O SONHO DE SER SINCERO

Um dos desejos mais intensos da pessoa boa é o ser sincera, para alcançar aquela autenticidade da consciência íntegra. Porém, por mais honesta que seja alma, ainda assim é impossível afirmar-se totalmente verdadeira por causa do pecado. Ora, o pecado tem uma raiz de vaidade que, ao distorcer pensamentos e sentimentos, empurra o ser humano para o autoengano (mentir para si), o que leva a esconder dos outros seu verdadeiro eu.

E, então, eis o mundo como ele é: um embuste! Toda a estrutura social é construída na negação do que se é e uma precipitação por coisas além do que precisa. E como o mundo nos deixa? Cansados e sobrecarregados! Milhões de pessoas encenam um personagem que “pegou” nos bastidores da vida, para miseravelmente manter uma perfomance de convencer os outros de algo que não se é.

Na tentativa de “mudar o papel”, alguns “atores” se entregam ao expediente de serem rudes falando o que pensam para todos. Ledo engano! A sinceridade não é uma arma apontada para os outros, mas uma confissão e admissão de suas fraquezas. E o ser humano, sozinho, não consegue encontrar um ponto de equilíbrio porque o pecado o desestabiliza (Rm.7.18-19). Se quer ser livre, mas quem suporta a rejeição do resto do mundo? Então, eis o grito: “Miserável homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” (Rm.7.24).

Somente um homem conseguiu viver neste mundo totalmente livre: Jesus Cristo. Ele, que venceu o pecado, o mundo e o diabo, pode realizar em nós o sonho de sermos, de fato, autênticos. Essa esperança não pode estar em nada e ninguém neste mundo. E, se foi essa a conclusão que Søren Kierkegaard chegou ao dizer: “agora, com a ajuda de Deus, eu serei eu mesmo”, então tomou o rumo certo.

Que grande benção, por meio de Jesus Cristo, pelo auxílio do Espírito Santo, podermos alcançar uma vida verdadeira num mundo de enganos e mentiras!

TUDO É BOM E NADA PRESTA

O poder da gratidão em tempos de crise | IELB

Paulo Zifum

A frase “tudo é bom e nada presta” pode indicar que o que é bom para um grupo pode ser ruim para outro. Mas, hoje, lemos e ouvimos o mundo destilar comentários negativos com crescente acidez. Essa insidiosa mania de colocar defeito em tudo é inexplicável para uma geração repleta de recursos e conforto. Há um ranço de insatisfação constante no ar, na boca. E o sábio Salomão, explica como as pessoas reagem mal na prosperidade: “a alma farta pisa o favo de mel, mas para a faminta até o amargo é doce” (Pv.2.7.7). Essa maldição do “nada está bom” pode até ser suportável, mas quando “ninguém presta”, o mundo, que é um lugar muito pequeno, chegou ao fim. Por isso foi dito que devemos “escapar dessa geração” e “não conformar-se com esse século”. Então, vou repertir mil vezes para mim mesmo: “tenho muito mais do que mereço”.

POR QUE CONGREGAR?

Paulo Zifum

Cristãos congregam de modo simples, estimulados pela seguinte promessa do Senhor: “onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estarei com eles” (Mt.18.20). Essa presença invisível do Senhor torna o culto cristão racional¹, pois é uma reunião autorizada (Mt.18.15-20) onde os crentes apresentam suas preces e devocões, crendo que o Senhor, em espírito, os ouve e os responde.

Essa reunião da Igreja, que é o Corpo de Cristo, “bem ajustado, e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, faz o aumento do corpo, para sua edificação em amor” (Ef.4.16) é imprescindível para cada crentes. Por isso, o autor de Hebreus diz: “Apeguemo-nos com firmeza à esperança que professamos, pois aquele que prometeu é fiel. E consideremo-nos uns aos outros para incentivar-nos ao amor e às boas obras. Não deixemos de reunir-nos como igreja, segundo o costume de alguns, mas encorajemo-nos uns aos outros, ainda mais quando vocês vêem que se aproxima o Dia” (Hb.10.23-25).

PORQUE CONGREGAR

Para fortalecer a fé
Aqueles que congregam considerar humidemente que precisam de se fortalecer, necessitam se apegar com mais firmeza, uma vez que o mundo exerce constante oposição com seu materialismo. O cristão congrega porque, ao lidar com males e contingências ruins que atingem a todos, agarra-se na esperança de que a vida não se limita a esta vida (1Co.15.19). É na congregação que os crentes podem encorajar uns aos outros, ou seja, a reunião serve para fortalecer os vacilantes, os lembrando da esperança na volta do Senhor.

