Paulo Zifum
Educar filhos é tarefa da família. E a família, como esfera interdependente de outras esferas, aceita ajuda do Estado e da Escola. Porém, o que se vê são pais e mães reféns das instituições de ensino, quando deveriam ser avaliadores dos serviços por elas prestados. Mas, se as famílias não conseguem avaliar os resultados de sua própria tarefa interna, como analisará o que a Escola faz?
O propósito deste texto é ajudar os pais cristãos a fazerem um breve revisão na qualidade da educação que oferecem a seus filhos. Essa avaliação deve ser feita segundo a Bíblia, pois é a Palavra de Deus em sua base teorreferente¹ que pode, de modo efetivo, conduzir o ser humano caído ao ideal original desejado pelo Criador. E em discordância com as Escrituras, toda educação é considerada uma rebelião contra Deus. Por isso, é preciso certificar-se que a educação oferecida é, de fato, baseada no ensino bíblico. Entretanto, é necessário lembrar que não estamos sendo simplistas dizendo que basta despejar conhecimento judaico-cristão, pois é sabido que um currículo pode ser maravilhoso, mas ter método de transmissão e consolidação ineficaz. E compreendemos “ensino eficaz” aquele que é composto de modelo exemplar (a vida do educador ou a mostra social), pressupostos e objetivos claros (conteúdo racional ou suprarracional) e regras de avaliação que sejam morais e justas, coerentes com os objetivos declarados.
ESFERAS AUXILIARES OU CONCORRENTES
Como dissemos, o Estado e a Escola podem invadir as competências impondo um currículo contrário às crenças da família cristã. Nesse caso, deve-se protestar. E, não apenas opor-se, mas buscar diálogo de modo que as esferas sejam auxiliares e não concorrentes.
Sabemos que os governos humanos se desequilibram perdendo freios e contrapesos sociais quando um grupo concentra poder em excesso. No caso do Brasil, há décadas o Estado tem se tornado cada vez maior assumindo competências fora de sua esfera, interferindo diretamente na vida privada dos cidadãos. Especificamente, na área da Educação, o Estado por meio do MEC passou a determinar o que as crianças devem ou não estudar. O problema é que, por maior boa intenção política que possa haver, a educação nacional não pode ficar nas mãos de uma elite intelectual apenas. E o mais perigoso é que o grupo que propõe o currículo é o mesmo que o avalia. No caso do Brasil, os políticos de esquerda conseguiram, por diversos meios, criar uma minoria majoritária (nos campos da política, da mídia e do judiciário) que, uma vez no poder de decisão do MEC, implantam uma educação para modificar e moldar a maioria passiva da população.
E parece que essa maioria não está interessada em saber sobre as numerosas pesquisas nacionais e internacionais que afirmam que o sistema de ensino brasileiro é considerado um dos mais ineficientes do planeta. O Brasil ocupa o 53º lugar em educação entre 65 países avaliados pelo Pisa. Ou seja, o país investe altas quantias em inclusão de alunos nas escolas, de facilitação no acesso, mas peca em oferecer um ensino de qualidade. Até 2019, o Brasil sequer topava participar do principal teste internacional para medir o analfabetismo funcional: o PIRLS (Estudo do Progresso Internacional da Alfabetização). Os alunos brasileiros apresentam dificuldades inaceitáveis no domínio de temas básicos da língua portuguesa e da matemática. Crianças e adolescentes frequentam aulas, mas não conseguem interpretar textos ou desempenhar raciocínio lógico elementar.
Segundo os dados de 2011 fornecidos pelo Instituto Paulo Montenegro:
- 27% dos brasileiros são analfabetos funcionais, ou seja, sabem ler, mas não compreendem o sentido daquilo que leem. Há estudos recentes que apontam a elevação dessa taxa para 33%;
- 40% dos estudantes do ensino superior são considerados analfabetos funcionais.
Parte considerável desse fracasso foi identificada na política de ensino adotada pelo viés de esquerda de sucessivos governos no Brasil. No Governo Dilma, por exemplo, criou-se o slogan Pátria Educadora com um programa carregado de ideologias contrárias à família e aos métodos pedagógicos tradicionais. Em 21 de abril de 2021 o governo aprova a Lei nº 12.612, na qual tornou o educador Paulo Freire patrono da educação brasileira. A Pátria Educadora elege as ideias de um intelectual comunista de intenções educacionais marxistas² para formar os professores e, esses educarem todos os alunos da rede pública e privada. E o que seria ensinado?
