MAIS FÁCIL

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Paulo Zifum

Cristão! É mais fácil viver perguntando a Deus o que fazer. Diga a Ele pela manhã sua disposição sincera de obedecer. Diga que quer ouvir: -Faça isso aqui. Peça um roteiro bem explicado, incluindo as palavras-chave com senhas. Solicite a ele orientação sobre o que você deve esperar, só para evitar a ansiedade. Esperar é uma submissão boa para quem quer agradar a Deus (e esperar nem sempre é saber).

Uma conversa pela manhã, cristão. Deus tem uma atitude muito positiva com os interessados.

 

BATER NOS FILHOS

Paulo Zifum

Lembro-me de meu pai puxando o cinto da cintura. Com pressa, com força. Enquanto ele segurava a fivela e a ponta do couro nas mãos, eu já estava julgado. A cena que se seguia era bem previsível. Eu chorava e prometia não fazer de novo. Mas, os movimentos de justiça não podiam mais ser freados. A execução era feita ao mesmo tempo em que a sentença era pronunciada. Em casa não tínhamos advogado de defesa para rebeldia e desobediência. Esses casos eram apenas condenados. A malandragem não tinha vez.

Graças a Deus cresci com a noção clara de que a natureza humana não quer limites e que, a criança entregue a si mesma, perde o senso de coletividade e acaba tornando-se uma peça social sem autogoverno. O ser humano precisa dos agentes da lei para inibir tanto sua preguiça para com a virtude quanto sua maldade para com o direito.

Não tenho trauma por apanhar na infância e não carrego culpa por bater em meus filhos. Porque  pais amorosos batem com senso de justiça e filhos bons apanham com o mesmo senso.

É possível que alguém tenha filhos tão submissos que jamais precise bater. Assim como é possível que um país tenha cidadãos que jamais precisam de radares, multas e presídios. Existem povos que são muito ordeiros e que rejeitam apetites egoístas. Mas, esse não é o retrato social comum.

Vamos falar de nossos filhos e parentes. Nunca na história desse país se fez tão necessário o cinto. Ou melhor, nunca foi tão urgente que cada criança brasileira tenha um papai e uma mamãe no estilo Moro. A educação de filhos hoje precisa de uma Operação Lava-Jato. E não para os pimpolhos, mas uma operação para punir pais por crime de responsabilidade, pelas “pedaladas educacionais” caracterizadas pelo ato de terceirizar a escola de caráter. Pais que não cumprem seu dever de casa (por preguiça ou filosofia de educar pelo mínimo esforço) deviam ser punidos.

Se eu pudesse fazer um movimento tipo “Vem pra Rua”, para o bem da nação, pediria a responsabilização dos pais, da mão que balança o berço ou da que não balançou. Há muito resultado social que é fruto de um tipo de “abandono do incapaz”. Há muito adulto que, embora a natureza, teria uma cosmovisão diferente se conhecesse o “poder do cinto” logo cedo na infância.

Infelizmente as imagens de uma boa surra, nunca são retratadas como um mal necessário. A mídia sempre mostra o lado excessivo e feio, porém, impingir dor ao infante é um remédio e um ato de redenção.

Posso ser acusado de retrógrado pelos liberais ou, um utópico pelos céticos, mas, sei que os cristãos conseguem ouvir esse clamor. Quanto à pedagogia de nossos dias, a única palavra que tenho é: Cinto, e muito!

*tela: Adão e Eva com seu filho Abel morto

QUANDO ESTOU SEM ELA

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Paulo Zifum

Uma sensação de que tenho o dobro do tempo para fazer várias coisas. Dá um certo frenesi, que é um tipo de alegria. Começo com pequenas contravenções, tipo não tomar banho. Depois vou espalhando as roupas como tapetinhos pelo quarto. São várias transgressões, desde tomar coca-cola de manhã até repetir a mesma cueca. Quando percebo que estou realmente sozinho e livre, então, faço a pior das maldades, vou ao supermercado comprar aquilo que realmente é bacana, como aqueles produtos caros. Depois começo a marcar compromissos e trabalhar tipo 18 horas por dia, tentando aproveitar o máximo, até a exaustão. Sim! Ali estava eu, um homem realizado, curtindo sua liberdade, trabalhando igual um celular de adolescente, comendo bobagens vendo TV, dormindo tarde e não arrumando nada. Ninguém pedindo para lavar o carro, nem consertar nada, nem colocar as coisas no lugar. Sim! Ninguém para conversar, ninguém para abraçar, ninguém para me esperar, ninguém para me receber. Sentei na cama com o controle numa mão e o celular na outra, pensei: Vou… pedir uma pizza. Sim! Não vou me entregar. Afinal: -Sou um homem ou feixe de capim? Eu sou capaz! Posso viver minha vida, repito, minha própria vida. Peguei e liguei: -Querida, eu quero que você volte pra casa.

AUSCULTAR

Paulo Zifum

Auscultar: identificar e diagnosticar os ruídos, aplicando o ouvido diretamente sobre a parte, ou utilizando um aparelho. Procurar saber; inquirir; investigar.