Para não deixar o amor esfriar
Aqueles que congregam lembram da profecia do Senhor que disse: “o amor se esfriará de quase todos” (Mt.24.12) e lutam para sobreviver num mundo de hostilidades, brutalizações e egoísmo. E qual o grande incentivo ocorre na congregação? As necessidades das pessoas são compartilhadas e temos oportunidade de repartir bens e e dispor a fazer visitas para os necessitados.

Os que não congregam arriscam uma “carreira solo”, pois está escrito: “Aquele que vive isolado busca seu próprio desejo; insurge-se contra a verdadeira sabedoria” (Pv.18.1). Os que congregam, por sua vez, possuem o temor do Senhor que é o princípio da sabedoria (Pv.9.10), e não desafiam o mal sozinhos, pois acreditam que “as portas do inferno não prevalecem contra a Igreja” (Mt.16.18). Sentem-se seguros unidos em oração com a Igreja peregrina e sofredora neste mundo que, jaz no maligno (1Jo.5.19).

²Leia a confiabilidade dos manuscritos: https://www.allaboutthejourney.org/portuguese/manuscritos-biblicos.htm

PRUDÊNCIA PARA ESCAPAR

Refúgio ou quarentena, você escolhe – RN em Foco

Paulo Zifum

O clássico da prudência é perceber o perigo e buscar refúgio, desviar-se ou escapar (Pv.22.3a). Pessoas prudentes, ao entrarem num recinto aglomerado de gente, observam as saídas de emergência e os possíveis pânicos que pequenas coisas podem causar. Os prudentes dificilmente ignoram os perigos e tomam precauções diante de possibilidades ruins. E não devemos confundir os prudentes com os covardes que são escapistas e inventam perigos para não enfrentar dificuldades ou fazer esforços.

Pessoas prudentes possuem coragem com a devida inteligência. Já os inexperientes, são descuidados seguindo adiante e sofrem as consequências (Pv.22.3b). Pessoas simples não ligam muito para o futuro e não consideram as probabilidades ruins que se configuram diante delas nas áreas de relacionamento com pessoas, finanças e saúde.

RELACIONAMENTOS PESSOAIS: Manter distância de segurança das pessoas, primeiro por respeito para não pressioná-las com demandas e cobranças (Pv.25.17), segundo, é sábio nos aproximar das pessoas lembrando que todos somos pecadores (Jr.17.5-10) sujeitos às deficiências do pecado (lapsos, esquecimentos, juízos parciais e distorcidos). O alerta “maldito o homem que confia no homem” (Jr.17.5) não significa que não podemos confiar nas pessoas, mas lembra que as pessoas são falíveis. É bom celebrar acordos, alianças e contratos com a devida precaução de documentar e considerar a possível quebra da palavra ou fracasso dos outros. Essa precaução não é uma desconfiança negativa, mas uma postura humilde porque ninguém tem controle do amanhã, como está escrito: “Ouçam agora, vocês que dizem: “Hoje ou amanhã iremos para esta ou aquela cidade, passaremos um ano ali, faremos negócios e ganharemos dinheiro”. Vocês nem sabem o que lhes acontecerá amanhã! Que é a sua vida? Vocês são como a neblina que aparece por um pouco de tempo e depois se dissipa. Ao invés disso, deveriam dizer: “Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo”. Agora, porém, vocês se vangloriam das suas pretensões. Toda vanglória como essa é maligna” (Tg.4.13-16). Diante desses conselhos, o prudente compreende o risco de se fazer sociedade, e atende o avisos que diz: “Não se ponham em jugo desigual com descrentes. Pois o que têm em comum a justiça e a maldade? Ou que comunhão pode ter a luz com as trevas? (2Co.6.14).