Em seu livro Pedagogia do Oprimido, Paulo Freire elogia Fidel Castro, Che Guevara, Mao Tsé-Tung, Lenin e as revoluções comunistas que, historicamente, derramou sangue inocente com esses líderes tiranos e assassinos. Freire promovia uma revolução socialista no Brasil por meio da subversão cultural de estudantes em prol do velho e refutado materialismo marxista. Suas ideias estimulam a revolta dos alunos diante da autoridade do professor e da família com demonização da autoridade paterna, que para Freire tudo era sinônimo de opressão. Qual o resultado? Polarização do ensino na ideologia em vez aplicação de pedagogias realmente científicas e calcadas em evidências empíricas, um nivelamento da relação professor-aluno abrindo uma escalada de falta de respeito no ambiente de ensino, uma indisciplina e falta de objetividade do estudo, ou seja, uma receita para se ter um ensino de má qualidade do ponto de vista dos resultados do desenvolvimento humano.
Com essa nota abrimos o debate para afirmar que o Estado invade competências e deseja ter o controle e monopólio do ensino. Por isso, as famílias cristãs não devem se omitir diante de abusos cujos resultados são desastrosos para seus filhos, pois isso seria abrir mão da tarefa dada por Deus. A família é a esfera da sociedade que forma cidadãos de consciência, moral e virtudes, de modo que a justiça e a bondade andem juntas no combate ao mal. O Estado e a Escola só devem interferir se, uma família em particular, esteja sabotando exatamente esses valores, mas jamais invadir a esferas de todas as famílias como se o Estado fosse o único ente capaz de educar.
O artigo 205 da Constituição diz: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. A lei fala que colaboração, não concorrência que destitua o poder da família. Em setembro de 2018 o STF, uma corte infelizmente de esquerda, julgou a causa de uma família na cidade de Canela, interior do Rio Grande do Sul, que resolveu entrar com um Mandado de Segurança pedindo que fosse reconhecido o seu direito líquido e certo — isto é, incontestável — de educar os seus filhos em casa. A corte não seguiu o voto de seu relator, o ministro Barroso, o que é incomum. Barroso afirmou que a Constituição Federal não apenas permite, mas garante a educação domiciliar. Ele próprio colocou alguns requisitos para a educação domiciliar, até que o Congresso Nacional fizesse uma lei específica para isso. Mas os ministros seguiram o voto do ministro Alexandre de Moraes que não negou a possibilidade da educação domiciliar, mas disse que a educação domiciliar não consta na Constituição Federal — que não a proibiu nem permitiu; para que ela seja oficialmente permitida e garantida, tem de haver uma lei federal. A família de Canelas perdeu a ação. Leia sobre Homeschooling no link abaixo.
https://www.brasilparalelo.com.br/artigos/homeschooling-permitido-no-brasil
Com isso não estamos dizendo que as escolas públicas ou privadas sejam ruins, mas, se essas instituições deixarem de ser auxiliares assumindo franca concorrência, ela se opõe à Constituição que pede “colaboração”. Essas instituições devem explicar às famílias, que é a base da sociedade, quando ocorre inserção de ideologias e resultados baixos no nível geral dos alunos.
O CONTEÚDO DA EDUCAÇÃO CRISTÃ
Com sua base nos pilares Criação, Queda e Redenção, os pais ensinam as razões porque devemos temer e amar a Deus. Esse ensino deve feito com exemplo e de maneira proposicional formal e informal (Dt.6.1-25).
Exemplo
A criança consegue perceber que os pais acreditam naquilo que ensinam. Se desejamos ensinar a nossos filhos que eles devem cultuar a Deus de modo exclusivo e inteiro, devemos mostrar em nossas vidas que Deus ocupa o centro de nosso coração. E os filhos sabem que seus pais amam ao Senhor por notarem que eles obedecem aos mandamentos. Os filhos de Noé viram que o pai andava com Deus porque a arca foi construída. Isaque temeu porque quando o Senhor pediu a seu pai que o sacrificasse, Abraão obedeceu. Esse fato é importante para se evitar que o “ministério seja censurado” (2Co.6.3) ou desacreditado por má conduta do educador, pois está escrito: “hipócritas, vocês exigem o que não fazem” (Mt.23.2).