Para escutar não precisa prestar atenção. Ouvimos, mas nem sempre auscultamos. As pessoas falam sons do que pensam e tentam dizer o que sentem. São ruídos.

Uma coisa é ouvir a esposa, os filhos e os amigos, outra coisa é auscultá-los.

-Doutor, estou sentindo muito cansaço. Não tenho ânimo – o médico pega o estetoscópio para diagnosticar.

Quando pessoas falam ou quando calam, podemos encostar o ouvido diretamente sobre a parte. Procurar saber é um afeto, é um modo amoroso de detectar palavras. Quem grita ou explode, pode ter um dano por dentro: -Espera aí! Isso foi um som de algo furado!

E tem gente nervosa que jamais grita, mas os resmungosinhos revelam uma frustração escondida. Por que somos tão chatos? Por que algumas pessoas só falam de tristeza?

Você já auscultou um adolescente? Precisará de aparelhos muito bons para identificar o “chiado” do peito juvenil. Precisará de tempo e atenção para entender as mulheres. Precisará de discernimento cristão para auscultar televisão e perceber o ser humano agonizando num misto de violência, humor e sensualidade.

Eu não posso e nem quero ficar auscultando tudo. Ficaria louco. Porém, todos temos nossos “pacientes” e somos responsáveis por eles. Pois de médico e louco todo mundo tem um pouco.

auscultar

 

 

VAIAR É UM JULGAMENTO

Paulo Zifum

Vaiar, gritar, fazer barulho é algo divertido. E confortável, como emitir opinião anônima, porque multidão não tem rosto. Pode ser um julgamento justo, como vaiar o judoca egípcio que se recusou a cumprimentar o oponente israelita. A torcida ali estava correta. Porém, as outras centenas de vaias brasileiras só serviram para mostrar o quanto ainda somos um povo muito mal educado. O que seria um instrumento de juízo tornou-se a falta deste.

O brasileiro é prestativo e muito trabalhador, mas, é um “sem-noção” quanto a valores de respeito em público. Protocolos de relação com autoridade? O que é isso? Brasileiro respeita policial armado com um bloco de multa porque pode sair em desvantagem.

O comportamento deselegante com autoridades, representações e bandeiras tem sido um traço  nacional. A falta de polidez  vai desde o modo de dirigir-se a um funcionário público até o desdém com a presença ou passagem de um vereador, prefeito, governador, deputado ou presidente. Falta-nos nobreza nesse ponto.

As vaias “azarando” atletas oponentes revelam toda a nossa insegurança. Um atleta se prepara 4 anos para um momento solene de disputa e recebe vaias só porque está ameaçando a “medalhinha do brasileirinho”. É um jeito irresponsável e covarde de empurrar o time.

Morro de vergonha bem aqui em casa. A gente parece que não cresce.

 

 

ADMIRADOR SECRETO

Paulo Zifum

“E um jovem o seguia, envolto em um lençol sobre o corpo nu. E lançaram-lhe as mãos, mas ele, largando o lençol, fugiu nu” Mc. 14.51

Deus tem muitos admiradores secretos. É um tipo de  relacionamento que Ele aceita. Sim! Não rejeita. Deus é uma pessoa muito discreta com toda sua onisciência. Ele jamais nos espreita. Podemos gostar dele, mas sem conversar diretamente, só admira-lo, sem muita intimidade.

O mundo está cheio de admiradores assim. Tanto os temerosos que “devido aos fariseus, não declaram sua fé, para não serem excluídos da sinagoga” (Jo.14.42) como aqueles do tipo singelo que suspira por Deus com gratidão e anseio. Não são os mais esforçados, mas guardam o carinho para com Deus e o seguem, de longe.

Os admiradores secretos não estão prontos para confrontos com ateus ou extremistas. Para não negar a ideia de um Deus amoroso, fogem, desnudos no anonimato e  silêncio. Podem até ficar para o confronto, no esforço de provarem que não são secretos. Porém, antes que o galo cante, fugirão largando um outro tipo de lençol (Mc.14.54 e 72). E nem por isso, Deus se ressente desses. Ele conhece quem o admira de verdade.

O Senhor, tem seus métodos para fazer uma afeição secreta vir a público, como fez com Saulo (At.9). Ele pode preparar um confronto e estabelecer um encontro. Todos os dias isso acontece. Milhares de filhos e filhas experimentam o que Agostinho descreve:

Eu te procurava do lado de fora. Tarde, muito tarde, te amei. Ó beleza tão antiga e tão nova! Teu grito rompeu minha surdez

Muitos admiradores colecionam pensamentos de fé, falam de Deus como súditos, frequentam reuniões de cristãos, participam de atividades e chegam até a liderar admiradores, porém, ainda não ficaram a sós com Deus. Estão na multidão vestidos com um lençol, cuja afeição ainda é muito secreta.

Deus os conhece bem, e os ama também.

 

QUANDO A GENTE NÃO DÁ CONTA

Paulo Zifum

Você não pode me seguir agora.                          -Por que não posso segui-lo agora?                              Jo.13.36-37

A vida cristã é assim! Conseguimos seguir o Senhor até certos pontos, porém, alguns lugares parecem limites para nossa fé e nosso amor. E o Senhor nunca fica decepcionado. Ele conhece até onde podemos ir e sabe exatamente onde podemos fracassar.