FINANÇAS: A Bíblia fala mais sobre questões materiais e menos sobre assuntos sentimentais. A atenção dada aos assuntos financeiros confirma a alerta de que “o amor ao dinheiro é raiz de todos os males. Algumas pessoas, por cobiçarem o dinheiro, desviaram-se da fé e se atormentaram a si mesmas com muitos sofrimentos” (1Tm.6.10). A Lei de Moisés, prudentemente, versou sobre as relações financeiras de modo específico porque a cobiça e o egoísmo da natureza humana precisam de freios. Os cristãos, portanto, devem tomar cuidado para não lesarem o próximo em seus negócios ou pagamentos, e para bom testemunho, é importante combinar tudo de modo justo e generoso. E uma das formas de prudência financeira é a prática da bondade, pois está escrito “Quem trata bem os pobres empresta ao Senhor, e ele o recompensará.” (Pv.19.17), ou seja, tudo o que fazemos está sendo observado por Deus. Quando fechamos nosso coração para ofertar, descuidamos do fato de que Deus nos concede a mais e coloca em nossa bolsa valores excedentes para nos tornar veículos de sua bondade. Essa é a razão do Senhor reclamar ao dizer: “Pode um homem roubar de Deus? Contudo vocês estão me roubando. E ainda perguntam: ‘Como é que te roubamos? ’ Nos dízimos e nas ofertas. Vocês estão debaixo de grande maldição porque estão me roubando; a nação toda está me roubando” (Ml.3.8-9). Não é prudente usarmos tudo que recebemos apenas para o nosso bem-estar. Outro assunto é a prudência nos negócios, e Provérbios diz: “se você serviu de fiador do seu próximo, se, com um aperto de mãos, empenhou-se por um estranho e caiu na armadilha das palavras que você mesmo disse, está prisioneiro do que falou. Então, meu filho, uma vez que você caiu nas mãos do seu próximo, vá e humilhe-se; insista, incomode o seu próximo! Não se entregue ao sono, não procure descansar. Livre-se como a gazela se livra do caçador, como a ave do laço que a pode prender” (Pv.6.1-5). “Não seja como aqueles que, com um aperto de mãos, empenham-se com outros e se tornam fiadores de dívidas; se você não tem como pagá-las, por que correr o risco de perder até a cama em que dorme?” (Pv.22.26-27). Seja com o núcleo familiar, com amigos e, principalmente, com estranhos, devemos nos relacionar com prudência. Uma última nota sobre finanças é que não é sábio descuidarmos de fazer reservas para o futuro, pois um dos perigos adiante é a morte ou a velhice. Nem todos conseguem fazer reservas, mas é admirável ver pessoas que, mesmo possuindo recursos, não fazem uma reserva ou seguro de vida para proteger e aliviar entes queridos diante da morte ou possível invalidez. O prudente se esforça para não ser pesado para ninguém.

SAÚDE: A alimentação é uma área negligenciada pela maioria dos inexperientes que acham que comer é apenas uma busca por prazer e saciedade. Mas, pessoas prudentes percebem os perigos de certos costumes alimentares e “fogem” deles em busca de proteger a saúde. O exercício físico também é um assunto que merece atenção. O corpo facilmente entra em estado de morbidez sem atividade física, causando diversos riscos para a saúde. O descanso é uma prudência, pois tanto a mente como o corpo entram em colapso com excesso de trabalho ou preocupação. O lazer e pausas são necessárias, por isso a Lei invoca o princípio do dia de descanso na proporção 6 por 1 (Ex.20.8-9). Uma das últimas notas sobre a saúde é a prudência em saber envelhecer. Pessoas prudentes percebem que precisam diminuir o ritmo e aceitar limitações, por isso vão gradativamente adaptando-se de modo que não sofram impacto de entrar em depressão por causa do peso da idade.

*foto: A Cruz de Cristo é o refúgio dos pecadores arrependidos e, a orientação universal do Salmo 2 é: “sejam prudentes; aceitem a advertência, autoridades da terra. Adorem ao Senhor com temor; exultem com tremor. Beijem o filho, para que ele não se ire e vocês não sejam destruídos de repente, pois num instante acende-se a sua ira. Como são felizes todos os que nele se refugiam!”. O único refúgio capaz de salvar a alma é o Filho de Deus, Jesus Cristo.

PAUTA IDENTITÁRIA DE GÊNERO E TEOLOGIA FILOSÓFICA

A ideologia de género não é ciência, é ideologia - Paróquia da Lourinhã

Paulo Zifum

As pautas identitárias de gênero, juntamente com os movimentos feminista e LGBTQIA+, promovem discussões legítimas ao evocar temas como a dignidade humana e os direitos de liberdade do indivíduo. Porém, deve-se questionar o movimento quando este extrapola causas legítimas e aspira à imposição de mudança social. Depois de algumas décadas de formulação, embora aceitam que o sexo de uma pessoa possa ser determinado biologicamente, impõem que o gênero seja definido sociologicamente, ou seja, o “ser” é definido pela cultura ou pelo desejo do indivíduo. Esse “salto” que desassocia o gênero da determinação biológica é considerado pelos liberais progressistas como um avanço para a sociedade livre. Mas, o ser humano pode rebelar-se totalmente contra os limites da natureza? É possível ressignificar a moral ligada ao que é natural? Para responder a esses questionamentos a teologia filosófica¹ propõe a seguinte análise:

