Paulo Zifum
A ansiedade é um sentimento humano (como raiva ou medo). Como todo sentimento, é possível fixar-se a ele e ter uma vida caracterizada pelo que se sente. Pessoas ansiosas falam muito, perguntam muito ou tornam-se soldados que tem a espada colada na mão cujo entalhe é “esperar não é saber”. A ansiedade pode se tornar o piloto do comportamento, e, acredite, guiará a vida num caminho mais longo, gastando muito mais combustível.
Estar ansioso não ofende a Deus, posto que é uma limitação humana. O que desagrada a Deus é quando fazemos coisas, falamos coisas ou meditamos em coisas que nos caracterizam como pessoas que “não têm esperança, sem Deus no mundo” (Ef.2.12b).
Abraão tinha tudo para ser uma pessoa ansiosa e frustrada. Provavelmente já desistira do sonho de ter filhos porque ele e sua esposa eram idosos. Então, o Senhor Deus manifestou-se exclusivamente e deu a Abraão uma esperança para administrar: ser pai aos quase 80 anos (Gn.12.1-6). Com essa boa motivação, ele largou tudo e saiu para a aventura de realizar seu sonho. Porém, nada sabia sobre o prazo da promessa. A ansiedade seria sua companheira de jornada.
O anseio de casar, de comprar um bem, de realizar algo extraordinário, de ter uma linda família, de ver a justiça na terra, é bom, mas, a demora pode gerar sofrimento.
Quando Abraão completou 85 anos, estava muito ansioso e com medo. Esperava há dez anos pelo cumprimento da promessa. Para um idoso é um tempo desconfortável. Deus, vendo o estado de Abraão, senta-se com ele e o anima a continuar esperando (Gn.15), mas ainda não diz quando iria cumprir o prometido. O Senhor, em sua sabedoria, só revela o tempo das coisas quando saber faz bem. Na maioria das vezes, é melhor só esperar sem saber.
Há quanto tempo você espera algo? Sua ansiedade tem sido compartilhada em conversa com Deus? (1Pe.5.7). Há indícios de que sua espera está baseada numa promessa da provisão divina? Deus o tem animado a continuar?
Pois bem, nosso Abraão era sujeito aos mesmos sentimentos que eu e você. E quando a ansiedade invade a torre de comando, ordens novas surgem contra a esperança. Então, nosso herói sai para um plano alternativo e deita-se com uma de suas escravas. Essa famosa história de Gênesis, capítulo 16, é bem um retrato do que acontece quando a ansiedade assume o controle. Saímos para ajudar Deus. O esforço humano para realizar a história tem sido registrado tanto na Bíblia como nos anais seculares. Talvez você também já tenha também um Gênesis 16 em sua vida.
Abraão tinha 86 anos quando Ismael, o “filho da ansiedade”, nasceu. Ele deve ter percebido que Deus não se sentiu nem um pouco auxiliado. Depois disso, notamos que há um silêncio divino por 13 longos anos. Eu não sei você, mas para mim é muito tempo. Quando olho para minha vida, sinto a demora das coisas que espero. Sinto que demora chegar o que tanto peço e temo que nunca se realize. Sinto-me tentado a direcionar minha vida.
Deus voltou a falar com Abraão quando fez 99 anos (Gn.17). Dessa vez, Ele diz que Sara ficaria grávida (um reforço daquilo que deveria ser óbvio há 25 anos) . Dizem os leitores bem-humorados que Abraão, depois de ouvir que sua velhinha Sara ficaria grávida, ele se prostrou com o rosto em terra para disfarçadamente rir (Gn.17.17) . Deus, que também tem senso de humor, exigiu, então, que o nome do menino fosse Isaque (do hebraico, que significa riso). Deus, dessa vez, dá para Abraão um presente para seu centésimo aniversário. Era uma boa ocasião para laurear esse homem de fé, que havia sofrido de ansiedade.
Não sei você, mas eu não tenho dúvida: Esperar, demora! Acredito que a ansiedade é coisa da estrada. Acredito que uma pessoa de fé pode fraquejar sem, contudo, ser definida por seus momentos de ansiedade.
Entretanto, devemos cuidar quanto às expectativas que alimentamos. Conversar com Deus (que parecia uma prática na vida de Abraão) pode resolver os medos do coração. Deus tem firme compromisso com suas promessas e é poderoso para fazer “infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos” (Ef.3.20a), porém, apenas “conforme seu poder que opera em nós” (Ef.3.20b). E se Ele opera em sua vida numa certa direção, vai te animar a esperar como fez com Abraão.