Infelizmente, a Igreja não lida bem com essas verdades. Líderes e liderados “viajam” na ideia de que todos os cristãos conseguirão subir até o Calvário juntos. Ledo engano! Alguns vão fugir dos guardas no Getsêmani mesmo. Outros, podem até cortar uma orelhinha aqui e ali, mas não aguentarão a pressão até o fim. Pedro até puxou a espada, mas antes do galo cantar, já tinha dado o maior vexame. Ele não queria ser deixado pra trás, não queria perder, fraquejar ou desistir. Mas, não teve jeito: “ficou de dp”.

Não. Não damos conta de todos os desafios do Evangelho. Existem horas em que a gente quer “voltar pra casa”, como fez João Marcos (At.13.13) abandonando a tensão missionária com o apóstolo Paulo (carga explosiva).

A Igreja é como um grupo de encorajamento pré-Calvário. Todos sendo orientados para “negar a si e tomar a Cruz”. Pense nos crentes como uma brigada de infantaria de paraquedistas. Soldados com meses de treinamento, para que, na hora certa, pulem do avião e saibam o que fazer, como: Pedir perdão, perdoar a agressão, pregar para o patrão e para a carne dizer: não. Ser jovem na contramão, ser esposa com submissão, ser filho sem resmungão, ser bom em secreta oração.

Porém, assumir todo o risco desse viver cristão, às vezes, não dá, não.

E o Senhor sabe, e com amor diz: “Você não pode dar conta agora! Mas, ainda  vai conseguir”.

Isso deve nos levar a duas considerações finais:

1-Quando você não der conta de ser cristão,  e parar aqui ou ali, não pense foi o fim. Depois do canto do galo, vindo a vontade de chorar, você irá acordar e ver o Senhor te olhando com amor. Retome seu treinamento. Olhe bem firme e diga: -Essa cruz é minha!

2-Seja legal e encorajador com os que, na hora de pular, desistem. Se alguém a seu lado disse: “passe de mim esse cálice”, fique ao lado e ore junto sem julgar. Não queira ser simplista dizendo: Bebe isso aí, irmão!

Dê força sem empurrar.

Cada um de nós, de modo particular, ouvirá o Senhor dizer: “Você não pode me seguir agora”.  E cada um, também, deve crer, que isso é só por hora.

A FEIURA DAS CASAS

Paulo Zifum

Algumas cidades não são apenas injustas, elas são feias. Quando passamos pelas ruas e construções podemos perceber claramente a ausência de beleza estética. À medida em que adentramos para o centro podemos notar uma total falta de vontade em arrumar ou concluir as casas. Milhares  de obras se acotovelam sem harmonia, compondo um conjunto brega de portas e janelas. A feiura nega a moradia. Seres humanos são preciosos e não combinam com algumas cidades.

Se a boca fala do que o coração está cheio, a estética segue o mesmo sentido. Seria a feiura das cidades um reflexo da alma? Seria a confusão e falta de padrão uma prova do relativismo e desencanto humano?

Não há dúvida que precisamos tanto de beleza quanto precisamos de pão. Porém, o pobre torna-se mais oprimido quando a ele é dito que sua cesta básica é só arroz e feijão. E mais cruéis tornam-se os promotores da indústria quando convencem os menos cultos a acharem que é status ter tecnologia sem ter uma casa bem acabada.

O ponto de ônibus é feio, as ruas são feias, o prédio da empresa é feio, e ambiente de trabalho é feio. E o que impõe aos trabalhadores a feiura, contribui para ideias feias, religião feia, amor feio, móveis feios, casas feias e prédios de igrejas nada belos.

Há um mau gosto imposto e a classe proletária tem sido acusada de produzir sujeira. Mas, quem pode fechar os olhos para a injustiça, cujo o efeito colateral é a feiura?

A beleza tem poder redentor sobre a sociedade. O ser humano precisa ver o belo para ser transformado. John Gruchy em seu ensaio sobre a “estética dentro de um mundo de feiura” faz menção da visão do profeta Isaías. Ver a Deus, ou a glória dele, causa transformação. Isaías descreveu a beleza e depois procurou adequar-se a ela, colocar-se em seu lugar (Is.6). A beleza carrega mensagens de ordem, verdade e bondade.

A feiura presente na arquitetura deve incomodar os cristãos que se preocupam com a redenção das pessoas. Oferecer um banho e roupas limpas ao mendigo faz parte da preocupação que o amor tem com a estética. O avanço do Evangelho nas cidades não pode deter-se numa afirmação da verdade separada da beleza.

Alguém pode pensar: De que adianta estar bonito por fora e podre por dentro? Sim. A hipocrisia é uma das piores feiuras. Porém, é de se esperar que a casa dos cristãos reflita a beleza de  Cristo. O cristianismo redime a estética.

Esse assunto pode parecer tão pequeno, mas, se prestarmos atenção ao andar pelas ruas, poderemos constatar que estamos desprezando demais a questão.