Paulo Zifum
Algumas situações com crianças precisam ser bem escritas para serem repetidamente contadas. Eis aqui uma delas:
“Então, lhe trouxeram algumas crianças para que as tocasse, mas os discípulos os repreendiam. Jesus, porém, vendo isto, indignou-se e disse-lhes: Deixai vir a mim os pequeninos, não os embaraceis, porque dos tais é o reino de Deus. Em verdade vos digo: Quem não receber o reino de Deus como uma criança de maneira nenhuma entrará nele. Então, tomando-as nos braços e impondo-lhes as mãos, as abençoava”
Marcos 10:14-16
Nessa pequena história há um mundo de lições.
PAIDAGOGOS
O texto não define quem eram os paidagogos (paidós+agogos), e isso, talvez, de propósito, de modo que pensemos na infinidade de pessoas que, em algum momento, podem ter uma criança sob sua influência ou supervisão (pai, mãe, avós, tios, irmãos, primos, babás, professores ou amigos mais velhos).
O destaque é que eles tiveram a ideia terna de levar as crianças para que Jesus, famoso por usar suas mãos para curar, as abençoasse. Talvez, fossem órfãos ou crianças cujas famílias não soubessem o quanto Jesus era especial.
NECESSIDADE BÁSICA
A maioria dos adultos imaginam quais são as necessidades básicas de uma criança. E, no texto o autor destaca um tipo de “conflito de política pública”. Um grupo achava que criança tem a necessidade de ser abençoada num sentido especial, separado. O outro grupo não considerava isso uma prioridade.
ADULTO MUITO OCUPADO
Os discípulos não estavam dizendo que não gostavam de crianças ou as achavam um estorvo. Provavelmente, as estimavam com afeto, porém julgaram que Jesus era um adulto muito ocupado em curar pessoas muito doentes e necessitadas. Ademais, o mestre tinha acabado de sair de uma exaustiva e tensa palestra sobre divórcio. As coisas de adultos são mais importantes.
CULTURA NEGATIVA
As pessoas são repreendidas por fazerem coisas boas. Às vezes, ninguém briga, mas também, não há elogios e encorajamento. Há pouco espírito de celebração nesse mundo duro. Os discípulos estavam pragmáticos e sentiam-se obrigados a impedir que um bando descontrolado de crianças esgotassem as energias do mestre.
VISÃO HOLÍSTICA
A relação com as pessoas dependem da visão que se tem delas e o texto provoca um contraste de opiniões. A visão que os discípulos tinham das crianças era curta, e, talvez, sofressem da miopia de nosso mundo hoje, cuja fixação por conforto, segurança e educação excluam a ministração da transcendência.
INDIGNAÇÃO
Jesus, como lhe era próprio “tomar sobre si nossas dores”, foi sensível aos paidagogos que tiveram sua tarefa frustrada. Imagine o constrangimento deles ao ouvirem uma criança de 6 anos perguntar: – Jesus não vai nos abençoar?
Jesus considerava os discípulos como crianças que precisavam aprender uma lição importante: -Todos são preciosos!
O texto fala de que Jesus ficou desapontado e externou sua indignação com fato dos discípulos terem um juízo de valor tão baixo das crianças.
EMBARAÇAR
A expressão “embaraçar” é muito boa. Posso privar alguém de um benefício porque acho desnecessário, e posso fazer isso de diversas formas omitindo informações e inventando teses (os adultos são muito bons nisso). Jesus ordena que os adultos não façam isso.
AFETO E ORAÇÃO
Bem, a maioria dos adultos é bem gentil com as crianças e as tomam nos braços, mas nem todos sabem orar e abençoar um pequenino.
ENTRAR NO REINO
O assunto dos discípulos adultos era político. A expressão “entrar no reino” tinha o contexto da ansiedade de que Israel fosse liberto da opressão de Roma. Jesus trazia esperança do irromper de um reino de paz e justiça, mas nem todos poderiam entrar nesse reino. Quando o mestre diz que a entrada em seu reino estava facultada às crianças e que os adultos deviam aprender esse modo, provavelmente, os discípulos adultos não entenderam.
Um mundo de lições!
*Foto: Leia o livro O Pequeno Príncipe para entender a razão dessa foto estar neste post.