DOZE ANOS

Paulo Zifum

Todos os pais cristãos,
no aniversário de 12 anos dos filhos,
deveriam ler para eles
a seguinte narrativa:

Todos os anos os pais de Jesus iam a Jerusalém para a festa da Páscoa. Quando ele atingiu a idade de doze anos, a família foi à festa, como era hábito. Terminada a comemoração, tomaram o caminho de volta para Nazaré, mas Jesus ficou para trás em Jerusalém. No primeiro dia os pais não deram pela sua falta, porque julgavam que estivesse com amigos ou entre os outros viajantes. Mas quando não apareceu naquela noite, começaram a procurá-lo entre os parentes e amigos. Não o encontrando, voltaram a Jerusalém, continuando a procurá-lo. Três dias depois, encontraram-no. Achava-se no templo, sentado entre os especialistas na Lei, ouvindo-os e fazendo-lhes perguntas, deixando toda a gente admirada com a sua inteligência e respostas. Os pais não sabiam o que pensar quando o viram ali sentado. “Filho”, disse-lhe a mãe, “porque nos fizeste isto? Teu pai e eu estávamos desesperados, à tua procura!” “Mas que necessidade tinham de procurar-me?”, disse-lhes. “Não calcularam que estaria aqui no templo, na casa do meu Pai, pois preciso tratar dos seus assuntos?” Mas eles não entenderam o que lhes dizia. Jesus voltou com os pais para Nazaré e era-lhes obediente. E a sua mãe guardava todas estas coisas no coração. Assim Jesus crescia, tanto em tamanho como em sabedoria, achando graça aos olhos de Deus e dos homens” (Lc.2.41-52).

Essa leitura acompanhada dos destaques e aplicações devidas, devem causar grande impacto na consolidação da identidade de um jovem. Eis os destaques:

Jesus era levado para o Templo desde bebê.
A criança assimila no costume dos pais que a ida ao Templo é importante. Embora inicialmente a criança não fosse capaz de compreender o sistema sacrificial da Lei Cerimonial nem as razões sociais da Lei Moral, ela poderia desenvolver a importante noção do sagrado. E as partes integrantes do Culto a Deus e suas exigências que certamente aguçam a curiosidade da criança dão oportunidade aos pais de explicarem a elas a fé. Não sabemos se José e Maria explicavam a Lei conforme Deuteronômio 6, mas com certeza os rabinos ao alfabetizarem os meninos nas sinagogas de cada cidade, poderiam instigar e tirar suas dúvidas sobre a sabedoria da Lei. O destaque é que, se os pais de Jesus viajavam dias, uma vez por ano, de Nazaré até Jerusalém para irem adorar no Templo, podemos imaginar o quanto esse costume poderia influenciar uma criança.

Jesus demonstrou seu interesse pela Lei
A criança estimulada pelo estudo, desenvolve capacidade intelectual para debater assuntos de seu interesse. Jesus surpreendeu a seus pais, pois em vez de ser encontrado brincando com os meninos, estava com os doutores da Lei fazendo perguntas e dando respostas. O destaque está no campo de interesse e desenvolvimento intelectual de Jesus, mostrando que crianças de doze, uma vez estimuladas, são capazes de compreender assuntos profundos sobre a fé.

Jesus assume sua identidade espiritual
A criança amada e orientada pode, desde cedo, ter certeza de sua identidade dentro da família e na sociedade. Mas, nem todas as crianças alcançam a certeza que Jesus, aos doze anos, tinha sobre si. Ele sabia que José e Maria eram seus pais, mas ao dizer: “eu deveria estar aqui no Templo, na casa do meu Pai, pois preciso tratar dos seus assuntos”, ele assume sua identidade espiritual, e isso muda totalmente a vida de uma pessoa. Nossa identidade é reclamada por nossos pais terrenos, mas o ser humano tem um destino eterno, ou seja, a existência vai além da limitada vida dos pais. Portanto, quando uma criança tem segurança em sua relação com o Deus Eterno, podendo chamá-lo de Pai, ela já encontrou resposta para as grandes questões da vida, a saber: quem sou eu? de onde vim? e para onde vou? O destaque é que, se José e Maria precisavam de uma prova de que a educação de Jesus estava concluída, eles receberam ali naquela ocasião. Uma criança está pronta para enfrentar o mundo se ela souber lidar com a vida a partir da Palavra de Deus e, principalmente, se ela sabe quem ela é diante de Deus.