Limite da Natureza: Consideramos benéfico que as pessoas podem superar suas limitações naturais, como quando criam soluções para voar ou para restaurar estados físicos danificados. As descobertas tecnológicas que melhoram a saúde e a vida social da criatura são, na teologia, reflexos da grandeza do Criador. Questiona-se, entretanto, que a pauta identitária de gênero não vise a alguma superação necessária, mas, ao contrário, a uma negação da natureza. Estar num corpo e evocar outra identidade cria conflito com a realidade. Pode até ser compreensível a insatisfação com a robustez ou fragilidade do sexo biológico, mas a tentativa de mudar a natureza até às últimas consequências representa alto risco. Reconhecemos que o preconceito sofrido por homens delicados e mulheres duronas devam ser erradicados e que a sociedade deva ser educada no trato com pessoas diversas. Mas o discurso libertário exige um esforço insustentável diante da anatomia, impondo para a sociedade um ajuste antinatural. Podemos voar auxiliados por máquinas, mas nossas proezas não mudam o fato de que somos bípedes, pois saber planar numa asa delta não nos faz seres voadores. Há limites que os defensores dessa ideologia recusam-se reconhecer.

Limite Moral: A moral que se origina nas relações naturais mostra que os filhos devem respeitar e obedecer a seus pais e que o homem deve proteger a mulher sendo, esses, os meios de preservação da espécie. A moral modera os termos da igualdade sem ignorar a equidade, ou seja, todos tem dignidade, mas podem existir diferenças entre os iguais. A moral tem seus termos universais relacionados à justiça e quando o assunto versa sobre liberdade individual é justo que a vida privada seja respeitada, porém as esferas coletivas precisam ser igualmente valorizadas. O problema moral da pauta identitária de gênero é sua negação da existência de um padrão de comportamento ligado ao natural e sua tentativa de impor essa vontade aos outros, exigindo que outras esferas da sociedade validem a pauta. Existe um padrão e existe um desvio desse padrão na vida privada. A normatização do livre exercício sexual de um grupo minoritário é imoral quando deseja-se que todos considerem padrão o que, na verdade, é um desvio deste padrão. É preocupante que liberais progressistas não aceitem limites da vida privada e queiram dominar as esferas públicas da família e da religião dizendo que não se pode impor limites ao movimento identitátio. Ora, todos numa sociedade precisam ser moderados com limites e as esferas devem ser respeitadas. Os cristãos devem respeitar as instituições privadas que advogam a pauta identitária de gênero, sejam escolas ou meios de comunicação e arte. Porém, uma sociedade composta por uma maioria cristã cujos valores morais seguem padrões naturais, não pode permanecer inerte diante de um grupo que deseja impor a pauta indentitária de gênero para crianças e jovens em escolas públicas.

Esse é um tema que exige equilíbrio. Pessoas devem ser respeitadas e tratadas com dignidade; porém, movimentos de engenharia social precisam ser questionados, principalmente quando se mobilizam politicamente para remover os pesos e contrapesos do debate. O movimento identitário eventualmente manifesta um modus operandi de imposições e oferece um risco social por tentar legislar acima da democracia ao suprimir o debate público. É um movimento temerário que opera, em certos contextos, pela própria ótica fundamentalista, o que deve ser resistido pela lógica e em favor da diversidade de opiniões. Por questão de consciência, os cristãos entram no debate quando consideraram que o assunto extrapola a vida privada e é levado para a esfera das leis e da educação nas escolas. A resistência cristã volta-se também contra motivações políticas que instrumentalizam a defesa da ideologia de gênero com o fim de enfraquecer os pilares da Igreja, Família e Escola.

Como mencionamos, a pauta identitária de gênero pode exigir políticas públicas que eduquem a sociedade visando o respeito a grupos minoritários, mas deve ser rechaçada quando torna-se moralmente impositiva com velado desejo por supremacia. A pauta identitária de gênero, como todo movimento humano de transformação, quando ultrapassa limites, torna-se imoral.

¹A Teologia Filosófica, embora tenha base religiosa, é uma disciplina intelectual que busca, por meio de argumentos não-religiosos, um “ponto de contato” para dialogar de modo honesto e amistoso com outras áreas da atividade intelectual.

O vídeo abaixo trata de um preocupante tema com o qual os cristãos devem contribuir.