Conteúdo
O conteúdo do ensino é a Lei e o Evangelho. Os pais devem ensinar a Lei moral do Antigo Testamento e o Lei da Liberdade e da Graça do Novo Testamento. Esse ensino deve ser feito de modo formal “assentado em tua casa” ou informal “andando pelo caminho” O ensino deve ser verbal e visual. Com base nos pilares Criação, Queda e Redenção, os pais ensinam que Deus, como criador tem o poder de determinar as leis sobre os homens, que o pecado da rebelião contra e lei divina tem consequências e que somente Cristo pode nos livrar da condenação. A Educação Cristã denuncia que todos os seres humanos são pecadores e precisam se arrepender e buscar a redenção em Cristo. A explicação do sistema sacrificial do Antigo Testamento e a apresentação de Jesus Cristo como cordeiro de Deus que tira do pecado do mundo é essencial. Portanto, ao ensinar os dez mandamentos o pecado é ressaltado e ao explicar a mensagem da Cruz a esperança é colocada no lugar certo. Por isso ressoa a exortação: “ensina a criança o caminho que deve andar” (Pv.22.6).
A DISCIPLINA
Pv.29.15]
O pressuposto de que todos são pecadores e que a natureza humana se inclina para o mal, mostra não apenas a necessidade de ensino, mas também de medidas corretivas que auxiliem o ensino. A desobediência deliberada é um ato de rebeldia contra um ordem clara e Deus, como Criador, sempre puniu sua criação rebelde. Ora, o castigo aplicado dentro de um processo educativo é um ato de amor e não vingança. A intenção é quebrar a vontade rebelde, pois “a criança entregue a si mesma” perde o autocontrole e começa a envergonhar seus pais (Pv.29.15). A Bíblia recomenda: “Não evite disciplinar a criança; se você a castigar com a vara, ela não morrerá. Castigue-a, você mesmo, com a vara, e assim a livrará da sepultura” (Pv.23.13-14). Impingir dor é um recurso dramático para a criança que ainda não possui juízo moral e precisa adquirir autocontrole por meio de sua consciência animal (autopreservação). Os que discordam desse princípio normalmente se baseiam na exceção composta por crianças que não precisam desse tipo de intervenção. Essa mostra ínfima nada se compara com a mostra que as escolas oferecem, onde a maioria das crianças e adolescentes são indomáveis. Ou seja, a regra é que o mundo é composto por pessoas cuja liberdade não quer limites, e isso em todas as áreas. O mundo já experimenta um nível de caos pelo fato de muitos crimes não terem o devido castigo, mas ainda existem leis que punem os infrator. Ora, é capaz que os que discordam dos pais aplicarem castigo físico nos filhos, também discordarem do sistema prisional do mundo. Mas, seria de esperar que os criminosos prefiram uma boa surra do que perder a liberdade. A ideia do castigo imediato é redimir a criança dando a ela a certeza de que a ofensa foi resolvida. E deve-se aproveitar a ocasião da disciplina para pregar o Evangelho para a criança, mostrando que em Cristo ela achará vitória para vencer o pecado que sempre acha um caminho para entrar na vida humana.
A CONVERSA INTENCIONAL
“Os propósitos do coração humano
são como águas profundas,
mas quem é inteligente
sabe como trazê-los à tona”
Pv.20.5.
Os pais sábios conversam com seus filhos, os estimulando a expor suas ideias. A estratégia, porém, não funcionará sem o devido respeito. Qualquer ser humano se fecha quando se sente intimidado ou quando nota falta de amor. Para manter aberta a porta do diálogo, pais cristãos devem amar seus filhos mostrando interesse sincero de compreender suas dúvidas e conflitos.