Considerações finais

Entre cristãos, a leitura dessa narrativa deveria ser uma tradição dos aniversários de 12 anos. Sugiro que não seja apenas uma leitura, mas um rito de passagem, com os seguintes elementos:

1-Que o jovem de 11 anos e os pais sejam preparados para esse rito, sendo orientados a ler e decorar essa narrativa. 2-Que no dia do aniversário os presentes sejam marcantes como um quadro com versículo ou uma pulseira ou colar que tenha significado memorial, uma Bíblia nova, e alguns livros cristãos que ajudem na busca pelos “assuntos de meu Pai”. 3-Que no dia do aniversário seja feito um culto e que um ministro seja convidado para pregar a Palavra de Deus.

Talvez alguns achem um exagero carregar tanto uma data, mas seria um desperdício deixá-la passar sem ser notada. Pais empolgados fazem festas de quinze anos, mas parece que é com doze anos que “chavinhas” importantes são viradas na vida da criança. E tanto para o menino como para a menina que amam a Deus, identificar-se com Jesus aos doze anos, deveria ser uma data inesquecível.


SER PASTOR, SÓ COM ORAÇÃO

Paulo Zifum

Não há fardo pesado para o pastor quanto aos estudos e exercícios do ofício, pois são glórias do ministério. Mas, existem cargas pesadas que o ministro só pode mover em oração. Pastores não apenas carregam as confidências da congregação, eles são costurados na trama da história dela. Os relacionamentos dos membros da igreja sofrem os efeitos do pecado, e o pastor acaba sabendo dos desafetos e injustiças que criam muros de inimizades. O pastor carrega consigo fracassos de todas as ordens, desde desemprego e perdas financeiras até desilusões amorosas. O divórcio ou a constante ameaça dele angustiam o coração do ministro. A tensão com a educação dos próprios filhos já seria suficiente, mas o pastor precisa lidar com os filhos dos crentes e as falhas da educação dos pais. Além de tudo, há a dor das enfermidades e das mortes que visitam a congregação, sendo que, em alguns casos, o pastor dúvida que irá se recuperar.

Por isso, o ministro deve orar. Em oração entregar-se a Deus para tratar rebeldias, maldades e desesperos. E se o pastor não se cuidar espiritualmente, pode sucumbir por saber demais.

VERDADES SOBRE POLÍTICA

Paulo Zifum

Qualquer leitor atento às notícias políticas pode perceber que os ímpios dominam esse cenário, Sendo assim, a tendência é a degradação de uma vocação que deveria ser nobre. A atividade política “tem um quê de pecado acariciado” pelos que são seduzidos pelo poder. E gostar do pecado ou relativiza-lo é o corte da natureza humana que, suprime a ética que, mesmo querendo frear se vê sem forças. Homens éticos até conseguem conter a corrupção na política, jamais vence-la, pois esse mundo jaz no maligno. E o problema é agravado porque os homens maus desejam os cargos políticos cem vezes mais que os justos, o que cria a expectativa de que o mundo continuará permeado de injustiças com o patrocínio do mal cada vez mais explícito nas leis, na arte e nas mídias. Sendo assim, não há como a sociedade redimir a si mesma. Se Deus não nos livrar, estaremos condenados a sermos governados por ímpios cuja inclinação política é roubar, matar e destruir. Como está escrito: “Quando os perversos estão no poder, o povo geme” (Pv.29.2). Que o Senhor tenha misericórdia de nós e, assim como Ele fez com Babel (Gn.11), continue fazendo intervenção do consórcio mal intencionado dos homens, para nosso bem.

MOVER-SE EM DEUS

Paulo Zifum

A vida humana acontece em Deus, independente de nossas crenças e, todos vivem, basicamente, em três estados: em rebeldia que ignora a realidade de Deus (Ef.4.18), em rebeldia cuja a intenção é livrar-se do domínio de Deus (Sl.2.3, Rm.1.21-26) e o outro estado que só pode surgir pela ação divina por meio da conversão que inaugura uma existência voltada a buscar a presença divina. Em todos os três estados, uma coisa é comum: a dúvida. Todo ser humano sofre de incertezas e crises existenciais, mas aqueles que buscam o conhecimento de Deus se sentem mais seguros, porque Deus, em Cristo, os guia por meio de seu Espírito, dando a eles crescente revelação do propósito da vida.