O CASAMENTO E O ESPÍRITO SANTO

mayo 2020 – Hermanas Misioneras Dominicas del Rosario

Paulo Zifum

Muitos se convertem ao cristianismo já casados. E após aprenderem a doutrina cristã, descobrem que o plano de Deus para o casamento é muito mais do imaginavam. Alguns, sem perceber, entraram num deserto de cobranças, infidelidade e culpa, não sendo mais capazes de celebrar a vida conjugal. Mas, mesmo às raias de um divórcio, casais chegam a Cristo e são resgatados da dureza de coração em tempo de poderem recomeçar, como está escrito: “darei um coração novo, e porei um espírito novo; e tirarei de vocês o coração de pedra” (Ez.36.26).

Essa restauração ocorre pela ação do Espírito do Santo, conforme a profecia abaixo:

Não temais, animais do campo, porque os pastos do deserto reverdecerão, porque o arvoredo dará o seu fruto, a figueira e a vide produzirão com vigor. Alegrai-vos, pois, filhos de Sião, regozijai-vos no Senhor, vosso Deus, porque ele vos dará em justa medida a chuva; fará descer, como outrora, a chuva temporã e a serôdia. As eiras se encherão de trigo, e os lagares transbordarão de vinho e de óleo. Restituir-vos-ei os anos que foram consumidos pelo gafanhoto migrador, pelo destruidor e pelo cortador, o meu grande exército que enviei contra vós outros. Comereis abundantemente, e vos fartareis, e louvareis o nome do Senhor, vosso Deus, que se houve maravilhosamente convosco; e o meu povo jamais será envergonhado. Sabereis que estou no meio de Israel e que eu sou o Senhor, vosso Deus, e não há outro; e o meu povo jamais será envergonhado. E acontecerá, depois, que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos velhos sonharão, e vossos jovens terão visões; até sobre os servos e sobre as servas derramarei o meu Espírito naqueles dias. Joel 2:22-29

Essa profecia dirigida ao povo de Israel cumpriu-se parcialmente após a ressurreição e ascensão de Jesus (At.2.1-4). No plano terreno, a restauração na nação (versos 22-27) ainda não ocorreu, mas os filhos de Deus, ao se converterem, experimentam individualmente profundas mudanças de sorte devido a esse batismo com o Espírito Santo. Esse evento, descrito em Joel 2.29, prometido por Cristo (At.1.8, Jo.14.26) muda nitidamente a vida de um casal.

A profecia fala sobre “deserto” transformado pela “chuva”, e o que antes era marcado pela escassez torna-se abundância de “vinho e óleo”. Essas figuras podem muito bem ser usadas para a restauração da vida conjugal. E entre as ações divinas pela melhora da qualidade de vida, há um destaque no “restituir-vos-ei os anos que foram consumidos“. O tempo perdido é um dos assuntos que mais causa tristeza na vida dos recém-convertidos, como cita Agostinho em sua célebre frase “tarde demais foi que eu te amei”. Porém, Deus é poderoso para restaurar casais cuja a vida conjugal foi marcada por brigas, ofensas e negligências. O Espírito Santo é capaz de curar e ensinar o amor jamais vivido.

E por que tudo muda? Porque após a conversão, Deus diz: “sabereis que estou no meio“. Cristo é agora o mediador.¹ E, não apenas uma mediação externa, mas interna: “derramarei do meu Espírito sobre toda a carne²”. A presença do Espírito, agindo nos corações, convence e eleva o casamento a um “caminho sobremodo excelente” (1Co.13.1-7) onde o amor sacrificial “derramado nos corações” (Rm.5.5) torna-se mútuo. Esse evento abre os olhos espirituais (2Co5.16) de modo que a relação conjugal toma novas dimensões, não mais limitada às aparências (1Sm.16.7). Na expressão “e profetizarão” temos o ministério da santificação (1Co.7.14) onde o marido e a esposa se edificam mutuamente com ensino, exortação e consolo. E grande favorecimento oferece o Espírito ao ajudar cônjuges a entender “os segredos do coração” (1Co.14.25), dando sensibilidade para compreender melhor um ao outro no trato com o pecado, perigos externos e limitações pessoais.

E, além da benção dessa mudança de perspectiva conjugal, há um grande impacto na educação de filhos, porque pais que enxergam com as “visões” de Deus, acertam o alvo do coração dos filhos, sem contar que se postam na expectativa de que “vossos filhos e vossas filhas profetizarão” é o ponto mais alto, onde os pais cristãos podem assistir a conversão de seus filhos.