Perguntas inteligentes e honestas podem abrir portas do coração. Se os pais criam ambiente seguro onde os filhos conseguem abrir o coração e contar desejos, fraquezas, sentimentos de raiva, medo ou angústia, é mais fácil ensinar os princípios da Palavra. Pergunte a seus filhos sobre como foi o dia, o que acham da escola e dos amigos, o que os incomoda e o que os deixa tristes. É importante perguntar se há algo que acham esquisito no comportamento de alguns amigos. Nos dias de hoje, há sempre sugestões sobre uso de bebida, drogas, imoralidade aberta ou homossexualidade, mas poucos pais perguntam: o que você acha disso? Os pais reativos e moralistas, antes de ouvir, fazem discursos fortes que destilam insegurança e pouco argumento inteligente, mas os pais sábios conduzem a conversa com diálogo suave sem preconceitos, de modo que os filhos sentem que serão ouvidos. Alguns pais até deixam a conversa inconclusa para não desperdiçar a chance de continuar em outro momento. É importante pergunta se eles acreditam em Deus e na Bíblia e se não acham o culto enfadonho. Procure abrir portas para que, entrando saiba, de fato, o que seus filhos pensam. E ao descobrir algo preocupante, é natural demonstra certo espanto, mas jamais escândalo que sinaliza imaturidade, pois espera-se que os pais não se surpreendam tanto com o mundo que já conhecem.
CAUSANDO A CONFISSÃO PÚBLICA
Js.24
Rm.10.9
O ser humano se compromete com as crenças que confessa. E essa é uma forma eficaz de ajudar os filhos a assumirem compromisso consciente com ordens claras. Quando os pais ordenam para o filho distraído ir direto para casa da avó sem parar na praça, ele pode ficar calado e em seu coração dizer “não sei se vou ir direto”. Por isso, pedir que o filho repita a ordem é uma forma de ajudá-lo a comprometer-se. E insistir com a razão moral pode ajudar ainda mais, pois quando o filho diz: eu sei, não devo parar na praça porque nesse horário jovens mais velhos estão usando drogas, porque a Bíblia diz que as más companhias corrompem os bons costumes.
Confissão de Fé
Ajude seus filhos a definirem sua fé. Quando discursamos sobre algo, somos confrontados com nossas dúvidas e exigidos a sermos autênticos. Filhos pequenos devem recitar a Bíblia para moldar o coração, mas é na adolescência que o desafio surge. Por isso os adolescentes tendem a ficar calados para não se comprometerem. Mas, se o desafio for feito de modo respeitável, o jovem pode resolver e abraçar a fé. O mundo cerca nossos filhos de tentações para que eles desistam da fé. Pais prudentes reconhecem quando seus filhos não possuem convicções e, por isso, insistem que seus filhos sejam honestos. O método usado por Josué foi honesto, porque ele sabia que Israel não se desfazia dos ídolos numa demonstração clara de que a confiança não estava exclusivamente em Deus. Por essa razão, não por desrespeito, ele afirmou: -vocês vão abandonar o Senhor!. A afirmação de apostasia tirou as tribos do silêncio e da falsa neutralidade, e eles, envergonhados com a acusação, decidem atravessar aquela linha imaginária riscada por Josué. E Josué os força para obter deles a confissão por três vezes, o que garantia que estavam certos da decisão. Ao fim da sabatina, Josué faz a solene declaração: “sois testemunhas contra vós mesmos de que escolhestes ao Senhor, para o servir. E disseram: Somos testemunhas” (Js.24.22).
Mesmo com todo esse esforço, é possível que aqueles que confessaram em um momento (Mt.16.16-19) podem negá-la em outro (Mt.26.69-75). Porém, é exatamente a confissão que ajuda os desviados a voltarem para o caminho.
CULTO DOMÉSTICO
https://paulozifum.wordpress.com/2017/05/06/culto-domestico-e-a-10o-praga/
https://www.youtube.com/watch?v=4XCavdYlDcM
CONSELHO TUTELAR
¹Teorreferência é um conceito empregado pelo Dr. Davi Charles Gomes para indicar que Deus é o ponto de referência último de toda existência. Acessível em https://cpaj.mackenzie.br/wp-content/uploads/2018/11/6-A-metapsicologia-vantiliana-uma-incurs%C3%A3o-preliminar-por-Davi-Charles-Gomes.pdf.
² O fracasso do comunismo/marxismo, é claro do ponto de vista humanista. A ideia de uma sociedade igualitária e justa a partir do controle do Estado não funcionou em lugar nenhum onde esse sistema foi aplicado. Logo, uma breve e honesta revisão pedagógica descartaria essa proposta do currículo. Mas, quando os responsáveis pela educação não fazem revisão, podem condenar gerações inteiras à inutilidade pois todo aprendizado não conduz a resultados louváveis.