Enquanto os rebeldes vivenciam uma crescente escuridão, os convertidos experimentam “a luz da aurora, que vai brilhando até ser dia perfeito” (Pv.4.18). A vida neste estado é marcada pela consciência de que “nele vivemos, e nos movemos, e existimos” (At.17.28). Todos os seres humanos vivem sob a regência divina, mas apenas os filhos de Deus podem chegar a desfrutar dessa regência com submissão e adoração.

E é essa consciência que muda todas as coisas, porque na crença de que nada pode ocorrer fora da vontade de Deus, os cristãos lidam com as possibilidades de conquistas e perdas de uma forma superior, pois Deus garante que, em tudo, lhes dará paz e compreensão suficientes para não se perderem no caminho.

Sabemos que o ser humano perde o rumo tanto pela vaidade como pelo desespero, porque existir para conquistar coisas ou desistir por não obtê-las é uma maldição. Mas, aqueles que se movem em Deus, sentem o Espírito moderar seus corações e pensamentos, os conduzindo a uma vida segura na qual Deus diz: “o instruirei e ensinarei no caminho que você deve seguir; eu o aconselharei e cuidarei de você” (Sl.32.8). Deus dará segurança sempre, ainda que a tire, vez ou outra par a fortalecer a fé no mundo vindouro.

Quando nos movemos em Deus, a vida assume uma dinâmica maravilhosa de orações que vão ao encontro da vontade Deus (1Jo.5.14). Cada decisão, cada encontro, cada mudança e cada decepção são avaliadas na perspectiva de que Deus está moldando e que a trama da vida está se aclarando. É maravilhoso!

PORQUE DEUS AMOU O MUNDO

Paulo Zifum

“porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” Jo.3.16

O apóstolo João registrou a conversa de Jesus com Nicodemos e, nela, o Senhor declara pela primeira vez que ele seria “levantado”, que é uma metáfora para explicar a necessidade de ser morto para curar o mundo. E João explica o porquê dessa morte: por amor.

Por que o Filho de Deus encarnou, viveu e sofreu entre nós atingindo a máxima identificação com o ser humano? A resposta de João é clara: por amor. E, não um amor ameno e superficial capaz apenas de ajudar ou aliviar, mas “de tal maneira”, intenso e sacrificial. Porque, para os pecadores, nada adiantaria uma ajuda ou alívio temporário de ordem religiosa sem livrar do destino da morte eterna. E João compreende o “de tal maneira” que, desde Isaías 53, aponta para o Pai que “deu” o seu Filho para ser sacrificado, uma alegoria cuja intensidade “demonstra seu amor por nós: Cristo morreu em nosso favor quando ainda éramos pecadores… quando éramos inimigos de Deus fomos reconciliados com ele mediante a morte de seu Filho” (Rm.5.8-10). O “de tal maneira” é claro para todos que possuem um único filho, como Abraão, que foi capaz de oferecer Isaque para Deus. E esse “de tal maneira” já nos surpreende na referência humana de, talvez, alguém ser capaz de sacrificar um filho para Deus, mas, um ente divino ser sacrificado pelos pecadores, isso é extraordinário. Ouvia-se daqueles que, tendo muitos filhos e desafeiçoados deles, eram capazes de sacrificá-los como oferenda ao deus Moloque, mas o “de tal maneira” de João é o amor singular jamais visto: Deus sacrificando seu único Filho pelos seus súditos criminosos.

E qual a razão forense desse extraordinário sacrifício? Diante da justiça divina, não há crime sem castigo, e todos os seres humanos nasceram na condição do pecado imputado que leva ao pecado de fato. Logo, a inexorável condição humana é perecer em seus pecados. E quanto a essa verdade, o mundo nos convence que “não há justo, nem sequer um, todos se extraviaram” (Rm.3.10-12). Quando Deus entrega seu Filho, não apenas como Pai, mas como juiz, eles o executa punindo os pecados do mundo todo. Por isso, João fala de um amor suficiente para o mundo todo, mas que seria desfrutado apenas aos que “nele cressem”.

Portanto, o amor descrito por João é o amor verdadeiro, provado dentro do contexto do sofrimento causado pelo pecado humano. E João deixa claro que somente aqueles que reconhecem seus pecados, a gravidade de sua condição, são capazes de compreender esse amor “de tal maneira”. Sem arrependimento, João deixa claro que o mundo perecerá, pois o amor não salvará aqueles que, sendo amados, ficaram indiferentes, seguindo o mesmo caminho rebelde como um doente que se recusa a tomar o remédio. Jesus ofereceu o perdão que é a cura do Universo, mas apenas aos que se arrependem.