Então, quando o Espírito Santo enche um marido e uma esposa, eles deixam de ser ansiosos, tensos, carentes demais, confusos, ausentes ou sem habilidade para lidar com os conflitos e necessidades conjugais. Passam a ter fé, serem mais calmos e resolvidos, e orientados, oferecem presença positiva e redentora um aos outro. Adquirem um discernimento e inteligência que antes não possuíam.

Enfim, uma das grandes bênçãos do Espirito Santo nos encher é que nos tornamos pessoas satisfeitas. Quando estamos apascentados e supridos espiritualmente, a parcela que sobra para o cônjuge preencher é humana e possível. Sem o Espírito, uma pessoa é como um “galpão” imenso, que por mais que se faça ou tenha, nada é suficiente para preencher. Um cônjuge pode ter um bom lar, saúde, beleza e recursos financeiros, mas o casamento pode naufragar com carências tolas e pequenos vícios. Há um vazio que somente Cristo pode preencher. E quando isso ocorre, a vida conjugal é aliviada (Mt.11.28-30), porque os cônjuges se tornam pessoas fáceis de satisfazer (Fp.4.11-12), se tornam menos exigentes e mais gratos. Com “pouca mobília” o lar fica aconchegante, com pequenas coisas, o cristão cheio de contentamento, transborda de gratidão. Abandona-se as expectativas impossíveis (Ec.7.16-18), eleva-se o ideal de amar, diminui-se a carência de ser amado. Com suas demandas em equilíbrio, o casamento é redimido pela ação do Espírito Santo que foi derramado.

¹https://paulozifum.wordpress.com/2020/09/01/casamento-mediado/

²a expressão “carne” no texto hebraico não é uma referência ao comportamento pecaminoso, antes sobre a estrutura fraca e incapaz do ser humano caído (Mt.26.41).

MULHER QUE TRABALHA FORA

Paulo Zifum

Ela avalia um campo e o compra; com o que ganha planta uma vinha. Entrega-se com vontade ao seu trabalho; seus braços são fortes e vigorosos. Administra bem o seu comércio lucrativo, e a sua lâmpada fica acesa durante a noite. Nas mãos segura o fuso e com os dedos pega a roca. Acolhe os necessitados e estende as mãos aos pobres. Não receia a neve por seus familiares, pois todos eles vestem agasalhos. Faz cobertas para a sua cama; veste-se de linho fino e de púrpura… Ela faz vestes de linho e as vende, e fornece cintos aos comerciantes. Reveste-se de força e dignidade; sorri diante do futuro. Fala com sabedoria e ensina com amor. Cuida dos negócios de sua casa e não dá lugar à preguiça… A beleza é enganosa, e a formosura é passageira; mas a mulher que teme ao Senhor será elogiada.
Que ela receba a recompensa merecida, e as suas obras sejam elogiadas à porta da cidade.

Provérbios 31:16-31

Algumas mulheres, além de cuidar do bom andamento do lar, são empresárias e profissionais liberais. Deus as capacitou para desenvolverem atividades públicas cujo papel social é reconhecido. O texto nos fala de uma mulher executiva que administra uma vinha e uma confecção. Com seu ganho faz caridade. E sua habilidade não é destacada apenas no comércio, o texto nos que ela também ensina, talvez capacitando outras mulheres. E, por fim, há um destaque para a uma “conduta honesta e respeitosa… cuja beleza não deve estar nos enfeites exteriores, como cabelos trançados e jóias de ouro ou roupas finas. Pelo contrário, esteja no ser interior, que não perece, beleza demonstrada num espírito dócil e tranqüilo, o que é de grande valor para Deus. Pois era assim que também costumavam adornar-se as santas mulheres do passado, que colocavam a sua esperança em Deus.” 1 Pedro 3:2-5

E, o notável é que, embora sejam mulheres ocupadíssimas, conseguem arrumar tempo para ir ao salão de beleza. Elas são, de fato, notáveis. Feliz o lar e sociedade dirigido por mulheres assim!

TEOLOGIA APLICADA- ABORTO

Paulo Zifum

O aborto é a interrupção da gestação, podendo ocorrer de modo espontâneo ou forçado. Sendo causado, precisa ser feito por profissionais da área de saúde, por ser um procedimento que oferece risco para a mulher. O aborto feito para salvar a vida da gestante sob risco iminente de morte, não cria dilema ético. O problema surge quando a interrupção é realizada por se julgar a gravidez indesejada.

Quando entramos no campo da liberdade individual ou das limitações estruturais da vida humana, o tema ético se torna mais complexo. E, embora o aborto seja polêmico, parece não ser difícil para a lógica liberal defini-lo de modo simplista. A teologia filosófica também não encontra dificuldade em definir o assunto.

