CAMA FOFA

Paulo Zifum

Acordei doendo, mas levantei para reagir e fui trabalhar para não desistir. Sorri para disfarçar e orei para não desmaiar. Tomei humilde, vários remédios. Marquei consulta com mais médicos. Meus pensamentos escurecem. Sinto vontade de cair. Desejo de entregar o jogo. Doença e Saúde. Que luta! Quem vai vencer? Tomo leite com chocolate. Digo que vou melhorar. Mas, meu corpo ainda não acredita e insiste em me lembrar dos espinhos. Deus parece calado e não me fala de cura. Ó Deus! Que vida dura!

Ele nada fala. Meu Enfermeiro de mim se aproxima e afofa minha cama, por Salmos, amigos e anjos. Por seu Santo Espírito que me faz pensar coisas boas, que me faz ter conforto para deitar e coragem para levantar. Até quando, não sei. A única coisa que sei é que minha cama é fofa, mesmo que a vida seja dura.

Ela dorme Amada*, doente, mas amada.

*Ama(n)da

DETALHES DA BIBLIA

Sem título

Paulo Zifum

Reli poesias minhas e encontrei detalhes. Palavras especiais como “Eu entrei e ouvi a esperança para o mundo. O poeta pediu: “Toquem os sinos! Esqueçam seus sacrifícios perfeitos! Há uma rachadura em tudo, mas por ela entrará a luz.” (Leonard Cohen). Eu ouvi meu campanário. Olhei para meus ideais, dei alívio e pausa. Pela rachadura da queda vem o Filho. Não saio mais daqui.” Poucos percebem detalhes.

A Bíblia é um livro cheio de detalhes. É uma obra sublimada por sua sutileza e riqueza linguística. O Salmo 23.5 diz “prepara-me uma mesa na presença dos meus adversários, unge-me a cabeça com óleo e o meu cálice transborda“.  O texto usa figuras dramáticas que invocam cenas que não podem ser ignoradas. Fala que Deus irá mostrar para todos quem é seu escolhido. Mas, isso fará depois de acompanhar esse eleito pelo “vale da sombra da morte” (v.4). O próprio autor desse salmo, Davi, passou por vales de morte antes de ser coroado rei. Não há Canaã sem deserto, não há Céu sem Cruz.

Os detalhes parecem infindos. A expressão “meu cálice transborda” cria um imaginário que pode ser considerado supracultural. O leitor já iluminado pela introdução do salmo, poderá captar a prazerosa imagem de um cálice transbordando como se o ser humano fosse esse recipiente que, uma vez seguro e suprido, agora pode extravasar a alegria da vitória. O cálice poderia ser sinal da abundância material, mas, um cálice pode transbordar mesmo que não haja um aparente sucesso terreno. A alegria de Deus pode encher-nos mesmo na circunstancia mais desfavorável. Foi na “presença do inimigo” que Jó, ao contrário de tudo que se esperava, adorou a Deus. Ninguém pode transbordar o que não tem.

A Bíblia não é um livro normal. Nenhuma literatura, por mais engenhosa, pode ser comparada com a Escritura Sagrada no que tange ao campo infinito de pesquisa. Aqueles que duvidam disso, ou não a conhecem ou são deuses. Ora, os deuses estão acostumados com coisas mais elevadas e não há como dissuadi-los a ler a Bíblia. Como eu não sou nada, sou apenas um camponês das letras, encanto-me com a Bíblia. Perco o fôlego, choro, empurro a mesa e saio andando pela rua, aturdido com as descobertas que nela faço. Fico nadando em seus detalhes, navegando em seu oceano. Paro diante dela, faço silêncio e converso com Deus sobre esse modo tão simples de revelar-se a nós.

Como disse Jesus: “examinem as Escrituras”. Os detalhes que os profetas perceberam podem estar ao alcance de todos que buscam seus tesouros.