AMAMOS PESSOAS OU O ESTAR COM ELAS?

Paulo Zifum

Amar pessoas é muito mais que amar a companhia delas. O amor puro precisa amar a pessoa com um fim em si, mas nem sempre os que amam estar com pessoas o fazem puramente por elas. A sociabilidade pode ser tão vantajosa que dizer “amo estar com” seja tão egoísta quanto amar uma boa refeição.

POLIGAMIA

Paulo Zifum

por isso deixará o homem pai e mãe
e se unirá à sua mulher
e se tornarão os dois uma só carne”

(Gn.2.24)

Jacó amava a Raquel e disse: Sete anos te servirei por tua filha mais moça, Raquel. Respondeu Labão: Melhor é que eu ta dê, em vez de dá-la a outro homem; fica, pois, comigo. Assim, por amor a Raquel, serviu Jacó sete anos; e estes lhe pareceram como poucos dias, pelo muito que a amava. Disse Jacó a Labão: Dá-me minha mulher, pois já venceu o prazo, para que me case com ela. Reuniu, pois, Labão todos os homens do lugar e deu um banquete. À noite, conduziu a Lia, sua filha, e a entregou a Jacó. E coabitaram. (Para serva de Lia, sua filha, deu Labão Zilpa, sua serva.) Ao amanhecer, viu que era Lia. Por isso, disse Jacó a Labão: Que é isso que me fizeste? Não te servi eu por amor a Raquel? Por que, pois, me enganaste? Respondeu Labão: Não se faz assim em nossa terra, dar-se a mais nova antes da primogênita. Decorrida a semana desta, dar-te-emos também a outra, pelo trabalho de mais sete anos que ainda me servirás. Concordou Jacó, e se passou a semana desta; então, Labão lhe deu por mulher Raquel, sua filha. (Para serva de Raquel, sua filha, deu Labão a sua serva Bila.) E coabitaram. Mas Jacó amava mais a Raquel do que a Lia; e continuou servindo a Labão por outros sete anos
Gn.29.18-30

O Casamento segundo a Bíblia é heterossexual, monogâmico e exclusivo. Em sua gênese, a expressão “o homem se unirá à sua mulher” é a ordem divina, sendo a bigamia ou poligamia uma evidente desordem. Segundo Gn.1.27, a expressão “imagem e semelhança de Deus” é usada para o casal cuja unidade revela a grandeza e beleza do Criador. O plano divino de um homem para uma mulher mostra a completude e suficiência que exige fidelidade. E essa estrutura, no Novo Testamento, seria apresentada como gloriosa alegoria do relacionamento entre Cristo e a Igreja.

Porém, com a entrada do pecado no mundo, era de se esperar o declínio no caráter justo e equilibrado da natureza humana que, caída, justifica o erro ou simplesmente não quer limites. Dentre os declínios do pecado, estão a bigamia (adultério oculto) e a poligamia (adultério consentido). Em nossa sociedade, é possível uma esposa ser bígama, mas a poligamia como ato público é uma prática de homens.

Podemos afirmar que a poligamia é um pecado? Alguns até dizem que a Bíblia não condena a poligamia pelo fato dos patriarcas e reis terem possuído mais de uma esposa, mas isso não seria correto afirmar, assim como não é honesto insinuar que a Bíblia aprova a escravidão pelo fato de não condená-la de modo tácito. A poligamia foi praticada por pelo ímpio Lameque (Gn.4.19) e depois tolerada por Deus na vida de Abraão¹ (Gn.16.1-3; 25.1-6), de Jacó (Gn.29.21-35) e de Davi (1Sm 25.40-43; 2Sm 3.2-5; 2Sm 5.13), porém, os autores bíblicos são rigorosos em mostrar que todos os casos de poligamia trouxeram muitos problemas familiares e sociais. Esses registros apresentam a poligamia como fonte de conflitos de danosas rivalidades e desafetos entres as esposas, meios-irmãos e descendentes. Logo, podemos inferir que Deus deseja que os leitores de sua Palavra sejam prudentes, pois o fato de uma pessoa polígama ser rica e ter filhos saudáveis não significa que ela tenha aprovação divina. As consequências desse pecado estão claras na vida de Abraão, Esaú, Jacó, Elcana, Davi e Salomão, cujos casamentos foram açoitados por conflitos e manchados pela “mácula no leito”.