LÓGICA LIBERAL: O mote “meu corpo, minhas regras” define o que os liberais pensam, não apenas sobre o aborto, mas sobre sexualidade e outros temas que envolvam a liberdade individual. Uma mulher pode interromper a gestação caso a considere indesejada. O feto ou bebê é uma jurisdição apenas dela e não da humanidade. Não é um assunto público, é um foro íntimo. Não tem uma lei definida e a alegação vai desde a obstrução dos planos pessoais até a idade da gestante. Nessa lógica não há necessidade de justificativa. LÓGICA DA VÍTIMA: A mulher grávida em decorrência de estupro, pode alegar-se incapaz de prosseguir com a gestação. Nesse caso, há um sofrimento psicológico e social que pode tonar publicamente plausível o aborto. LÓGICA DA ESPÉCIE: O feto ou bebê não nascido, não deve ser considerado um ser humano com todas as suas prerrogativas.

TEOLOGIA FILOSÓFICA: O aborto como ato de tirar uma vida indefesa não tem justificativa. Nessa perspectiva, o aborto é um crime, salvo seja possível provar que um feto humano não é um ser humano. O argumento usado pela Suprema Corte dos EUA em 1974 (caso Roe contra Wade) de que o aborto só deve ser proibido quando a vida for viável (bebê que já pode viver fora do útero), ou seja, enquanto depender, não deve ser considerado plenamente humano. Esse argumento do “não viável” foi usado por povos da antiguidade para eliminar crianças que nasciam com algum defeito (algumas tribos indígenas praticam essa seletividade até hoje eliminando bebês gêmeos ou defecientes).¹ Porém, a definição do ser humano, desejado ou não, não pode ser reduzida nos termos de sua autonomia. Quando um doente se encontra dependente de aparelhos para viver, busca-se soluções para devolver sua autonomia e, mesmo em estado vegetativo, a dignidade humana é mantida, não negada. O coração de um feto começa a bater pouco depois de completar duas semanas de gestação, o que sinaliza que sua autonomia é uma questão de tempo. Logo, a interrupção da gestação caracteriza matar uma vida em curso. O aborto transgride o 6º mandamento “não matarás” (Ex.20.13).

¹https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/infanticidio-indigena-o-conflito-entre-o-direito-a-vida-e-o-direito-de-protecao-a-cultura/

MARIA VAI COM AS OUTRAS?

OPINIÃO | Somos a média das pessoas que convivemos porque somos  influenciáveis.

Paulo Zifum

Em sua obra Rumor de anjos: a sociedade moderna e a redescoberta do sobrenatural, Peter L. Berger afirma que um dos pressupostos fundamentais da sociologia do conhecimento é que a “plausibilidade” das ideias que as pessoas realmente acham dignas de fé depende do suporte social que essas ideias recebem” Inteligência Humilhada, pág.277

Aprecio as denúncias contra nossa hipocrisia e, nada pode ser mais útil contra o autoengano que uma verdade irrefutável. E quando ouço alguém dizer que não liga para o que outros pensam, é porque encontrou outro grupo para lhe dar suporte. E a verdade é que todos nos importamos com a validação das pessoas. Até Nietzsche, por mais indomável que fosse, tinha seu ponto social fraco. O valente pode declarar-se independente como Nabal, mas ninguém está imune ao revés social (1Sm.25.36-27).

De certo, algumas pessoas vão muito facilmente com as outras, como seres sem identidade, mas a maioria tenta manter um pouco de dignidade em suas opiniões. O constrangedor é que nos sentimos mais seguros de assumir com um número razoável de pares e, nos perdemos na plausibilidade social.

A pandemia está sendo um dos maiores palcos da peça “Maria vai com as outras”. As pessoas já nem ficam rubicundas de tanto que mudam de lado. E, quando mudam não se desculpam nem se retratam, porque Maria, vai com a maioria. O ser humano, com raras exceções, leam suas crenças até as últimas consequências. A maioria faz apologia em grupo, a partir de um suporte social. E qual o fato? É que o homem caído é fraco.

QUANDO DEUS NOS EMPURRA

Paulo Zifum

Depois de estudar quatro anos integralmente no Seminário Bíblico Palavra da Vida em Atibaia-SP, eu e minha família aceitamos o convite de pastorear uma pequena e amada igreja. Foi-nos cedida uma casa num subúrbio de estética nada atraente e pouca limpeza das vias públicas. Estávamos dispostos a servir ao Senhor e nosso coração cheio de certeza de que ali era nosso lugar. Fizemos o melhor que podíamos para arrumar a casa e evangelizar as pessoas daquela vizinhança. E foi o que fizemos, nos aproximando, fazendo amizade, visitando e as levando para a igreja. Porém, depois de um tempo, desejei providenciar um lugar melhor para minha família.

