESIS E EDUCAÇÃO DE FILHOS

Paulo Zifum

A Teologia Aplicada em Gn.3.1-4 destaca lições importantes para Educação de Filhos:

Ora, a serpente era o mais astuto de todos os animais selvagens que o Senhor Deus tinha feito. E ela perguntou à mulher: “Foi isto mesmo que Deus disse: ‘Não comam de nenhum fruto das árvores do jardim’? “Respondeu a mulher à serpente: “Podemos comer do fruto das árvores do jardim, mas Deus disse: ‘Não comam do fruto da árvore que está no meio do jardim, nem toquem nele; do contrário vocês morrerão’ “. Disse a serpente à mulher: “Certamente não morrerão! Deus sabe que, no dia em que dele comerem, seus olhos se abrirão, e vocês serão como Deus, conhecedores o bem e do mal. Gênesis 3:1-5

Lição 1: O ser humano não está sozinho neste mundo. Ele divide sua existência com anjos e demônios.¹ Essa informação é pertinente para pais cristãos que se distraem e esquecem da realidade espiritual que cerca seus filhos no mundo (Ef.6). Satanás é capaz de usar diversas agências para acessar nossos filhos com suas narrativas. Ele dissemina dúvidas cujos questionamentos levam os inexperientes ao engano. Ele é capaz de usar os próprios pais super protetores, legalistas, culpados ou egoístas. Suas ações sutis podem facilmente colocar incitar ira e mágoa entre pais e filhos. Há uma trabalho maligno constante para desviar crianças por meio de parentes, amigos e educadores, mesmo que estes não tenham consciência de serem agências do mal. E hoje o jardim preferido de Satanás é disseminar digitalmente uma cultura anticristã. Os pais devem ler o texto de Gênesis e saber que seus filhos, em algum momento, serão abordados e não há como impedir, porém há como vigiar, preparar com ensino e intervir com conversas amigáveis.

Lição 2: A narrativa do mal visa dividir para ganhar. O trabalho de Satanás é causar divisão entre o ser humano e Deus, entre marido e esposa e mãe e entre pais e filhos. O conflito é criado com mentiras absurdas do tipo “seus pais proíbem tudo e você não pode fazer nada”. Quando filhos ouvem coisas desse tipo são obrigados a defenderem sua liberdade limitada e é nesse momento que Satanás consegue aliciar levando a conversa para a fixação daquilo que é proibido. Depois que a serpente encanta a vítima, ela seu bote: Deus está mentindo e sua intenção é privar você de coisas boas que ele quer só para si. Então, o veneno da dúvida uma vez inoculado, precipita os filhos a agirem de modo insensato. E o principal alvo é despertar o desejo de antecipar a autonomia, para depois propor meios rebeldes de se obtê-la, ou seja, romper com a autoridade ou as leis. Os pais que conhecem a Palavra de Deus, correm e levam seus filhos a Cristo, o único que pode livrá-los tanto do pecado como dos enganos de Satanás.

Lição 3: A criança, como Eva, é sem juízo, vulnerável e curiosa. Se os adultos tendem a acreditar em coisas que ouvem sem averiguar a veracidade, o que dirá uma criança. Para educar corretamente é preciso crer que a condição é carente de ensino preventivo. Conversar com os filhos sobre dúvidas quanto à existência e a bondade e justiça de Deus é essencial para saibam como responder aos questionamentos da fé. E é importante manter o diálogo aberto para que os filhos possam compartilhar situações em que não souberam o que dizer ou como se sentiram inseguros. O ensino sábio simula situações e prepara os filhos para perceberem como age o gênio do mal. Embora o ensino não seja uma blindagem de tudo², pode ser uma torre alta de refúgio.

¹Permissão do Mal: Deus criou o ser humano, homem e mulher, e os colocou em segurança no jardim do Éden, onde tinha tudo que necessitavam. Como pai, Deus dá a eles liberdade limitada, o que é saudável. E quando falamos de liberdade limitada nos referimos à proibição de comer de apenas uma árvore. E essa limitação não era física, tinha apenas uma fronteira moral que poderia ser facilmente ultrapassada no estender da mão (em nossos dias diríamos: em apenas um clique). Deus não dificulta nem o acesso ao mal e também não impede que o mal nos acesse.

²Possibilidade de fracasso: Mesmo que os pais sejam cuidadosos e acessíveis, ainda assim, os filhos podem se fechar e “saltar” para o desconhecido. Note que Adão e Eva, mesmo sendo instruídos e tendo Deus diariamente com eles para conversar, decidiram experimentar o fruto proibido. Satanás tentou a Jesus e tentará nossos filhos. A educação é uma parceria com Deus. O resultado final depende de Deus.