Portanto, podemos afirmar que a poligamia é um pecado que adultera o plano original do casamento. E uma das marcas do pecado é reduzir aquilo que deveria ser sublimado para algo apenas útil. A poligamia esvazia a singularidade do casamento em sua suficiência (Gn.2.18) a ponto de não mais servir como alegoria para o relacionamento de Deus e seu povo (Jr 2.1-2; Os 3.1-5; Is 54.1-8; Jr 3.20; Ml 2.13-16; Ef.5.25-30).

O Dr. Augusto Nicodemos escreveu sobre esse tema e, se você deseja fundamentos sólido, leia os artigos abaixo para ser introduzido aos pontos filosóficos do que é padrão, desvio de padrão, predomínio da regra sobre a exceção e os cuidados das leis casuísticas.

https://www.icp.com.br/apologetica006.asp


¹ Possuir concubinas, talvez, não configure poligamia uma vez que as mulheres envolvidas nem sempre tinham status de esposa.

2 https://www.conjur.com.br/2020-mar-02/lei-descriminaliza-poligamia-estado-utah-eua

O PERIGO DA IDOLATRIA

Paulo Zifum

A idolatria é um tipo de amor expresso por afetos e serviços. E dizemos que idolatria é um tipo de amor porque o amor, o verdadeiro amor, emana de Deus e jamais insere devoções concorrentes a ele ou acima dele. Ou seja, a idolatria é composta por vários amores, como um marido cujo o coração é incapaz de dedicar-se apenas à sua esposa, mas nutre paixão por outras mulheres, trabalho ou algum hobby. A idolatria é uma prova flagrante da queda do ser humano cujas afeições não são puras e que, ora está adorando alguma coisa, ora adorando a si.

E a idolatria, normalmente, começa com o “servir a dois senhores” (Mt.6.24), quando a criatura tenta amar seu Criador a outras coisas de igual forma. Mas, esse tipo de devoção é uma rota de colisão, “porque ou há de odiar um e amar o outro ou se dedicará a um e desprezará o outro (Mt.6.24), pois, longe do amor exclusivo a Deus, o ser humano precisará desagradá-lo amando o que Ele aborrece e desprezando o que ele aprecia. Ora, a idolatria exigirá algum tipo de amor pelo que é mal aos olhos de Deus, nesse momento o devoto precisará relativizar a justiça para satisfazer seus compromissos fiduciários com seu ídolo.

E depois da tentativa fracassada de manter dois amores (Deus e o mundo), a idolatria empurra a assumir a rebeldia contra Deus. O idólatra não se rebela contra o mundo, mas contra aquele que lhe diz “não”. O idólatra religioso, por exemplo, uma vez que tenha sublimado sua religião, rebela-se contra a revelação das Escrituras para justificar seus oráculos. O idólatra que, por prazer ou vaidade, ama a Cultura, soltará a mão da Lei moral de Deus para ficar ao lado dos artistas e engenheiros sociais cuja promessa de liberdade é atraente. O idólatra que abraça a “Mãe Natureza” a julgando amoral não reconhece o Criador como um Pai Moral. O idólatra que busca redenção por meio da Civilização o ideal, rejeitará o Senhorio de Cristo nas estruturas políticas do mundo. Desta forma, Deus posto fora da equação, é possível tornar a Igreja, a Natureza, a Democracia, o Socialismo ou o Materialismo, os ídolos no lugar de Deus.

Portanto, a idolatria é um substrato de amor cujas misturas são tão feias quanto as relações extraconjugais. Por isso, Paulo concluiu: “Por isso Deus os abandonou” (Rm.1.26), confirmando que o primeiro mandamento “não terás outros deuses diante de mim” é inegociável, não por capricho divino, mas por amor, pois a idolatria cria uma “caricatura demoníaca” (Barth) do amor. Essa caricatura reduz a grandeza humana, pois aqueles que antes adoram o Eterno, o substituem pelo efêmero, pois “você se torna aquilo que adora” (G. K. Beale) . E o maior dano da idolatria não é sua feiura, mas o divórcio, a separação de Deus, retirando a possibilidade da redenção que adorar o Sublime traz.