Certa dia, um primo me ligou e perguntou sobre meu ministério e disse que gostaria de enviar ofertas mensais para nos ajudar complementando nosso sustento financeiro Quando os primeiros depósitos generosos chegaram, entendi que era uma provisão divina para que mudássemos de bairro. E foi uma das mudanças mais agradáveis que fizemos. O novo lugar era excelente, perto da praia e com um bom comércio próximo. Foi uma grande alegria.

Dois meses depois de mudarmos para a nova residência, meu primo não mandou mais a ajuda e não conseguíamos nem contato com ele para agradecer. Eu e minha esposa, ao nos unirmos em oração preocupados com os gastos assumidos, percebemos que Deus havia usado aquele parente para nos mover para uma nova experiência de fé. Confiamos na provisão de divina e nada nos faltou. Sabíamos que, de outra forma, não teríamos coragem para mudar.

Algumas mudanças em nossa vida não conseguimos pensar, e se sonhamos, não sabemos racionalmente como realizar. Por vezes, estamos acomodados ou presos em limitações, por vezes estamos com mal orientados, então, Deus age movendo pessoas, circunstâncias para nos ajudar a avançar ou recomeçar.

Os que areditam na providência divina, se resguardam de murmurar ou desesperar diante da fatalidade, da falha, fracasso ou contingência. Mas, os filhos de Deus que não atentam para essa soberania divina, ficam inclinados a pensar que estão entregues a si mesmos no mundo. Porém, a doutrina bíblica confirma o cuidado do Pai celeste, dizendo que Ele age em todas coisas para o nosso bem, e a Bíblia nos conta várias ações divinas nesse sentido.

Um dos casos interessantes é o caso de Ló descrito no livro de Gênesis. O sobrinho de Abraão, como todos nós, estava dentro de um processo de aprender a relacionar-se e ouvir a Deus. Diferente de seu tio, Ló tinha um pouco mais de dificuldade de perceber como pessoas e circunstâncias nos empurram para mais perto de Deus. Ló havia tomado a sábia decisão de seguir seu tio na radical mudança de vida saindo da próspera cidade de Harã para peregrinar pela fé. Mas, quando ocorreu o primeiro conflito, Ló se separou do tio sem perguntar se aquilo não era uma oportunidade de unir-se mais a ele (Gn.13.5-13). E novamente, Deus providencia outra circunstância para que Ló voltasse a unir-se a seu tio, mas Ló estava convencido de ser capaz de viver distante e inpendente (Gn.14.8-16).

Ló, era amado por Deus, e o Senhor sabia de sua aflição de alma por viver num lugar cheio de maldades e impiedades (2Pe.2.7), porém o pobre homem não conseguia mudar o destino tomado com orgulho, anos antes. Ali, em Sodoma, Ló tinha muitos bens e empreendimentos. Estava preso e triste.

Quando parecia que tudo terminaria desse jeito, aparecem na cidade dois homens distintos. Ló percebe a nobreza deles e sem vacilar oferece hospedagem e proteção aos forasteiros, sem saber que eram anjos (Hb.13.2). E, foi naquela noite que Ló deve ter se conscientizado que, de fato, estava morando num lugar horrível e que precisava tirar sua família dali.

Sob a ordem de que deveria mudar-se imediatamente daquele lugar, os anjos começaram a “apertar” Ló para que saísse (Gn.19.15). Porém, Ló não conseguia atender a ordem. Ele estava preso, talvez querendo reoslver pendências, diminuir perdas financerias, juntar bens. Então, “como se demorrasse, pegaram-no os homens pela mão, a ele,a sua mulher e duas filhas, sendo-lhe o Senhor misericordioso, e o tiraram, e o puseram fora da cidade” (Gn.19.16).

Deus nos ama.
E, por vezes, seu amor nos empurra.
Na maioria das vezes, convida.
Muitas, orienta.
Outras, atrai com novidade,
permite dores e dificuldades,
força com perigos, e,
não sendo possível de outro modo,
pega firme pela mão,
salva, muda, tira da confusão.
Seja para viver outra vida aqui,
ou para nos levar definitamente para si.

*Ló já era idoso quando seu segundo resgate ocorreu. Deus nos ajude a perceber suas ações antes que “se quebre o cântaro junto à fonte de desfaço a roda junto ao poço” (Ec.12.6).